segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Alegria na doença

Há poucos dias tive a gratíssima satisfação de visitar o Sr. Dionésio Brandão no hospital. Ele havia passado por uma delicada cirurgia cardíaca e se recuperava no quarto. Foi um dia de gratas surpresas. Primeiro pude notar a qualidade dos serviços prestados no Hospital da PUC-Campinas, ao menos no setor que visitei. Além das modernas e amplas instalações, era visível a atenção e carinho dos médicos e funcionários com os pacientes.

Confesso que esperava encontrar um ambiente sombrio, algo que oscilasse entre a tristeza e a apreensão. Mas vi exatamente o contrário. Em especial porque o Sr. Dionésio soube enfrentar com valentia a doença. Em pouco tempo de convivência já sabia da vida e dos problemas dos companheiros de quarto. Assim são os homens de coração grande. Mesmo na dor, esquecem-se dos problemas pessoais para pensar outros. Com isso, inundam o próprio coração de uma paz e de uma alegria transbordante, capaz de contagiar os que estão próximos.

Mas essa maneira de enfrentar a doença depende também muito especialmente dos parentes e amigos. Muitas vezes os familiares encaram esses momentos com cara amargurada e às vezes até com revolta. Parece até que antecipam o velório já para o quarto do hospital. Com isso, causam um grande mal a si próprios e, muito especialmente, ao doente.


A causa dessa maneira pouco nobre de encarar a doença está numa visão hedonista da existência humana. De fato, se buscarmos o sentido para as nossas vidas apenas no prazer, na comida, na bebida e na diversão, a doença será mesmo um terrível absurdo. Com efeito, será um obstáculo que impede de gozar daquelas coisas que se considera como a razão de viver.

Porém, se procuramos um sentido mais profundo para as nossas vidas, a doença pode até se converter em algo que nos ajuda a caminhar para o nosso verdadeiro fim. A mulher e o homem foram concebidos por amor e somente viverão em paz de consciência quando orientarem as suas vidas para o amor. Isso, contudo, não é algo teórico, mas há de se traduzir em ações muito práticas no dia-a-dia.


Nesse sentido, um doente é também um grande tesouro, pois nos proporciona uma oportunidade imperdível de externarmos o nosso amor para com ele ou com ela. A doença, muitas vezes, põe a descoberto a nossa fragilidade. Bem por isso que a companhia da esposa, do marido, dos pais, dos filhos, dos amigos, do sacerdote, do pastor, enfim, daqueles que amamos, é para nós tão importante nesses momentos. E então esses têm uma chance magnífica amar com detalhes de carinho e atenção.

E também o doente pode converter a doença em oportunidade de manifestar esse amor. É o que fazia o Sr. Dionésio magnificamente com os companheiros de quarto. Mas também os amigos e familiares podem ser edificados, quando se encara a doença com essa visão transcendente. Isso porque, ao mesmo tempo em que o doente aceita as suas limitações, e recebe de boa vontade os serviços que lhe prestam, procura retribuir com um sorriso. E se a dor não permite sorrir, ao menos deixa que nos olhos brilhe uma ternura a gritar em silêncio: “muito obrigado”.


A doença é uma oportunidade imperdível para vivermos um dos grandes paradoxos do amor: quando mais pensamos nos outros e quanto menos pensamos em nós próprios, mais felizes seremos. Mas isso não entendem os soberbos, nem aqueles que pensam que a vida é para ser esbanjada em bebedeiras e prazeres que não duram mais que um instante, deixando na alma o gosto amargo do egoísmo. Entendem-na, ao contrário, os simples e humildades, que se deixam guiar pela luz do amor. E esse encontra na dor a chance de demonstrar a sua largueza e profundidade.

*Há dois anos, outro episódio me fez refletir sobre os doentes... leia também Cuidar dos Doentes.

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