segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Para amadurecer nossa democracia


Agora que se encerra o processo eleitoral para a escolha do próximo Presidente da República, penso que poderíamos fazer uma análise do que se passou entre nós nos últimos meses e, a partir daí, tentarmos construir alguns propósitos para a nossa atuação como cidadãos, o que por certo trará consequências diretas no futuro da nossa democracia.
Talvez o que nos tenha causado maior perplexidade foi a maneira contundente com que os ataques foram feitos, muitas vezes contra a pessoa de candidatos, com o propósito evidente de, ferindo ou colocando em dúvida a sua reputação, angariar votos ou obter vantagens na disputa pelo cargo.

Outro ponto, menos evidente, mas talvez mais eficaz na guerra pelos votos, são os trabalhos de bastidores dos chamados “marqueteiros”. É impressionante como tais profissionais adquiriram, com o tempo, a habilidade para encontrar meios de conquistar ou mesmo de modificar a opinião dos eleitores. A partir de uma análise criteriosa das expectativas dos cidadãos, sabem colocar na boca dos candidatos e dos seus agentes de campanha frases, letras de música e promessas que não somente vêm de encontro com os desejos dos eleitores, mas, mais que isso, tocam-lhes no coração, arrancando a simpatia por esse ou aquele candidato com estratégias rebuscadas e muito bem engendradas de manipulação.

Em ambas as linhas de atuação durante a campanha, ou seja, tanto no ataque à pessoa dos adversários como nos meios utilizados para o convencimento dos eleitores, penso que deveríamos buscar com afinco a resposta às seguintes perguntas: Isso foi feito segundo princípios éticos? Ou, dito de outro modo, na luta pelo poder os fins supostamente nobres justificam os meios imorais ou até mesmo ilegais para alcançá-lo?

A maneira pela qual alguém busca o poder, ou mesmo os meios de que se vale para alcançá-lo denunciam, de maneira bastante eloquente, quais são as intenções que o movem a pretender o cargo. Com efeito, se alguém possui um projeto sinceramente construído para apresentar e pautar uma atuação para o bem de um povo, para construir uma sociedade mais humana, justa e solidária, por certo se esforçará para expô-lo da melhor maneira possível aos eleitores. Nesse sentido, são válidas e perfeitamente compatíveis com a ética pretender apresentar tais projetos da maneira mais convincente possível.

No entanto, quando o processo eleitoral foge dos projetos de governo e parte para ataques pessoais ou para o uso de técnicas de manipulação da opinião, o que se evidencia é o notório propósito de atingir o poder em proveito próprio ou de pessoas e grupos aliados. Ora, se o que se pretende é o bem das pessoas para quem se irá governar, não é concebível que se busque esse poder à custa de iludir, mentir e enganar.

Um candidato ou uma candidata que disputa um cargo eletivo apresenta a sua proposta e, se não for eleito ou eleita, deveria sair do processo eleitoral com a tranquilidade e a paz de consciência de quem apresentou uma proposta que não foi aceita. Agora, amarga é a derrota e triste é a vitória se essa foi marcada pela astúcia, pelo engodo e pela manipulação.

A democracia é inegavelmente o melhor regime político. No entanto, é necessário um constante amadurecimento em cada processo eleitoral. Não deixemos que a habilidade para manipular dos marqueteiros evolua mais rápido que a nossa capacidade de análise e discernimento como cidadãos. Do contrário, ao invés de um governo do povo, pelo povo e para o povo, na célebre frase de Lincoln, poderemos ter um governo de astutos e inescrupulosos agindo em benefício próprio e dos seus comparsas, eleitos por uma multidão manipulada e não pensante.

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