sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Ensinando a Solucionar os Conflitos

No nosso último artigo falamos sobre as brigas dos filhos. O tema comporta diversos aspectos a serem considerados. Dentre eles, há um especialmente relevante, com sérios reflexos na vida familiar e social. Trata-se da capacidade de resolverem por si mesmos os conflitos que surgem nos relacionamentos humanos.

Talvez já tenhamos ouvido – com uma impensada aprovação – algumas frases ditas por professores, em especial da educação infantil: “se o amiguinho bater ou xingar, não faça nada, conta para a tia que a tia resolve...”. A estratégia, numa primeira análise, parece interessante. Em especial porque supomos que se a menina ou o menino for resolver diretamente o problema, irá simplesmente revidar a ofensa, o que poderá desencadear uma briga, talvez com consequências indesejáveis, sobretudo num ambiente escolar.
No entanto, com essa atitude reiterada, estamos passando a seguinte mensagem às crianças: não resolvam seus problemas, chamem alguém para resolvê-los. E essa pessoa chamada a resolver tais questões será, então, a professora, o professor, a mãe, o pai, o responsável por um brinquedo num local de diversões etc. Ou seja, cria-se uma cultura da “heterocomposição”, que consiste num método de solução dos conflitos em que um terceiro é chamado a intervir.
Por isso que muitos pais – e penso que também os professores – veem-se constantemente atormentados com frases do tipo: “pai, Fulano fez isso”, “mãe, ela me bateu”, “professor, ele pegou o meu brinquedo”. E, com o passar dos anos, muda-se apenas a pessoa incumbida de decidir. Quantas vezes se fica sabendo que a árvore plantada próxima ao muro da divisa incomodava o vizinho somente após receber uma notificação da Prefeitura? Quantas vezes ouvimos em audiência uma das partes indignadas: “mas ele sequer falou comigo antes de entrar com a ação! Poderíamos ter resolvido sem precisarmos estar aqui...”.
Os conflitos nos relacionamentos são oportunidades educativas porque permitem formar nas virtudes, em especial, na fortaleza e na prudência.
A fortaleza permite agir com firmeza diante das dificuldades e a ser constante na busca do que é bom e correto. Assim, é necessário aprender a resolver por conta própria os conflitos. Isso não quer dizer que se vá estimular a revidar as ofensas, físicas ou verbais. Ao contrário, devemos estimular nossos filhos e nossos alunos a dizer ao colega que o agride – com vigor, se necessário – que não concordam com a atitude do outro.
Para isso, será essencial também a prudência. Essa, ao contrário do que muitos pensam, não é um convite à omissão nem muito menos um estímulo à covardia. Ao contrário, ela nos dispõe a discernir em todas as circunstâncias o que é bom e o que é correto, assim como a escolher os meios justos e adequados para atingir determinada finalidade. Assim, por vezes convirá dizer ao agressor prontamente que o seu comportamento não é adequado. Em outras ocasiões, será necessário esperar um momento adequado, porém, sempre que possível, buscando uma solução diretamente com o outro, sem a interferência dos pais, professores, etc.
É inegável que, por vezes, será necessária a intervenção do educador. Aliás, a também a justiça é uma virtude de especial relevo, que se pode definir como a vontade constante e firme de dar cada um o que lhe é devido. Mas aqui a atuação dos pais ou dos professores deve-se dar num esforço criativo para fazer com que cada qual consiga colocar-se no lugar do outro. Basta observarmos por uns instantes o comportamento de muitos motoristas no trânsito para notar quanta falta faz essa atitude de pensar no outro...

Um dos grandes desafios de todo educador é ensinar a refletir sobre as próprias ações, escolhas e decisões. A estratégia para isso, evidentemente, varia de acordo com a idade. Porém, nunca serão pessoas verdadeiramente maduras enquanto não aprenderem a solucionar sozinhas os inúmeros conflitos que surgem em suas vidas.

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