segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ociosidade juvenil

Muito se trabalhou pela erradicação do trabalho infantil em nosso País. De fato, há tristes páginas da nossa história que registram a situação de crianças e adolescentes prematuramente privadas de uma infância saudável ou mesmo da oportunidade de estudar para se dedicarem, muitas horas por dia, a trabalhos incompatíveis com sua idade e condição.
Precisamente por isso se buscaram inovações legislativas tendentes a coibir, com rigor, a exploração do trabalho infanto-juvenil. No entanto, vivenciamos hoje uma situação inversa, que bem pode ter consequências piores que aquelas que se pretendeu evitar.
Muitos jovens do nosso tempo, independentemente da classe social, perdem inúmeras horas do dia numa ociosidade que tende a minar valores imprescindíveis para a formação de uma personalidade equilibrada e saudável. E acredito que há dois ingredientes que agravam sobremaneira essa situação: a grade escolar adotada entre nós e a falsa crença de que as crianças e adolescentes não devem desempenhar nenhum tipo de trabalho.
Ao contrário de uma tendência quase que universal, que tem implementado o período integral de ensino, nosso País ainda insiste num sistema de “meio período”, tanto na rede pública como privada. E a consequência é que muitos pais veem-se diante da enorme dificuldade de manter ocupados os filhos por longas horas do dia.
E há uns ingredientes que agravam a triste saga dos pais. O primeiro é a ideia falsa, mas ao mesmo tempo muito difundida, de que os filhos não pode desempenhar nenhum tipo de trabalho. Com isso, poupam-nos de atividades que bem poderiam desempenhar.
Mas não é só. Muitos pais, atemorizados com a violência – real ou supervalorizada pela mídia –, poupam os filhos do mínimo esforço em tomar transportes públicos, por exemplo. E então vemos as mães aflitas e atribuladas, muitas horas por dia, levando na aula de inglês, na academia etc.
Agrava esse cenário a infindáveis horas em que permanecem com os amigos em conversas vazias e ociosas, bem como na INTERNET, na TV e nos jogos eletrônicos.
Penso que a gravidade do problema está a exigir ações corajosas e urgentes.
A primeira é repensar o papel da escola, bem como a jornada escolar. É impensável que, num futuro próximo, nos nossos filhos dediquem tão poucas horas por dia aos estudos. Há que se implementar a grade curricular incluindo atividades esportivas e culturais (literatura, pinturas, artes em geral) que não apenas preencham o tempo, mas que propiciem momentos capazes a contribuir para a formação saudável das suas personalidades.
Além disso, o próprio ambiente escolar pode e deve propiciar e fomentar o surgimento de iniciativas de voluntariado, que os movam a se abrir às necessidades dos outros e se lançarem a isso com toda a força de um coração juvenil.
E, também, os pais devem estimular a que os filhos auxiliem ativamente nas tarefas da casa. Desafio o leitor a encontrar onde está escrito no Estatuto da Criança e do Adolescente que eles não podem arrumar camas, guardar roupas, brinquedos e demais pertences etc. Onde está dito que não podem ter encargos em casa, como lavar louça, aparar a grama, ajudar os pais em pequenos consertos?
O trabalho enobrece e dignifica o homem. Canta poeticamente o Gonzaguinha:
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...
De fato, sem um trabalho não dá para ser feliz. Como então, preparamos nossos filhos e alunos para algo que lhes é tão fundamental para a sua felicidade? Dizem que a nadar se aprende nadando. Ora, com igual ou maior razão, trabalhar se aprende trabalhando, desde cedo, com atividades apropriadas a cada idade.

Independentemente da religião de cada um, é um dado histórico inquestionável que Jesus passou trinta anos da sua vida trabalhando, exercendo uma atividade comum. E mesmo nos anos da sua vida pública, dedicou-se a um incansável trabalho de pregar, de ensinar, de servir... Não seria o caso de imitarmos tão esplêndido exemplo na educação dos nossos filhos e alunos?

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