“Você deixou seus tênis jogados de novo?!”, “olhe para o seu
guarda-roupas, está uma bagunça!”, “eu desisto! Cansei de lhe falar! Parece que
você faz isso de propósito, só pra me irritar...”. Será que já ouvimos
frases como essas, ditas por pais e mães, cansados de exigir um pouco mais de
ordem com os filhos e com as filhas? Será que nós próprios as pronunciamos com
frequência?
Quando
nos dispomos a considerar as atitudes dos pais que buscam promover melhoras no
comportamento dos filhos, uma primeira indagação que nos cabe fazer é acerca da
sua eficácia. Esse tom lamuriento e carregado de reclamação – muitas vezes com
ares de vítima – será eficaz para suscitar nos filhos a determinação para
corrigir os seus defeitos?
Acredito
que não. E a razão, de certo modo é óbvia. Ora, se nós próprios nos queixamos
de “falarmos mil vezes” a mesma coisa sem resultados positivos, é provável que
a técnica educativa esteja errada.
É bem verdade que os filhos são livres por natureza. Assim, por
mais que os pais se empenhem em fomentar neles as virtudes, sempre haverá a
possibilidade de eles rejeitarem os ensinamentos que lhes são transmitidos.
Apesar disso, muitas vezes eles não se dispõem a ouvir o que lhes dizemos
porque não sabemos transmitir da maneira mais adequada.
Para isso, um ingrediente fundamental é saber educar
positivamente. É que quando lhes falamos as coisas com “tom de bronca”, ou
mesmo quando espalhamos pela casa o gosto azedo do nosso mau humor, o máximo
que conseguiremos é que eles façam o que nos agrada, na nossa presença e apenas
para evitar mais um insuportável sermão...
No
entanto, a mudança de atitude, vale dizer, a aquisição de uma virtude,
pressupõe sempre uma decisão interior, livre e ponderada. E, para isso, é
necessário que lhes ensinemos com uma linguagem acessível, de acordo com a
idade e condição, as razões mais profundas de um determinado comportamento.
Por exemplo, quando lhes exigimos que levem o estudo mais a sério,
será o caso de lhes mostrar, com uma linguagem que possam entender, quanto
sacrifício e quantas pessoas se envolvem para lhes transmitir os ensinamentos.
Isso desde o trabalho do pai e da mãe para pagar a mensalidade, se a escola for
particular, até o trabalho da faxineira da escola, dos professores que preparam
as aulas, dos coordenadores, diretores etc.
Mais ainda, não seria uma ingratidão com os pais, com os
professores e com a sociedade que investem nele ou nela tanto esforço para que
venha a desempenhar com competência a missão que lhe cabe neste mundo, seja ela
qual for? Em suma, desde muito cedo, os pais precisar saber transmitir boas
razões para que se decidam a assumir as atitudes que se esperam deles.
Mas mais importante que lhes dar boas razões, é necessário que os
pais e as mães se examinem sobre as suas reais intenções. É que muitas vezes
queremos que os filhos tenham determinado comportamento para evitar o que nos
incomoda. Ou, pior ainda, queremos que sejam bons alunos para que possamos nos
vangloriar disso diante dos parentes, amigos etc.
Não
deveria haver outro objetivo na educação que não buscar a felicidade dos
filhos. Essa, como sabemos, não se obtém num caminho fácil e sempre prazeroso.
Exige esforços, renúncias e sacrifício. A busca do bem dos nossos filhos
deveria ser a razão mais fundamental das nossas ações educativas.
E
quando agimos de verdade com essa retidão de intenção, será mais fácil superar
os maus modos e as reclamações com as quais pretendemos – inutilmente – obter
deles melhoras significativas.
Certa
vez ouvi um bom conselho sobre esse tema: “Quando quiser corrigir um defeito ou
fomentar uma virtude, fale com paciência, dando as razões pelas quais se espera
determinado comportamento. Mas, sobretudo, tente você mesmo agir da maneira que
espera que eles ajam. É que quando empreendemos um caminho que se espera que os
outros também empreendam, estaremos mais capacitados para guiar. E, sobretudo,
seremos mais compreensivos, pois quando as dificuldades surgirem, nós próprios
as teremos experimentado em nosso caminhar”.
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