sexta-feira, 11 de maio de 2018

Muito obrigado, mãe!


Um episódio muito marcante da minha infância aconteceu na mais tranquila normalidade, na residência em que vivíamos, numa pequena cidade do interior paulista. Eu e alguns amigos havíamos tentado empreender uma obra dessas mirabolantes: construir uma casa de madeira numa mangueira muito alta que havia no quintal da minha avó. O resultado, é claro, foi frustrante. A pouca idade dos “construtores” e a ausência de ferramentas e material apropriado fez com que o projeto não fosse adiante.

Voltei à casa furioso. Minha mãe estava costurando – embora ela fosse professora de profissão, sempre costurou magnificamente bem – e, logo que me viu, perguntou o que havia acontecido. Contei a ela o nosso fracasso. Imediatamente ganhei um carinhoso abraço e um beijo, com a promessa de nos ajudar da próxima vez. Na época, eu já tinha o conhecimento suficiente para concluir, com toda certeza, que ela jamais poderia nos ajudar em tal empreitada. Mas isso não importava, aquele afago carinhoso e cheio de compreensão serenava os ânimos e nos enchia de paz e de alegria.
Não sei o motivo, mas quando me lembro dessa cena, vêm à memória outra que me ocorreu, dessa vez com o meu pai. Aguardava o seu retorno, pois era a véspera do primeiro dia de aula no então chamado ensino primário. Ele me traria uma mochila. Ao escutar os seus passos, fui logo ao seu encontro, ansioso pelo presente. Meu pai, no entanto, fingiu ter se esquecido. Mal notou a minha frustração, porém, pegou-me no colo e, apertando fortemente contra o seu peito, disse-me: “acha que me esqueceria disso, filho!”. E logo em seguida mostrou-me onde havia escondido o embrulho.
É inevitável comparar as duas cenas. O abraço da mãe é macio e terno. Comunica-nos acolhida e serenidade... Já o colo do pai é mais duro e nos enche de segurança e proteção... É difícil de explicar, mas é inegável que são diferentes. E se me perguntasse então (e agora) qual dos dois prefiro, por certo responderia: os dois.
Isso me faz lembrar as palavras do Papa Francisco: “Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso. (...) ambos contribuem, cada um à sua maneira, para o crescimento duma criança. Respeitar a dignidade duma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai” (AMORIS LÆTITIA, n.172).
Certa vez, um pai, indagado se participava da educação dos filhos, respondeu mais ou menos assim: “sim, claro! Eu ajudo a minha esposa com as crianças!”. A resposta, porém, deveria causar espanto: “ajudo?”. Ajudar significa cooperar com algo que compete ao outro. Acontece que a educação dos filhos é atribuição de ambos. Do mesmo modo que os dois cooperaram com a nobre missão de gerar uma nova vida, ambos igualmente devem se envolver ativa e profundamente nessa árdua, mas ao mesmo tempo maravilhosa tarefa de formar esses seres que trouxeram ao mundo.
Mas hoje e sempre nos cabe homenagear as mães. Para isso, voltamos às palavras do Papa Francisco tiradas da mesma encíclica: “as mães são o antídoto mais forte contra o propagar-se do individualismo egoísta. (...) São elas que testemunham a beleza da vida. Sem dúvida, ‘uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. As mães transmitem, muitas vezes, também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende (...). Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. (...) Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo” (n. 174).

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