segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Educar para a liberdade

Um episódio que presenciei quando cursava a Universidade ficou muito bem gravado na memória. A cena se passou no chamado “bandejão” da faculdade. Uma aluna e um aluno conversavam descontraidamente. Apesar da discrição que tentavam manter, pude notar que falavam sobre o consumo de maconha nas festas do Centro Acadêmico. Num dado momento, a moça indagou ao rapaz: “Mas, por quê?”. Ele, com um ar de malandro e pouco afeto a questionamentos dessa natureza, respondeu: “Liberdade! Não liberdade vigiada, mas liberdade sem adjetivos!”.
Eis um conceito muito difundido de liberdade: ausência de freios ou, simplesmente, a possibilidade de fazer o que quiser, quando quiser e como quiser. Mas será esse o verdadeiro conceito de liberdade? Por outro lado, o que podem os pais fazer quando os filhos formam – talvez influenciados pela cultura e pelo ambiente – um falso conceito de liberdade?
Penso que é necessário que os pais tenham, primeiro, uma convicção sólida sobre o assunto. Se ainda não a tem, convém estudar, meditar e pedir conselho a quem o possa dar com critério e retidão de intenção. É que, na educação, como em quase tudo na vida, ninguém dá o que não tem. Logo, se queremos formar nossos filhos para o bom uso da liberdade, convém que saibamos o que é e que apliquemos em nossas vidas o que queremos transmitir-lhes.
Estou convencido de que a liberdade não é fazer o que bem entende. É, antes disso, a faculdade que temos de escolher em cada momento e circunstância das nossas vidas o que é melhor, o que contribui para alcançar o verdadeiro bem para nós e para aqueles com quem convivemos. Isso nos remete para outro aspecto, indissociável da liberdade, que é a responsabilidade. Ou seja, precisamente porque somos livres é que somos igualmente responsáveis pelos nossos atos e pelas nossas decisões.
Mas ainda que tenhamos uma noção muito clara, não é fácil transmiti-la aos filhos. Com efeito, não é simples formá-los para o bom uso da liberdade. Apesar disso, essa é uma grave obrigação dos pais.
Talvez nos ajude a compreender essa missão se compararmos o papel dos pais com o de um guia de alpinismo. Ninguém ousará dizer que os conselhos desse, ou mesmo a corda que os ata à rocha lhes tolhe a liberdade. São eles que os mantêm vivos. Algo semelhante acontece com os pais na educação dos filhos: guiam, orientam, inspiram, mas esses devem estar decididos a caminhar livremente com as próprias pernas.
Para que pai e mãe sejam autênticos guias devem cuidar de alguns detalhes que farão a diferença. Um deles é o ambiente familiar. Quanto ao aspecto material da casa, deve ser acolhedor, limpo e agradável, ainda que, por vezes, seja muito simples e modesto, como por certo seria o lar de Jesus em Nazaré. Mas mais importante ainda é saber construir um ambiente de paz e serenidade. A casa deve ser um lugar em que nos sentimos seguros e acolhidos. E cabe principalmente aos pais edificar, com sacrifício e abnegação, esse reduto onde os filhos possam crescer e trazer os amigos para desfrutar desse remanso.
Além disso, é fundamental a sintonia entre os genitores. Imaginemos como seria se dois guias que nos orientam na escalada se pusessem a discutir e a brigar diante de nós sobre o melhor caminho e a maneira mais adequada de segui-los. Os guiados ficariam atônitos e inseguros, quiçá duvidando da própria existência de uma via que os levasse ao cume, ou se vale a pena buscá-lo.

De igual modo, pode haver divergência de critérios entre o pai e a mãe. Mas eles devem buscar resolvê-los a sós, de modo que aos filhos transmitam a orientação segura e serena de quem ponderou muito sobre que caminhos trilhar nestas sendas fantásticas, ainda que por vezes penosas, que nos conduzem à Vida.

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