segunda-feira, 3 de junho de 2013

Formando mulheres e homens livres

Recentemente muito se tem defendido a necessidade de impor limites na educação dos filhos. E a razão principal disso são péssimos resultados observados, decorrentes de uma educação excessivamente permissivista: jovens desorientados, drogas, gravidez precoce, perda do sentido da vida etc.
É evidente que o permissivismo causou grandes males às atuais gerações. Mas será que o simples restabelecimento dos limites na educação serão suficientes para corrigir os erros do passado?
Os limites são imprescindíveis, sobretudo porque eles permitem que nossos filhos e alunos saibam compaginar liberdade com responsabilidade. Soube da história de um garoto que, durante uma viagem com os colegas de escola para um acampamento, queixava-se com o professor de que seus pais não lhe davam liberdade, que dependia da autorização deles para quase tudo. Esse bom professor deu ao aluno uma brilhante lição, que merece ser contada:
“Seus pais não permitem que você faça tudo o que quer porque o amam. Veja esse pequeno riacho. Em sua nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que ocorre com uma criança pequena, que para tudo depende dos pais. O riacho, conforme vai avançando, as suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que deságue no mar, onde não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os filhos. A autoridade dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao destino. Quanto maior o rio, mais distantes as margens, quanto maior e mais responsável o filho, maior pode ser a sua autonomia. E que bom que haja a margem! Imagine o que seria do rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a margem é menos resistente, parte da água caiu para fora e apodrece à beira do rio, não chegará no mar. Assim acontece com os filhos que possuem pais fracos, que não desempenham a obrigação de exercer a autoridade: deixam seus filhos perdidos nas ribanceiras do mundo, não chegam ao mar”.
Penso que é interessante essa lição desse bom mestre. Porém, como toda analogia, é imperfeita. Ainda que a imagem das margens do rio chamem a atenção dos educadores para o dever de impor limites aos filhos, na prática, nem sempre é possível – e nem desejável – que os pais e professores assumam uma atitude excessivamente vigilante.
E mesmo que fosse possível essa vigilância, tampouco seria adequada para formar homens e mulheres de verdade. É que ninguém poderá ser verdadeiramente bom enquanto não se decidir a sê-lo livremente.
Nesse sentido, mais que cercados ou vigiados, nossos filhos e alunos precisam ser inspirados. Estão sedentos de exemplos vivos de que a vida vale a pena encarnados numa existência concreta. Assim, para formarmos mulheres e homens de verdade, felizes e com um claro e profundo sentido da vida, é necessário que sejam muito bem formados os educadores: pais e professores.
É muito difícil moldar um ferro frio. Ao contrário, se é aquecido, um bom ferreiro pode ir trabalhando, dando-lhe os contornos desejados. Novamente a analogia é imperfeita, afinal a educação não é moldar ninguém, e tampouco tem o educador o direito de impor naquele que educa um modo peculiar de ser, até porque o melhor que cada ser humano pode vir a ser é ele mesmo. No entanto, as virtudes que formam uma personalidade madura e feliz podem ser forjadas. E, para isso, quando maior for a “temperatura” do educador, mais apto estará para inspirar e arrastar.

Não queremos dizer que o bom educador precisa ser necessariamente uma personalidade carismática. A história está cheia de líderes carismáticos que arrastaram milhares de pessoas para um verdadeiro abismo. O que nossos jovens precisam é de educadores que encontraram um autêntico e profundo sentido para as suas vidas. E que, precisamente por tê-lo encontrado, são capazes de ensinar, muito mais que com palavras, com os exemplos que emanam de uma vida fecunda.

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