segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um Homem Fiel

Dom Álvaro del Portilho,
beatificado no último 27/09
Foi beatificado no último sábado, dia 27 de setembro, Álvaro del Portillo, sucessor de São Josemaría, fundador do Opus Dei. Meditar na vida dos santos pode nos proporcionar algumas descobertas interessantes. Uma delas é notar como os tempos que sucedem à sua morte parecem enaltece-los e coroá-los de glória.

Muitos atores, astros do esporte, chefes de Estados e outras celebridades, que experimentam momentos de fama e brilho em suas vidas, com o passar dos anos, quase sempre acabam caindo no mais cruel esquecimento. Com os santos parece acontecer precisamente o oposto. Frequentemente levam uma vida discreta, sóbria e com muito sacrifício, coisas que passam despercebidas aos olhos do mundo. No entanto, com o passar dos anos e, principalmente após a sua morte, acabam por alcançar prestígio e exercer uma atração irresistível e de certo modo inexplicável.

Nas duas últimas semanas tratamos, nesta coluna, de fidelidade e de missão. Penso que está aqui o grande segredo para analisar e compreender a vida dos santos. Foram mulheres e homens que descobriram, num determinado momento das suas vidas, que tinham uma missão a cumprir. E então, após proclamar o seu sim a esse chamado, foram fieis a isso até o último dos seus dias.

Assim foi a vida de Alvaro del Portillo. Um engenheiro competente e com um futuro promissor, não vacilou um só instante em abandonar essa profissão para se tornar sacerdote. Antes disso, ao notar que Deus o chamava para ser um membro do Opus Dei, também soube com generosidade e valentia entregar não apenas a sua vida, mas os seus sonhos e projetos para o futuro.

Fiéis se confessam durante a missa celebrada para a
beatificação de Álvaro del Portillo, em Madrid
Eis aqui uma das maiores demonstrações de generosidade e fortaleza: saber renunciar aos próprios projetos e sonhos para seguir a missão que lhe é confiada.

Mas apesar de fundamental, descobrir que se tem uma missão e manifestar a disposição de segui-la não basta. Mais que isso, um santo se forja na luta constante para ser cada dia melhor. E assim foi Álvaro Del Portillo. Quem o via esbanjar serenidade, paz e alegria poderia pensar que tais qualidades lhe eram inatas e amadurecidas – sem esforço – no curso da sua vida. Mas na verdade não foi assim. Não há virtude sem esforço. Com muito sacrifício e muita oração elas foram forjadas e aprimoradas nesse grande homem.

Álvaro del Portillo foi um homem que sabia ouvir e se interessar sinceramente pelas pessoas. Certa vez ele recebeu um homem que, pouco tempo após a visita, comentaria com outra pessoa: “como ele é inteligente”. Alguém contou isso a ele que, em sua verdadeira e profunda humildade, respondeu: “mas eu não lhe disse nada! Só o escutei”. Foi um homem que sabia ouvir e se interessar de verdade pelas pessoas.

Como prelado do Opus Dei impulsionou muitas iniciativas de promoção humana e social no mundo inteiro. E uma das características mais marcantes dessas obras foi que haveriam de promover o bem das pessoas nas mais diversas áreas (saúde, educação, formação profissional) desinteressadamente. E que fossem tais obras impulsionadas pelo amor a Deus e ao próximo, sem prejuízo da excelência profissional que deveria pautar a conduta de quem se dedica a elas.
Altar da Celebração da beatificação de Dom Álvaro
Álvaro del Portillo foi um homem humilde. Sua humildade profunda, porém, não fazia dele um homem encolhido e acanhado, como se costuma erroneamente definir essa virtude. Era sobretudo um homem que confiava em Deus. E era essa fé que o movia valentemente a agir de maneira coerente com a sua vocação. Talvez seja esse o segredo desse grande homem: uma felicidade construída sobre a fidelidade. E eis porque a história – muitas vezes implacável – já começa a coroá-lo de glória, para o bem daqueles que se dispõem a trilhar os caminhos que lhe a ponta a sua missão.

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