segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Fé e Tecnologia

Atualmente as pessoas buscam a segurança em suas vidas principalmente no conhecimento humano e nas inovações tecnológicas. Quando se procura um médico, por exemplo, há quem investigue atentamente a sua formação acadêmica. E isso não ocorre apenas na medicina. Também ao se escolher um colégio ou um berçário, também se priorizam as medidas que reduzam ao mínimo os riscos de danos à saúde. E os exemplos poderiam multiplicar-se quanto aos instrumentos avançados, nos quais se deposita a esperança de prolongar ao máximo a vida, com saúde, de modo a poder desfrutar pelo maior tempo possível e sem esforço do que o mundo oferece.
Nesse contexto, a prática mantida por algumas pessoas de rezar na busca da solução dos seus problemas ou mesmo pedindo ajuda para alcançar as suas realizações, muitas vezes, soa como algo incompreensível à mulher e ao homem moderno. É que – pensa-se – o melhor a fazer é procurar os recursos e meios adequados, em vez de ficar “esperando que as coisas caiam do céu”. Ou então se vê a oração como a antessala do desespero total. Algo para acalmar ou simplesmente matar o tempo quando os recursos tecnológicos – os únicos verdadeiramente confiáveis – já não podem fazer nada.
E então surge o velho confronto entre ciência e fé ou entre Deus e a tecnologia. Mas será que são coisas necessariamente antagônicas e contrapostas?
Penso que o antagonismo é apenas aparente. Decorre de uma visão distorcida da fé e, também, de um conceito talvez equivocado e um tanto redutivo do que é o ser humano na sua essência.
A tecnologia, fruto da inteligência e do engenho criativo humano, quase sempre é algo bom, que proporciona meios para que as pessoas vivam mais e melhor. Permite, por exemplo, que se envie esse artigo do outro lado do mundo e, em poucos minutos, possa ser inserido na edição do jornal. Mas nem toda inovação tecnológica promove a dignidade humana. Basta citar, como exemplos, as armas de destruição em massa e as pesquisas com seres humanos vivos, inclusive os embriões, tratados como objetos descartáveis.
A tecnologia não exclui a fé. Estão em âmbitos diferentes, mas numa mesma direção. Ainda que a técnica alcance avanços fantásticos, o homem nunca terá um controle absoluto da sua vida. Estará sempre sujeito a acontecimentos que estão fora do seu controle. É o celular ou a INTERNET que não funcionam quando mais precisávamos, ou, mais dramático ainda, é a doença que aparece de repente e para a qual a medicina ainda não encontrou a solução...
Mas a fé não começa somente quando termina a tecnologia. Quanto é verdadeira, há de influenciar todos os aspectos da vida humana. Trata-se de reconhecer, com humildade, a condição de criatura e que, portanto, não tem domínio sobre o universo que nos envolve. Apesar disso, em sendo criatura – e aqui tocamos no centro maravilhoso do cristianismo – a mulher e o homem não são simples seres relegados ao acaso por um deus longínquo e indiferente. Foram elevados à condição de filhos muito amados de um Deus cuja melhor definição é Amor.
O raciocínio do ateu indiferente, ainda que rebuscado de uma filosofia muito bem engendrada, é o seguinte: “já que não sou deus – e isso é uma constatação evidente – por não suportar que haja alguém acima de mim, prefiro pensar que ele não existe”. O cristão autêntico, diante da mesma evidência do ateu, diz: “Não sou Deus, mas sou seu filho muito amado”.
Assim, não se trata de esperar que as coisas caiam do céu, nem de confiar exclusivamente nos recursos humanos. O cristão verdadeiro busca todos os recursos de que dispõe para resolver os seus problemas e alcançar os seus objetivos. E, depois, reza como se não houvesse outra coisa a fazer. Fé e tecnologia, oração e ação, são como que dois trilhos por onde deve seguir a vida humana. Ambos devem estar muito bem cuidados e alinhados para que não se descarrile e então se alcancem os desígnios eternos onde se encontra a felicidade, enquanto se caminha e no fim desse caminhar. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

União Homossexual: A França e o Brasil

Na edição da última segunda-feira, o Correio Popular trouxe a notícia de que centenas de milhares de pessoas lotaram as ruas de Paris em protesto contra o projeto de Lei promovido pelo governo do presidente François Hollande, que pretende regulamentar o casamento e da adoção aos casais homossexuais.
Não pretendemos, nesse momento, analisar a conveniência ou não da iniciativa em si. Talvez possamos fazer tal abordagem em outra oportunidade. Mas há um aspecto da questão que bem merece ser considerado: na França a decisão caberá ao Poder Legislativo.
Aliás, a questão já havia sido levada à Suprema Corte Francesa, que entendeu não poder reconhecer a união homossexual pela ausência de Lei que a reconhecesse.
No Brasil, bem ao contrário, a inovação se deu por decisão do Supremo Tribunal Federal que, apreciando uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental e Ação Direta de Inconstitucionalidade, entendeu por bem dar à união homossexual status de união estável.
Convém recordar que a questão foi tratada em nossa Constituição Federal, no seu artigo 226, § 3º, que dispôs: Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Apesar disso, os Ministros da nossa Suprema Corte conseguiu ler ai, e também no tão propalado – e tão distorcido – princípio da dignidade humana, que também a união entre pessoas do mesmo sexo estariam a merecer proteção constitucional.
Constituiu um princípio fundamental, consagrado no artigo 2º da nossa Constituição Federal que São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Aliás, a separação dos poderes é um legado francês para todo o mundo ocidental, que remonta a Montesquieu.
Com todo o respeito que merece o nosso Supremo Tribunal Federal, penso que não se inserem nas suas atribuições a de modificar a Constituição Federal, a pretexto de interpretá-la. E é curioso notar que, no recente caso do julgamento do chamado mensalão, surgiu certa histeria entre nossos parlamentares contra a decisão do STF de decretar a perda do mandato de deputados. No entanto, penso ser sem razão essa insurgência. É que constitui atribuição do Poder Judiciário condenar ou absolver acusados de prática de crimes, impondo as penas devidas, inclusive a perda do cargo ou do mandado eletivo, como consequência da sentença condenatória.
Por outro lado, contudo, no caso da “legalização” da União Homossexual pelo Supremo, observamos uma incrível passividade dos nossos Deputados e Senadores contra aquilo que, então sim, poderia ser considerada uma usurpação de competência exclusiva do Poder Legislativo.
Nesse sentido, penso que devemos buscar na França, novamente e séculos após o surgimento das ideias de Montesquieu, a essência do princípio da separação dos poderes. Aliás, quando o debate é travado no Parlamento, formado por representantes eleitos pelo povo, então faz sentido lotar as praças públicas em saudáveis manifestações. É provável que os cidadãos favoráveis à proposta de Hollande também façam o mesmo. E então se decidirá, no jogo natural e saudável da democracia, que rumo tomará o ordenamento de uma Nação.

É bem verdade que uma Lei, aprovada pela maioria no Parlamento, inclusive com o aval também da maior parte dos eleitores, pode ser contrária ao direito natural e que, portanto, não promova a dignidade humana. É um risco do qual a democracia não está imune. No entanto, nesse caso, será ao menos um equívoco consentido pela maioria de um povo, que a história saberá julgar a seu tempo. Mas ao menos não será uma usurpação de competência legislativa, cuja ilegitimidade é ofuscada pela autoridade da toga.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A face moderna da preguiça

Ao se escolher o curso universitário, nossos jovens são frequentemente instados a refletir bem, afinal “é importante fazer o que se gosta”. Com esses argumentos, são pressionados a pensar bem na profissão que irão exercer, sob pena de uma espécie de condenação perpétua à frustração profissional.
Penso que há certa dose de exagero nisso, afinal a escolha da profissão nem sempre é irreversível. Mas talvez se exagere também na importância que se dá ao fazer o que se gosta. De fato, as pessoas possuem diferentes aptidões. Por isso, é mesmo importante eleger o trabalho que se irá desempenhar de acordo com a vocação profissional.
Na sociedade hedonista em que vivemos, na qual a busca do prazer parece ser o principal fator considerado nas escolhas e decisões, tende-se a procurar o trabalho na medida em que seja o mais prazeroso possível. No entanto, ainda que se tenha escolhido a profissão para a qual se está vocacionado, em qualquer ofício haverá tarefas mais ou menos agradáveis.
Tomo como exemplo a função de juiz, que conheço bem de perto: o quão tentador é esquecer no canto da mesa aqueles processos mais volumosos, com questões complicadas e de difícil solução. E estou certo de que o leitor saberá encontrar, no próprio trabalho, aquelas atividades mais custosas, frequentemente deixadas “para amanhã”.
Muitas vezes a preguiça não está em não fazer nada, mas em fazer apenas o que se gosta. Por mais que se escolha a profissão ou ofício, em todos haverá atividades que nos apetece menos, mas que precisam ser feitas.
O esforço empreendido para superar a tendência ao comodismo, que nos leva a buscar o que nos é mais fácil, é fundamental para o desenvolvimento da personalidade. Hoje se fala muito em empreendedorismo, apontado como uma qualidade essencial para o sucesso profissional. Ocorre que o bom empreendedor é também aquele que sabe transformar a si próprio, forjando uma gama de virtudes – em especial a fortaleza – capaz de superar os obstáculos que se antepõem ao objetivo de vida buscado.
Há também aqueles que, por não gostar do trabalho que desempenham, vivem reclamando e se limitam a suportar as horas que passam no escritório, na fábrica ou numa repartição, sempre a espera de uns poucos momentos para “verdadeiramente viver”. Nesse caso, será legítimo buscar outro trabalho que esteja mais de acordo com as aptidões pessoais. Enquanto não o encontram, porém, o grande desafio será desempenhá-lo com alegria e bom humor, talvez pensando no bem que pode proporcionar aos demais.
Lembro-me de um lixeiro que conheci alguns anos atrás. Toda noite o caminhão passava barulhento próximo à janela do nosso apartamento. Ele e seus colegas corriam a toda pressa para dar conta de recolher as toneladas de lixo. Mas o fazia com imensa e inexplicável alegria. Tanto que chamaram a atenção dos meus filhos, que o aguardavam na janela. Apesar do trabalho intenso, após recolher os sacos e antes de correr atrás do caminhão que partia afoito, abanava a mão para os garotos dizendo: “tchau Nenê!”. E trabalhava tão feliz que meu filho dizia que, quando crescesse, seria lixeiro.

Estou certo de que esse trabalho não era naturalmente agradável para aquele rapaz. No entanto, soube se superar a ponto de exercê-lo com alegria. Agora que as festas de final de ano se acabaram e as férias (se é que as tiramos) se aproximam do fim, penso que poderíamos nos examinar sobre qualidade do nosso trabalho. Sabemos nos esforçar para fazer bem também as atividades que menos gostamos, pensando no bem que isso pode proporcionar aos demais? E ao fazê-lo, não nos esqueçamos de que isso é fonte de imensa alegria, bem diferente da cara feia e lamurienta do preguiçoso e do egoísta.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Primeira Escola

A escolha do colégio é uma decisão difícil para os pais, sobretudo no momento de matricular o primeiro filho. Nesse assunto, não há receita pronta. Cada casal deve decidir de acordo com a situação peculiar da sua família. Apesar disso, há alguns aspectos a serem considerados, que talvez nos possam ajudar no momento de tomar essa decisão.
É comum que os pais de primeira viagem estejam muito atentos ao fator segurança. Analisam canto por canto para verificar se não há riscos de os filhos se machucarem. É um dado importante, afinal, queremos que nossos filhos estejam bem cuidados, sobretudos enquanto não estamos presentes. No entanto, não é o único nem sequer o principal aspecto a ser observado momento da escolha.
Outro aspecto que se considera é a qualidade técnica do ensino. Ou seja, procura-se que já desde os primeiros anos de vida lhes sejam transmitidos ensinamentos de uma maneira eficaz, de modo a alcançarem a bagagem intelectual necessária para enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Isso também é muito importante. Mas não é tudo que deve ser considerado.
Talvez devêssemos nos perguntar o que desejamos para os nossos filhos. Não se trata de sonhar que escolham determinada profissão, que se casem ou que permaneçam solteiros, pois tais decisões caberão a eles tomar livremente. No entanto, seja qual for a profissão ou o estado que venham a assumir, toda mãe e todo pai por certo gostariam muitíssimo que os filhos venham a ser mulheres e homens responsáveis e felizes. O dom mais alto que podemos aspirar para eles é a felicidade. E a educação que lhes é proporcionada na família e na escola podem contribuir ou prejudicar esse fim tão intensamente desejado por todo ser humano.
E um ingrediente importante nessa busca da felicidade é adquirir virtudes. Ouso dizer que quanto mais virtuosos forem as nossas filhas e os nossos filhos, tanto mais felizes serão. Assim, não basta que a escola cuide com dedicação dos alunos. Tampouco é suficiente que tenha alcançado a excelência na transmissão do conhecimento. É também imprescindível que saiba fomentar, sempre em parceria com a família, a aquisição de virtudes.
Mas uma vez estabelecidos alguns fatores a se considerar, ainda assim muitos pais talvez fiquem na dúvida de como verificar se determinada escola de fato desenvolve todo trabalho que promete. É que muitas vezes se valem de técnicas rebuscadas para vender o seu produto, cuja eficiência não é fácil de ser detectada no curso prazo.
Penso que aqui os pais deverão ser bastante cautelosos e desenvolver um espírito de observação. Assim, quando ouvir de um coordenador ou diretor de uma escola que se faz isso ou aquilo, convém sempre indagar sobre como se atinge determinada finalidade. Por exemplo, muitos dirão que há uma estreita parceria com a família. Nesse caso, há que se perguntar sobre quais ações concretas que são feitas periodicamente para se estabelecer essa parceria. E tais indagações devem ser feitas em relação a todos os aspectos que os pais julgam relevantes que haja na instituição.
Por fim, há que saber respirar o ar da escola, nem que seja por uns instantes. Como dizíamos, o prêmio da virtude é a felicidade. Assim, num colégio que a promove, se poderá notar um tom de alegria e acolhida, tanto da direção, como dos funcionários, professores e alunos.

Uma família que tenta construir na sua casa um recanto luminoso e alegre deve buscar uma escola que seja uma extensão do próprio lar, onde também esteja refletida essa luminosidade e alegria. Por vezes pode parecer penosa essa procura, mas vale a pena ser muito criterioso e exigente. Afinal, o que está em jogo é a felicidade das pessoas que mais amamos neste mundo.