Vivemos num tempo em que se
observa uma enorme crise de valores, com reflexos perigosos na vida das
pessoas. Um exemplo e sintoma disso pode ser observado em nossas telenovelas. É
frequente que o “herói” ou a “heroína” sejam pessoas inconstantes, que
perambulam de um relacionamento a outro sem o menor escrúpulo e sem qualquer
sentido de responsabilidade. No entanto, a “telinha” os exibe como simpáticos,
alegres e caridosos. Mais ainda, vendem a falsa ideia de que se pode ser feliz
desse jeito, sem construir algo de duradouro, em especial nas relações
familiares.
Esse verdadeiro bombardeio que se
faz, todos os dias, contra a família e o casamento, como ademais contra muitos
valores, como a fidelidade conjugal, a defesa da vida humana desde a sua
concepção até o seu fim natural etc., acaba por ensejar uma séria confusão na
vida de muitas pessoas, no mais das vezes vítimas de um relativismo moral
perverso que permeia o nosso ambiente.
Pois bem. Nesse cenário, é muito
comum que assumamos perante os nossos amigos, parentes e conhecidos uma
autêntica postura do “politicamente correto”. Então, quando nos pedem
conselhos, é frequente dizermos o que supomos que querem ouvir, sem ponderar se
o que aconselhamos é verdadeiramente o melhor para aquela pessoa.
É o que acontece quando se
depara, por exemplo, com um amigo que tem uma família constituída, com esposa e
filhos e que ameaça iniciar um relacionamento “impróprio” (parafraseando um
antigo presidente americano) com uma colega de trabalho. Não é incomum, apesar
da amizade, manter-se o silêncio ou até estimular a que o amigo se lance nessa
aventura, afinal, “hoje em dia isso é muito normal”. Mas será isso demonstração
de uma amizade sincera?
Amigo de verdade é aquele que
quer o bem do outro, desinteressadamente. Assim, saberá apoiar nas decisões
difíceis, estar ao lado na dor e no sofrimento, bem como compartilhar as
alegrias e bons momentos da vida. Mas saberá também contrariar e corrigir
quando percebe que se está para se perder em caminhos que põem em risco a
própria felicidade e a daqueles que convivem com ele.
Temos, hoje em dia, inúmeros
conhecidos e pessoas com que nos relacionamos, centenas ou milhares de amigos
no Facebook, mas quantos desses serão suficientemente sinceros para nos dizer:
“não faça isso, pois está prestes a jogar no ralo a sua felicidade e a da sua
família”.
É curioso notar, porém, que
aqueles que nos aplaudem ou apoiam quando deitamos fora coisas grandes em
nossas vidas, são precisamente os mesmos que voltam as costas quando “quebramos
a cara”. Já aqueles que são sinceros, que nos aconselham de verdade, são os que
nos apoiam e amparam quando retornamos arrependidos dos nossos erros e bobagens
que praticamos.
É bem verdade que alguns desses
amigos que nos aconselham, quando se torna evidente que tinham razão, talvez
não resistam a uma censura do tipo: “não te falei?”. Mas afora uns poucos, que
assim acabam por pisar num amigo ferido, é muito comum encontrar corações
grandes – quando a amizade é sincera – que saberá acolher o amigo arrependido
que, no passado, não quis ouvi-lo.
Nosso mundo está sedento de
amigos de verdade, não de aduladores interesseiros. Amigos que nos compreendam
e que nos repreendam, mas que saibam estar ao nosso lado, aconteça o que
acontecer. Quem encontrou um amigo assim, que saiba dizer com o mesmo coração
sincero que inspirou o Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar, debaixo
de sete chaves, dentro do coração...”.
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