segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Anseios de Paz

O Papa Francisco convocou para o último sábado, dia 7 de setembro, um dia de jejum e de oração pela paz na Síria, no Oriente Médio e no mundo inteiro. O apelo foi ouvido e se fez ressoar nos corações das pessoas das mais diversas religiões: católicos, cristãos em geral, islamitas e mesmo entre os não crentes. Na Praça de São Pedro e nos quatro cantos do planeta se fizeram ecoar as súplicas de uma humanidade sedenta de paz.


Passado o evento, talvez nos fique a mesma indagação formulada pelo Santo Padre, em sua manifestação por ocasião do Angelus, no último dia 1º de setembro, na Praça de São Pedro: “O que podemos fazer pela paz no mundo?”. E, em seguida responde: “Como dizia o Papa João XXIII, a todos corresponde a tarefa de estabelecer um novo sistema de relações de convivência baseados na justiça e no amor”.

Sim, a construção da paz pressupõe a justiça e o amor. E esses somente se manifestam na vida social a partir de uma opção interior das pessoas. 

A justiça é, sobretudo, uma virtude, que move o ser humano a agir com a vontade constante e firme de dar aos outros o que lhes é devido. Mas isso não é algo teórico, nem simplesmente direitos que se exigem nos tribunais. Ao contrário, manifesta-se em ações concretas do dia-a-dia.

Nesse sentido, a vivência da virtude da justiça implica, por exemplo, que o pai dedique tempo e atenção aos filhos, e que esses retribuam com respeito e obediência aos pais; que o esposo demonstre carinho e compreensão à esposa, e que ela seja dedicada e solícita ao marido; que o empresário pague salários dignos e respeite os direitos dos seus empregados, e que esses sejam responsáveis e laboriosos nos desempenho das suas funções. É justo, também, a pessoa que avisa que recebeu um troco a maior e restitui aquilo que não lhe pertence, que honra os compromissos assumidos, que sabe que o seguimento da sua consciência está acima de qualquer oportunidade de negócios ou de ascensão profissional.

Mas a justiça cega, vale dizer, sem a força do amor, não é suficiente para edificar a paz. Não basta, portanto, o esforço para honrar os compromisso e dar a cada um o que lhe é devido. É necessário saber ir além. Por exemplo, não basta considerarmos que pagamos os impostos e que, portanto, ao Estado cabe proporcionar a saúde a todos. Pode suceder que os hospitais venham a ser equipados com inúmeros recursos tecnológicos mas que faltem olhos atentos e mãos amigas capazes de transmitir compreensão, afeto e acolhida. E o mesmo se diga às inúmeras relações que estabelecemos no nosso dia-a-dia. Ao tomarmos um ônibus a justiça nos levará a simplesmente pagarmos o preço da passagem, mas o amor nos insta a dizer um afetuoso “bom dia”, com sincero desejo de que a paz inunde a todos, mas especialmente aqueles com quem nos relacionamos.

Ouvi certo dia o relato de um bom homem que, vez por outra, se dedicava a visitar idosos em casas de repouso. Conversava com uma senhora numa casa muito bem equipada, bonita e ... cara. Com o desejo de animá-la e passar uns momentos descontraídos, brincou: “Que mordomia a senhora tem aqui, hein?!”. Ela se esforçou para arrancar um sorriso, mas, em seguida, abriu os sentimentos que trazia no coração: “Meu filho, trocaria isso tudo por um quartinho bem simples, mas com o carinho e um pouquinho de atenção dos meus filhos e netos...”.

A construção da paz é missão de todos. Assim, é maravilhoso e emocionante contemplar milhares de pessoas no mundo todo unidas numa só voz e numa só alma para que ela reine na Síria e no planeta. Porém, muito mais que isso, cabe a cada um de nós construí-la promovendo a justiça e sendo sinais visíveis do amor em todos os ambientes em que nos movemos e nos relacionamos.

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