Durante muito tempo o homem foi
considerado a cabeça da família. O Código Civil brasileiro de 1.916 expressamente
consagrava o marido como chefe da sociedade conjugal. As últimas décadas,
porém, foram marcadas por uma significativa mudança do papel da mulher na
família, no mercado de trabalho e em toda a sociedade.
Não há mais, portanto, uma
autoridade única na família. A mudança foi muito oportuna e veio a ressaltar e
enaltecer a imensa dignidade da mulher. No entanto, essa conquista traz também
um problema, que requer uma solução adequada. Para melhor compreendê-lo,
imaginemos uma empresa em que houvesse dois Diretores
Presidentes, ambos exercendo a mesma função, munidos dos mesmos poderes e sem
uma delimitação clara de atribuições de cada um. É muito provável, nesse caso,
que as situações de conflitos surgissem em breve, fazendo-se necessário estabelecer uma sintonia entre eles para
cada um exercer um papel definido de modo a que conseguissem juntos administrar bem o empreendimento.
De certo modo é essa uma grande
dificuldade das famílias hoje em dia. Marido e mulher assumiram o papel de
conduzir a família em igualdade de condições, porém, ninguém lhes ensinou como
gerir esse empreendimento com harmonia. E, para complicar ainda mais,
externamente, estão inseridos num contexto social que lhes sugere romper esse
vínculo diante da menor dificuldade que possa surgir.
Nesse cenário surgirma, em meados dos anos 60, na Espanha, programas destinados a ajudar os
pais a educarem os seus filhos e a melhorarem o relacionamento conjugal. Os
cursos oferecidos, baseados no método do caso, são uma ferramenta para promover
o diálogo sobre situações reais que possam surgir na vida do casal.
Com uma metodologia muito bem
pensada, proporciona técnicas para o casal aprender a raciocinar sobre as
questões conjugais e as relacionadas com a educação dos filhos com
objetividade, o que lhes permite, a partir de uma análise dos fatos relevantes
das suas vidas, encontrar a raiz dos problemas e, a partir disso, propor e
implementar soluções concretas.
Esse trabalho se desenvolveu e
ganhou uma dimensão mundial. Hoje a orientação familiar está em mais de 60
países, inclusive no Brasil. De modo a coordenar essa expansão foi criada uma
organização internacional, a International Federation For Family Development
(IFFD), que atualmente é membro com status consultivo geral perante a Comissão
Econômica e Social das Nações Unidas.
Os cursos de orientação familiar
exigem a participação ativa do casal. Um dos maiores desafios é que aprendam a
eliminar as ideias preconcebidas, os juízos precipitados e a superficialidade
na análise dos problemas. Chamados a refletir sobre situações concretas,
relatadas em casos propostos, o casal adquire a habilidade para olhar para a
realidade da vida familiar e conjugal com serenidade. Aqueles que desejarem e
se dedicarem a isso descobrirão que a felicidade própria, do seu cônjuge e
filhos é um dom muito precioso. Portanto, não é possível improvisar. O mundo em
que vivemos exige dos pais um profissionalismo maior que aquele que se espera
num mercado de trabalho extremamente competitivo.
Muito se fala atualmente em novos
modelos de família. Penso que dentre eles deveríamos incluir – e em posição de
destaque – a mesma família constituída sobre o compromisso forte, solene e
duradouro de um homem com uma mulher. A sua eficácia não mais estará assegurada
pela autoridade de nenhum deles, mas na harmonia que saberão estabelecer como
fruto de um diálogo eficiente e proativo. E o resultado disso será, com toda
certeza, a construção de lares luminosos e alegres, edificados com sacrifício,
zelo e perspicácia por homens e mulheres que sabem estabelecer metas ousadas e
têm a valentia de lutar para alcançá-las.
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