A revista britânica
“The Economist” trouxe como manchete da sua última edição que o mundo está indo
para a Universidade. Penso que a questão deve ser meditada pelos pais também
sob o enfoque das expectativas que mantêm em relação aos filhos. É muito
frequente que desde cedo sonhem com a sua formatura e que sejam bem-sucedidos
profissionalmente. Muitas vezes chega-se a desejar que sigam determinada
profissão e, é claro, nem cogitam a possibilidade de não concluírem um curso
superior.
Mas será que todos
são chamados a serem doutores ou pós-doutores em algo? Todos terão de cursar
uma Universidade? Mais ainda: a felicidade dos nossos filhos depende
exclusivamente do sucesso profissional e, por ora, dos resultados acadêmicos?
Penso que um dos
maiores desafios das mães e dos pais é considerar que cada filho é um ser
humano único e inigualável. Não há nenhum outro ser igual a ela ou a ele entre
todos os demais habitantes do planeta. Não se trata de simplesmente não
fazermos comparações entre irmãos. De fato, isso é extremamente ruim e
contraproducente na educação. Mas mais que isso, temos de considerar que o que
marca cada ser humano é a missão que lhe é confiada neste mundo.
Descobrir essa
missão e segui-la cada dia da sua existência é a única coisa verdadeiramente
importante na vida dos nossos filhos, e também na nossa. Para isso, no mais das
vezes, será necessário estudar por vários anos. Em muitos casos, convém que
cursem uma Universidade ou ainda que façam uma pós-graduação. Contudo, não é
isso, por si só, que lhes assegurará a realização pessoal e, com ela, a
felicidade.
Por isso, é
muito importante que os pais contenham a ansiedade por resultados acadêmicos.
Aliás, os pais são os únicos que deveriam reconhecer o esforço, muito mais que
o resultado alcançado. É que a escola, os amigos, os parentes, todos enaltecem
a nota dez, a aprovação do vestibular ou mesmo a vitória numa competição. Mas,
em geral, é necessário um coração de mãe e de pai para dar um abraço e um beijo
naquela filha ou naquele filho que, apesar de muito esforço, volta para a casa
com um seis, um cinco ou menos ainda...
Nesse mundo
competitivo a família tem um papel fundamental de defesa dos mais fracos. É
nela que se há de aprender, com gestos bem concretos de carinho e compreensão,
que um ser humano não vale pelo que produz nem pelos conhecimentos adquiridos,
mas por aquilo que é essencialmente: filha ou filho de Deus.
Aliás, aqueles
que têm vocação profissional para serem médicos, engenheiros, advogados,
filósofos, escritores etc., deveriam aprender antes, na família, a serem
mulheres e homens de verdade. Pessoas comprometidas com o próximo, alegres e
solidárias. Mais ainda, que encaram a profissão como uma parte de uma missão
maior a que são chamadas a desempenhar no mundo que os cerca.
Lembro-me agora
de algo que aconteceu há alguns anos. Um dos meus filhos aguardava toda noite
na janela do apartamento a passagem dos lixeiros. Esses dobravam a esquina com
grande algazarra correndo atrás do caminhão. Recolhiam os sacos apressadamente e,
antes de partir, acenavam para o garoto enquanto gritavam: “tchau nenê!”.
Movido pela alegria e vibração profissional deles, esse menino dizia que,
quando crescesse, queria ser lixeiro. Pois bem, que resposta ou que conselhos
daríamos a esse rapaz se decidisse levar a sério o propósito de exercer esse
trabalho?
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