segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Trabalhadores descartáveis?

Há poucos dias um amigo observou, em tom de crítica, que um funcionário que fica incumbido de controlar o acesso a uma determinada repartição, poderia ser facilmente substituído por um sistema de controle eletrônico, o que por certo reduziria os custos.
Essa observação fez recordar o contexto vivenciado atualmente na Europa. Lá é usual o motorista se encarregar de colocar combustível no veículo. Além disso, as máquinas de café, salgadinho e até de sopa estão espalhadas a todo canto.
Poucos dias naquele cenário envelhecido são suficientes para sentir imensa saudade de umas palavras amistosas com o frentista, talvez com uma ou outra brincadeira futebolística, ou mesmo de pedir um café e um pão de queijo a uma pessoa de carne e osso, a quem se pode olhar nos olhos e terminar a operação com um sincero “muito obrigado”.
É inegável que a modernidade trouxe avanços tecnológicos que permitem melhorar as condições de trabalho. Mas será que a mecanização da indústria, e agora também do comércio, tem se pautado no rumo de melhorar a condição do ser humano que trabalha? Ou a tônica é reduzir custos?
Mesmo dentro da lógica de aumentar o lucro a todo custo, apenas automatizar – substituir homem por máquina, pode ser o último recurso de gestores medíocres. Competir em custo nunca é bom. Sempre existe alguém que está disposto a entregar um serviço pior, por um preço menor. Nesse caso, os clientes podem comprar essa solução por falta de empresários realmente empreendedores.
Também não se trata de inventar trabalhos desnecessários, simplesmente para manter as pessoas ocupadas, com iniciativas do tipo cavar um buraco pela manhã para tapá-lo a tarde. Mas devemos sim refletir sobre quais trabalhos podem ou devem ser substituídos pela máquina e por quê.
A questão não é simples. Por certo muitos dirão que a concorrência é cada vez mais acirrada, de modo que a redução de custos e, por consequência, do preço é questão de sobrevivência. Apesar disso, e sem pretender agir com ingenuidade, há de se estabelecer um critério a nortear as decisões das pessoas com isso relacionadas: empresários, governantes, legisladores...
E o critério penso que deve ser a promoção da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, o avanço tecnológico deve estar a serviço da vida com qualidade para todos.
Muitas empresas já viram isso. Talvez a Toyota tenha sido a que o fez com maior sucesso e primeiramente. O modo de sair deste dilema entre homem e máquina é empregar homem onde ele é efetivamente muito melhor que a máquina. E deixar para a máquina tarefas onde ela é melhor, também para promover a dignidade de quem é dispensado daquela função.
Esse critério poderá, por exemplo, levar a dispensar o trabalho dos cortadores de cana – que agride severamente a sua saúde em condições inóspitas – por máquinas que fazem a mesma operação, conquanto que haja uma política consistente de emprego para os mesmos. E, por outro lado, poderá dispensar máquinas onde o sorriso e o bom dia bem real se fazem insubstituíveis.
Penso que num futuro próximo, só empresas que usem de modo efetivo as competências e habilidades humanas em conjunto com a automação das máquinas sobrevirão.

Nesse admirável mundo novo em que estamos inseridos, talvez um grande desafio seja usufruir da tecnologia sem prejuízo para a qualidade das relações humanas. Mais ainda, que os avanços as fomentem e aprimorem. A propósito, quem não gostaria que o médico fosse sempre bem atencioso ao que dizemos e sentimos, talvez com a mesma atenção com que procura na tela do seu computador os resultados dos complicados e sofisticados exames que solicita?

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