segunda-feira, 27 de julho de 2015

Aprender a descansar

Há quem se orgulhe de dizer que nunca tirou férias. E o fazem esperando que formem um conceito de si mesmo como de uma pessoa muito laboriosa, tanto que se dedica a trabalhar, anos e anos, sem uma interrupção sequer. Outros, talvez menos radicais, até admitem a necessidade de dedicar um tempo para o descanso, porém, não sabem exatamente como descansar ou o que fazer com o tempo livre.

É preciso considerar, porém, que o descanso, mais que um direito já quase universalmente reconhecido pelas leis trabalhistas, é também um dever. Trata-se de uma necessidade para cuidarmos da saúde, garantindo uma melhor qualidade de vida para nós e para os que nos estão próximos. Além disso, a família e as pessoas que dependem do nosso trabalho muito podem beneficiar-se dessa pausa periódica, na qual recuperamos as forças, para depois retornar às atividades habituais, com o ânimo renovado e novas disposições para trabalhar mais e melhor.
É curioso notar, porém, que o não saber descansar e não trabalhar bem são, muitas vezes, verso e reverso da mesma moeda. É impressionante como interrompemos nosso trabalho, inúmeras vezes ao dia, seja para responder a uma mensagem no WhatsApp ou para “dar uma olhadinha no Face”. E isso em quase todas as profissões, desde o servente de pedreiro num canteiro de obras até um alto executivo em seu escritório de trabalho.
Além disso, acostumamo-nos a fazer em nosso dia-a-dia primeiro as atividades de que gostamos mais, empurrando ou adiando aquelas que nos são menos agradáveis. Devemos considerar, porém, que a preguiça não se manifesta apenas em estar completamente à toa, sem fazer nada, mas também e principalmente em se fazer apenas aquilo que se gosta.
O descanso, igualmente, não é simplesmente não fazer nada, mas distrair-se com outras atividades que exigem menos esforço. Cada vez mais as pessoas se dedicam a atividades que as colocam em contato com a natureza, descobrindo nisso um meio bastante eficaz para aliviar o stress. Também os passeios culturais abrem novos horizontes, proporcionando uma bagagem de conhecimento que muito nos enriquecem.
Mas que as nossas férias, feriados, finais de semana e o tempo diário dedicado ao descanso sejam, principalmente, momentos de convivência, que promovam a família e a amizade. Como é triste – e infelizmente frequente – notar numa mesa de restaurante, ou nas refeições de família, que cada um se isola no seu smartphone, tablet etc., esquecendo-se do outro que está bem ao seu lado.
E o descanso não é, também, um tempo em que pensamos apenas em nós mesmos, cuidando apenas dos nossos caprichos e gostos pessoais. Quando dedicamos os nossos momentos livres para fazer o que agrada aos outros, curiosamente, revigoramos mais e melhor as nossas forças. Eis aqui também uma manifestação dos grandes paradoxos do amor: quando nos decidimos a não fazer apenas o que nos agrada para nos dedicarmos aos demais parece que estaríamos atirando fora a nossa alegria. Na verdade, porém, somente quando o fazemos é que a encontramos mais forte e duradoura.
Conheci a vida de um grande homem. Muitos dos que conviveram com ele, com o passar dos anos, sequer conseguiam descobrir quais eram as suas preferências de comida, esporte ou lazer, pois sempre se dedicava a fazer o que mais agradava aos seus irmãos e às pessoas que com ele conviviam. Ao imaginarmos uma pessoa assim, talvez nos ocorra pensar que fosse um personagem triste e carrancudo. No entanto, soube esbanjar ao seu redor uma inabalável serenidade e uma profunda alegria. E o seu maior segredo talvez tenha sido precisamente saber trabalhar e descansar sempre com os olhos postos nos demais, semeando abundantemente paz e alegria em todos os seus caminhos.

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