segunda-feira, 16 de março de 2015

Retirando a autoestima da lama

Os escândalos envolvendo a Petrobrás tiveram repercussão mundial. Basta mencionar, por exemplo, que a revista britânica “The Economist” trouxe como manchete na sua penúltima edição o “lamaçal” do Brasil. Isso, aliado a outros fatores, em especial a crônica desconfiança que temos em nossas instituições públicas, por certo agrava um problema que já é sério e preocupante entre os brasileiros: a baixa autoestima.
Com efeito, ao nos depararmos com as notícias de corrupção e a ausência de punição, ou mesmo o caráter excessivamente brando das penas eventualmente aplicadas, aliados à insuportável demora na tramitação dos processos judiciais que apuram tais crimes, muitas vezes coloca em nossas bocas uma amarga constatação: “o Brasil não tem jeito mesmo!”.
Mas será verdadeira essa conclusão? Ou, dito de outro modo, será que tudo mesmo está irremediavelmente perdido? De nada adiantará, nesse contexto, os nossos esforços, os nossos trabalhos, o nosso afã por construir a nossa volta um ambiente em que se respire integridade, honestidade, honradez?
Pessimismo e otimismo são sentimentos. Como tal, baseiam-se em dados objetivos e constatáveis. Mas também há nisso uma forte dose de subjetividade. É conhecida a historieta acerca de um copo em que se colocou água até a metade, em que o pessimista diz que está “quase vazio” e o otimista o vê “quase cheio”. O realista diria que está pela metade e, se for uma pessoa que fomenta a esperança, poderia acrescentar “mas poderemos enchê-lo até a boca”.
Mesmo que o sentimento se baseie em dados objetivos, ser otimista ou ser pessimista dependerá sempre da análise que fazemos desses dados. E é precisamente aqui que encontramos um problema crônico do brasileiro em relação ao seu País: temos uma forte tendência em nos focarmos no que é negativo e, partindo dessa visão parcial, ainda que verdadeira, chegamos a conclusões agourentas e muitas vezes injustas.
Penso que é missão de todos, mas principalmente dos educadores, quebrar esse círculo vicioso, que leva desde cedo a martelarmos em nossos jovens e crianças que somos muito ruins em quase tudo o que fazemos, o que gera uma baixa autoestima enquanto cidadão deste País e, por consequência, pouco ânimo para lutar para melhorar as coisas e a construir um futuro melhor.
E, se pensarmos bem, essa generalização pessimista sequer é justa. Há sim muitas coisas que fazemos bem. Somos hospitaleiros e solidários. Temos uma grande capacidade de mobilização para fazermos o bem aos semelhantes. Em suma, podemos definir o brasileiro como dotado de um coração grande, ainda que por vezes a emoção fale mais forte que a razão em nosso modo de pensar e agir.
O momento de crise nos pede realismo, objetividade e disposição para lutar, não o pessimismo, que é estéril. De fato, como cidadãos devemos desejar que os ladrões que assaltam esse País sejam punidos e, principalmente, que devolvam o dinheiro que roubaram. Mas não têm eles o direito de denegrir nem ofuscar o amor que temos e devemos fomentar por essa Pátria.

Outro dia presenciei um diálogo entre duas pessoas que observavam descontraidamente a movimentação na rua de uma grande cidade. Um deles acabava de ler uma notícia de jornal e sentenciava: “Esse País não tem solução mesmo...”. O outro, simplesmente observava um estudante que caminhava apressado mas, ao notar a dificuldade de uma velhinha em atravessar a rua, voltou, tomou-a pela mão e concluiu pacientemente a travessia. Esse, discordou emocionado: “Tem solução sim. Veja do que foi capaz de fazer aquele rapaz...”.

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