domingo, 31 de dezembro de 2017

Ano Novo, Luta Nova

Inicia-se um novo ano! Sempre achei interessante deter uns minutos a considerar as felicitações que recebemos nessa época. Outrora recebíamos cartões de natal, agora substituídos quase totalmente pelo whatsapp ou pelo Facebook. Mas ainda que mudaram radicalmente os meios de comunicação, o conteúdo das mensagens permanece essencialmente o mesmo: que sejamos felizes e que tenhamos saúde e paz. Mas o que nos cabe fazer para alcançarmos tudo isso que nos desejam?
Penso que a indagação é relevante, pois sempre corremos o risco de pensar que essas coisas boas a que tanto aspiramos dependem exclusivamente da sorte, das conjunturas externas ou das pessoas com quem convivemos. Com isso, não nos detemos a considerar o que nos cabe fazer para alcançarmos a felicidade e a paz a que tanto aspiramos.
De fato, ter ou não ter saúde de não depende exclusivamente de nós, mas de muitos fatores em relação aos quais temos pouco ou nenhum controle. No entanto, estará sempre ao nosso alcance sermos felizes e nos mantermos em paz por piores que sejam as circunstâncias por que passam as nossas vidas.
Já se disse que a alegria está para nós como a bússola está para as embarcações. São um sinal de que estamos no caminho certo. Todos nascemos com uma missão a cumprir nesta vida. Assim, se orientamos os nossos pensamentos, desejos, afetos e ações no sentido de cumprir essa missão, a consequência será que manteremos um estado de perene alegria.
Essa alegria, sinal inconfundível de caminhamos para o verdadeiro fim para o qual fomos criados, não é um mero sentimento passageiro, semelhante à euforia de que desfruta um animal sadio e bem alimentado. É algo mais profundo, o estado habitual da pessoa. Talvez já tenhamos a grata satisfação de conhecer uma pessoa que está habitualmente alegre. É provável que a vida não lhe tenha poupado dores e sofrimentos, porém, souberam superar a todas essas dificuldades com ânimo sereno e com sentido positivo.
Nesse sentido, quando nos desejam – e nós também aspiramos ardentemente – a alegria e a felicidade, estejamos certos de que 2018 não nos trará isso “automaticamente”, como num passe de mágica. Cabe a cada um de nós assentar as bases nas quais elas poderão ser edificadas. E esse fundamento sólido sobre o qual podemos construir são as virtudes: fé, amor, esperança, justiça, fortaleza, prudência, temperança etc.
E se tivermos dúvidas sobre em que aspectos do nosso caráter devemos empreender maiores esforços para progredirmos, talvez nos sirva de ajuda pensar sobre como nos veem as pessoas que convivem conosco. Do que se queixam de nós as nossas esposas, os nossos maridos, os nossos pais ou os nossos filhos? Será que fomos muito ranzinzas e “reclamões”? Teremos perdido a paz com ninharias no trânsito, com as coisas da casa? Ou estaremos excessivamente preocupados com as dificuldades econômicas?
 Uma importante característica do bom navegante é a vigilância. Com efeito, é necessário corrigir prontamente os pequenos desvios de rota. Pois, se tardarem em fazê-lo, uma pequena diferença será o suficiente para que não cheguem ao porto. Algo de semelhante deveria ocorre conosco. As pessoas que, com o avançar dos anos se tornam ásperas, queixosas e pessimistas não atingiram esse estado de repente. Foi uma sucessão de vícios e defeitos não corrigidos que lhes levaram a esse deplorável estado da alma.
Mas sempre é tempo de corrigirmos os rumos da nossa alma. E uma boa estratégia de luta é começar com coisas pequenas. Lembro-me de um amigo que anotou na agenda pessoal um estranho propósito para um ano novo: “baixar a tampa do vaso sanitário após o uso”. Isso, porém, está longe de ser uma bobagem. Na verdade, ele havia feito uma lista das coisas que ele fazia e que agradavam ou desagradavam a esposa. E resolveu começar por essa...

São Josemaría Escrivá tinha como lema que repetia nessas datas: “Ano novo, luta nova!”. A frase, aparentemente singela, é de uma enorme transcendência. É que a felicidade e a paz a que tanto aspiramos depende de uma luta cotidiana para sermos cada vez melhores.

O natal em família

Em breve celebraremos mais um Natal. Nesta oportunidade gostaria de questionar ao leitor, ao mesmo tempo em que me faço a mesma indagação: que sentido tem essa festa para cada um de nós?
Após uma breve consideração, sentimentos e ideias um tanto confusas podem nos vir à mente diante dessa pergunta: confraternização, festa, família reunida, presentes, brigas familiares que tentamos superar, ou que se acirram ainda mais nesses dias etc.
Se meditarmos mais profundamente, porém, talvez cheguemos à conclusão de que se trata de um acontecimento que somente faz sentido se o celebrarmos com aquelas e como aqueles a quem amamos, se possível em família. Com efeito, salvo situações excepcionais, o Natal é um estar juntos, celebrando juntos aquilo que temos em comum: o amor mútuo.
E a razão disso remonta à origem dessa festa. No Natal celebramos o nascimento da pessoa de Jesus Cristo, que é a encarnação do Amor de Deus no meio de nós. E esse fato absolutamente singular na história da humanidade aconteceu no seio de uma família.
Isso explica por que desejamos tanto estar próximos àquelas e àqueles a quem amamos nesse dia. É como se o amor intenso e forte que unia Jesus, Maria e José se projetasse em raios de luz sobre cada um dos lares do mundo – independentemente da sua religião, ou ainda da ausência dela – inflamando em cada coração do anseio de compartilhar aqueles mesmos sentimentos que unia aquela Família em Belém.
O Natal é a festa da família. O conceito de família, porém, tem sofrido consideráveis modificações na história da humanidade, assim como constatamos diferentes modelos em cada sociedade. Modernamente se preconiza um conceito de família fundada exclusivamente no afeto.
De fato, a afetividade é fundamental nas relações familiares. Se contemplarmos a Sagrada Família facilmente notaremos um afeto intenso entre os Seus membros. No entanto, não é só isso que marca aquela união. Antes disso, lemos nos textos sagrados, José, outrora hesitante, não teve dúvidas em receber Maria como sua esposa. Vale dizer, selou com Ela um compromisso de amor.
Talvez por faltar esse componente do amor conjugal, qual seja, o compromisso, é que muitos laços familiares se fazem e se desfazem da noite para  o dia, com a mesma volubilidade do sentimento que vai e vem, quando não é alimentado pela vontade determinada e forte de se doar ao outro, por amor.
A vida em família passa por inúmeros percalços e dificuldades. Nem sempre será gostoso e aprazível chegar a casa. Não faltarão tentações – sempre falsas e enganadoras – de pensar que noutro lugar, talvez com outra pessoa, as coisas serão mais fáceis... É então que deve entrar em cena o sentido de compromisso, tão necessário na união conjugal.
As pessoas que se dedicam a práticas esportivas experimentam, após uma atividade intensa e penosa, uma aprazível sensação. Dizem os especialistas que isso ocorre porque o nosso organismo libera várias substâncias, como a endorfina, que promovem esse bem-estar. Algo de semelhante ocorre quando nos esforçamos para tornar mais agradável a vida das pessoas que convivem conosco. Passam as tormentas e as tempestades e eis que, subitamente, a paz e a alegria voltam a reinar no seio do lar. Na verdade, nunca as perdemos, ainda que tenham ficado por certo tempo ofuscadas pelo peso das dificuldades.
As festas celebradas em família, nesse contexto, são ocasiões para reacender esse amor que unem pai, mãe e filhos. Também aqui não há de faltar o esforço e o sacrifício, mas esses se farão acompanhar pela certeza de que tudo isso vale a pena.

A todas aquelas e aqueles que sabem amar aos demais com o coração, mas também com a vontade determinada de buscar o bem do próximo, tal como fizeram Jesus, Maria e José, desejamos um Feliz e Santo Natal.