Contemplar os acontecimentos que
circundam o Natal é uma fonte inesgotável de aprendizagem e sabedoria para as
nossas vidas. Em dois milênios de cristianismo são incontáveis os prodígios que
aquele singelo acontecimento tem causado na história de cada mulher e de cada
homem, como também de toda a humanidade. Há um aspecto, porém, pequeno e
certamente não o mais importante, que gostaria de nos deter hoje. Refiro-me ao
modo como aquele jovem casal de Nazaré soube enfrentar juntos os inúmeros
acontecimentos difíceis e dolorosos que marcaram suas vidas.
Embora tenham recebido do Céu
anúncio de que naquele lar viria nada menos que o Salvador, desde cedo a dor e a
contrariedade marcaram as suas vidas. O próprio anúncio da concepção do Menino
foi motivo de dúvidas e incertezas para o esposo, logo explicadas. Depois, uma
viagem a Belém, quando já próximo o parto, que por certo não foi das mais
cômodas. E isso sem dizer das condições em que se deu o nascimento, tão bem
reproduzida nos nossos presépios. Mais adiante, a alegria do nascimento é
rapidamente interrompida com anúncios de perseguição: “Herodes quer mata-lo,
fujam para o Egito!”... E depois anos vivendo a dureza de refugiados no
estrangeiro, longe dos seus familiares, parente e amigos...
Que dizer disso para os casais do
nosso tempo? Lamentavelmente, muitos relacionamentos são marcados pelo
exclusivo desejo de “curtir” o convívio com o outro. Quando, porém, surgem as
dificuldades, essas, ao invés de uni-los, muitas vezes acabam sendo causa de
separação.
Nesse cenário, é preciso recordar
que o que sustenta um relacionamento é a qualidade dos momentos que se passam
juntos. Isso, porém, não se mede pelo simples fato de serem agradáveis ou
dolorosos. Também os momentos difíceis, se são compartilhados com amor e com desejo
de fazer o outro feliz, contribuem para promover a união do casal e não para
separá-los.
Lembro-me do que contava um
grande amigo. Trata-se de um homem que verdadeiramente ama a sua esposa. E
dizia ele que, em certa ocasião, recebeu uma triste notícia: o sogro acabava de
falecer. Por um instante, pensou até em terminar alguns assuntos pendentes no
trabalho, afinal a má notícia já era de todos esperada. Reagiu, porém, e disse
de si para si: “Não. Nesse momento não há nada mais importante que estar o quanto
antes com a minha esposa”.
E de fato deixou os muitos
assuntos pendentes para estar com a esposa. E não apenas isso. Depois se
manteve ao seu lado, amparando-a e consolando-a. Essa sua atitude serviu para
fazer crescer a união e o amor conjugal. O momento foi doloroso, porém, porque
vivido juntos, marido e esposa fizeram dele uma oportunidade para expressar,
com um sacrifício gozoso, a profundidade do amor mútuo.
Outra situação, que também me foi
relatada por outro casal, reproduz precisamente o oposto. Eles completariam 20
anos de casamento, de modo que resolveram fazer a tão sonhada viagem para a
Europa. Tudo planejado, chega o grande dia! No entanto, o que seria uma segunda
lua de mel converteu-se num verdadeiro pesadelo. Isso porque não conversaram
sobre as expectativas. E, pior, nos lugares que visitavam, cada um tinha um
gosto e um desejo pessoal, e pouca disposição para renunciá-lo para agradar o
outro. O resultado foi que discutiram bastante e se afastaram ainda mais.
Essas duas situações ilustram
muito bem que o fundamental no relacionamento conjugal é saber se sacrificar
para fazer o outro feliz. Aquele jovem casal, Maria e José, soube fazer isso
como ninguém. Que neste Natal aprendamos mais essa sublime lição: que ninguém é
feliz nesta vida enquanto não se decide a fazer feliz de verdade aqueles que
nos são próximos, em especial a esposa e o marido que livremente escolhemos
para compartilhar as nossas vidas.
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