segunda-feira, 17 de junho de 2013

Torta de limão

A cena é muito conhecida, ao menos dos homens. O jogo de futebol havia terminado há pouco, a roda de amigos se formou diante de uma mesa com cervejas “estupidamente geladas”. A conversa foi se amimando até que um deles mostra ao amigo uma fotografia no celular. Os comentários denunciam de que se trata:
- Lindíssima!
Logo se armou uma roda ao redor do smartphone. Todos se derretem em elogios... Um dos “atletas”, porém, se mantém um pouco distante do grupo, degustando a sua cerveja, mas nada “à vontade” com os rumos que tomou a conversa. Mas eis que um deles nota a o distanciamento do amigo e resolve buscar a sua aproximação:
- Cara, dê uma olhada!
Um tanto a contragosto, resolve observar o que tanto chamava a atenção dos amigos. E então lhe perguntam:
- O que acha?
Após um incômodo silêncio, resolve dar o seu parecer:
- É muito bonita. Mas a mim mais se parece uma torta de limão...
- Como assim? – Indaga o dono do celular.
Todos olhares se voltam para ele, ansiosos para que desvende o significado da expressão.
Diante do prolongado silêncio, um dos amigos, tomado pela curiosidade, resolve perguntar:
- O que você quer dizer com isso? Por que ela se parece com uma ... torta de limão?
- É simples – respondeu ele agora um tanto confortável por ter deixado o papel de terceiro coadjuvante para assumir o de ator principal. E prosseguiu: – A torta de limão é muito apetitosa quando a experimentamos, porém, após brevíssimos momentos de prazer, deixa um gosto amargo na boca e, se não a desfrutamos na companhia de pessoas que verdadeiramente gostamos, fica apenas um vazio na alma...
Verdadeiramente não era aquele um ambiente adequado para grandes reflexões. Por isso, as suas palavras, por irem “contra a corrente”, deixou todos desconcertados. Mas o desassombro dos amigos serviu de estímulo para prosseguir com suas ideias:
- E vou dizer mais. Quando estamos com o gosto amargo na boca, temos a possibilidade de experimentar mais um bocado. No entanto, dessa vez o amargor fica ainda pior e o prazer do segundo prato é muito menor...
Um dos amigos, um tanto desconcertado, resolve prosseguir nessas divagações:
- Mas se é assim, você que se diz tão apaixonado por sua esposa, não acontece com ela o mesmo? Como você a suporta há tanto tempo?
- Acontece que ela não é nem nunca será uma torta de limão...
O zagueiro, empolgado com aquela discussão nada futebolística, não conteve a curiosidade, e gritou do canto da mesa:
- O que ela é, então?
- Não sei com que compará-la – respondeu o nosso protagonista, sem perder a compostura.
Mas, após um breve silêncio, prosseguiu:
- Um bom vinho. Acho que isso é o que melhor a define em comparação com a torta de limão. O vinho, se é bom, fica cada vez melhor com o passar dos anos. E, mesmo após aberto, a última taça é sempre melhor que a primeira...
Os amigos estavam verdadeiramente surpresos, como que descobrindo algo novo, de modo que a novidade os agradava. Percebendo isso em seus olhos o nosso amigo prosseguiu com suas considerações:
- Sabe, os anos de casamento, se levados com interesse sincero em fazer o outro feliz, faz com que se cresça no conhecimento mútuo. E isso faz com que fique cada vez mais agradável o relacionamento, ainda que não faltem dificuldades e frustrações. Essas, quando superadas por amor, fazem crescer a união entre o casal. E o mesmo ocorre com as relações íntimas. Quanto mais nos conhecemos, mais é possível fazer esse ato mais prazeroso para o outro.
A conversa terminou e foram embora. O nosso protagonista precisou de carona com um dos amigos. Ao chegar à casa, a esposa o convidou a entrar. Ao dizer que não jantariam, pois haviam petiscado no bar ao lado do campo, a amável esposa propôs-lhes ao menos experimentar a sobremesa:
- Preparei uma torta de limão, com bastante raspas de cobertura, tal como você gosta, meu amor...
O amigo não escondeu uma grande gargalhada. 

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