segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Custo da Mentira

Entre os investidores e empresários se ouve falar do chamado “Custo Brasil”. Grande parte desse decorre da burocracia, e especial, do enorme dispêndio de tempo e de dinheiro para se provar que se está a dizer a verdade em cada situação.

É curioso notar os motivos das exigências burocráticas. Tomemos um exemplo. Alguém, em algum lugar, resolve fraudar um determinado documento, lançando nele assinatura falsa. A notícia chega à Brasília, onde se resolve “regulamentar”: a partir de então será necessário assinar diante de um notário que irá reconhecer a assinatura por autenticidade. Com isso, os cidadãos de bem terão custos enormes para provar, a todo momento e em milhares de situações, que não estão falsificando o documento, ao passo que os criminosos, com uma agilidade espantosa, saberão driblar facilmente a nova exigência.


Mais preocupante ainda é uma concepção generalizada entre nós de que as pessoas mentem, a menos que se tomem complicadas e custosas exigências para provar o contrário. Lembro de quando fui parado por um Policial Rodoviário. Procurei os documentos no local de costume e não os encontrava. Notando a minha ansiedade, a minha filha, então com cinco anos, perguntou: “Pai, o que ele (o policial) quer?”. “A minha carteira de habilitação e os documentos do veículo”, respondi enquanto procurava, nervoso, no porta-luvas. “Pra quê?”, insistiu ela. “Pra verificar se está tudo certo, se os documento estão em ordem”, respondi já aliviado por tê-los encontrado. “Pois diga a ele que está tudo em ordem”, disse ela em sua simplicidade, ainda não contaminada por essa cultura da desconfiança.

Penso que é possível reverter essa situação. Transcrevo o relato de um amigo que pode nos ajudar nisso:

“Em casa, sempre prestigiamos que digam a verdade, por pior que seja o erro. Digo aos meus filhos que uma mentira para encobertar um erro multiplica por mil a malícia da conduta errada. E, ao contrário, reconhecer o erro e demonstrar sério arrependimento abranda enormemente a consequência. Por outro lado – prossegue ele – muitas vezes enfrentam situações de injustiça no colégio. É que, não raras vezes estão envolvidos em travessuras, de certo modo compreensíveis pela idade e imaturidade, porém, assumem o erro, tal como ensinamos. E, como a escola nem sempre prestigia adequadamente dizer verdade, é frequente sofrerem punições, enquanto outros espertalhões, mentirosos e covardes, permanecem impunes”.

Penso que o desabafo desse pai deveria ser meditado a sério. Aliás, por se falar em dizer a verdade na escola, tomemos outro exemplo daquelas exigências burocráticas que vão fomentando a cultura da desconfiança. Em muitos colégios, se o aluno falta à prova para ir ao médico, fica dispensado da taxa para a prova substitutiva, conquanto que traga o atestado. Porém, se for ao médico ou estiver mesmo doente e não trouxer o comprovante, deve pagar. E a todos nós parece normal essa exigência. Mas não seria melhor bastar dizer que estava doente ou que foi ao médico para que se acreditasse? “Ah! Nesse caso, todo mundo vai dizer que estava doente para fazer outra prova sem pagar...” dirão. Essa observação, contudo, somente comprova o quão arraigado está a cultura da desconfiança: todos mentem, até que se prove com atestado, declaração, escritura pública etc., etc., etc., que se está a dizer a verdade.

Estamos diante de um terrível círculo vicioso: a cultura da desconfiança gera pouco compromisso com a verdade, que por sua vez gera mais desconfiança. Sendo assim, em algum ponto o círculo há de quebrado. Novamente trago para ser ponderado o exemplo daquele meu amigo: “Filho, eu confio em você”, diz ele com frequência olhando nos olhos. Isso tem um peso enorme. Afinal, quem já não sentiu o valor que tem a confiança e, por consequência, o quanto estamos dispostos a fazer para não perdê-la?

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