segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Honrarias

Na última quinta-feira, dia 4 de dezembro, a Câmara Municipal de Campinas outorgou ao nosso
Arcebispo Metropolitano de Campinas, Dom Airton José dos Santos e a mim o título de Cidadão Campineiro. Foram momentos entranháveis e alegres, de modo que temos muito que agradecer. Ao tratarmos do tema nesta coluna, porém, não pretendemos, nem mesmo indiretamente, simplesmente conferir ao evento maior notoriedade, quiçá para ampliar as menções honrosas que isso possa proporcionar. Na verdade, o que pretendemos é compartilhar com o
leitor uma inquietação pessoal: que momentos são melhores em nossas vidas, quando nos louvam ou quando nos criticam? O que é melhor, a fama ou o anonimato?

O elogio e o reconhecimento que recebemos na família, no trabalho, nas associações e entidades de que participamos, enfim, daqueles com quem convivemos, são bons e, muitas vezes, podem representar um estímulo para que continuemos lutando.

O problema, porém, talvez esteja na importância que damos a isso. Todos as nossas ações e aspirações devem estar motivadas por razões nobres e sublimes. Dedicar-se à família, cuidando com carinho e esmero do cônjuge e dos filhos, trabalhar horas intensas, zelando para que o trabalho profissional seja desempenhado com competência e eficiência, ou mesmo lançar-se em atividades de promoção humana e social, embora sejam atividades em si boas, podem restar deturpadas, dependendo da intenção com que as praticamos.

Assim, por exemplo, se cuidamos da família simplesmente porque não há como evitá-lo, ou apenas porque sentimos a necessidade de estarmos cercados dessas pessoas para uma espécie de satisfação pessoal, acabamos por corromper uma ação que em si seria nobre e louvável. O mesmo pode ocorrer no trabalho, se é realizado apenas com o propósito de ganhar dinheiro ou de obter promoções que assegurem status social e poder.

Talvez um dos maiores desafios de toda mulher e de todo homem honrados seja manter durante as suas vidas uma constante retidão de intenção, que os levem a praticar as mesmas atividades no seu dia-a-dia, porém, com o desejo sincero de buscar principalmente o bem do próximo em tudo isso que se faz.

Quando se age assim, os elogios ou as críticas, os louvores ou o escárnio, a fama ou o anonimato passam a ter uma importância bastante relativa. Com efeito, se agimos sem essa retidão de intenção, na verdade os aplausos deveriam nos causar vergonha. E, por outro lado, se atuamos buscando exclusivamente o bem do próximo e de nós mesmos em todas as nossos desejos e ações, as reprovações e contrariedades não deveriam nos aborrecer tanto. Talvez devêssemos apenas sofrer um pouco pelo mal que a calúnia possa causar aos próprios caluniadores.

Agora, se agimos ou ao menos procuramos agir com essa retidão de intenção, não recusamos os elogios e reconhecimentos. Quando recebemos um presente de um amigo ou de qualquer pessoa que nutre bons afetos por nós, aceitamos de bom grado esse gesto nobre. No entanto, logo em seguida, prossigamos a nossa vida com as mesmas motivações de antes. Seria uma grande tolice se, a partir de então, passássemos a fazer o bem visando apenas receber “presentes”.

Agradeço à Câmara Municipal de Campinas a homenagem. Confesso que muito nos agrada ser agora de direito aquilo que já nos sentíamos de fato: cidadão de Campinas. No entanto, essa terra bendita que acolhe seus muitos filhos que aqui nasceram ou nela vieram morar, merece que sigamos agindo exclusivamente pelos ideais nobres que dão sentido à existência. Esse é o verdadeiro progresso tão efusivamente enaltecido no seu hino: aquele que acontece no coração de cada mulher e de cada homem como consequência dessa luta diária para ser cada vez melhores, mais humanos, fraternos e solidários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário