segunda-feira, 9 de julho de 2012

Elucubrações futebolísticas

Tive a grata satisfação de assistir, nas arquibancadas do Estádio do Pacaembu, a gloriosa conquista da Copa Libertadores pelo Corinthians. Estar presente com os filhos num campo de futebol, além de ser uma proeza um tanto desafiadora, pode ser ocasião para tirarmos interessantes reflexões. Com efeito, nessas concentrações multitudinárias, em que a paixão aflora vivamente nas pessoas, podem surgir elementos para conhecermos melhor o ser humano, os seus sonhos, o seu modo de ser, enfim, os seus anseios mais íntimos e profundos.
Inicialmente, cada um se dirige em busca do melhor local para assistir ao espetáculo. O outro, nesse momento, é apenas mais um torcedor, alguém que, em que pese a simpatia que desperta o fato de ter algo em comum, não representa nada ou quase nada para nós. Por vezes, é até um concorrente que nos impede de conseguir um assento melhor.
Quando os ânimos vão se acirrando, as barreiras que criamos e que nos mantinham confinados em nós mesmos vão cedendo, e então já entabulamos conversas amistosas e cheias de esperança com quem nunca havíamos visto antes. E eis que: “GOOOOOOL!”. E aí não há mais obstáculo algum. Abraçam-se, choram, cumprimentam-se efusivamente. E, o que é mais interessante: ninguém se incomoda que o vejam extravasar em lágrimas aquilo que até então mantínhamos bem envolvido com uma forte armadura em nosso interior.
E a festa segue... Levanta-se a taça há mais de um século esperada, a euforia continua... Porém, pouco a pouco, o outro vai se tornando o mesmo ser longínquo e distante, portador de um grande mistério dentro de si, onde nos é impossível ou muito difícil penetrar...
Talvez agora possamos dar asas à imaginação e considerar como seria aquele espetáculo se fôssemos o único torcedor naquele estádio. Penso que ainda que a vitória do nosso time fosse mais brilhante e arrasadora, não teria a menor graça. Isso talvez nos remeta a uma constatação: tudo aquilo que consideramos bom para nós precisa ser compartilhado com outras pessoas. Do contrário, ao pretendermos encerrar em nós mesmos qualquer benefício, pelo simples fato de o utilizarmos egoisticamente, aquilo que era um bem, deteriora-se e morre.
É inegável que nessas elucubrações sobre uma partida de futebol poderíamos encontrar aspectos negativos, também de certo modo arraigados na natureza humana. Podemos mencionar, por exemplo, a hostilidade com o adversário e intolerância que muitas vezes se manifesta com aqueles que não possuem a mesma preferência. Mas centremo-nos, hoje, nos aspectos positivos. Afinal, o Timão é campeão!
E dentre esses bons sentimentos que vislumbramos estampados no coração de cada homem e de cada mulher é o de querer propagar e difundir os amores que trazem guardados nos seus corações. Aflora evidente aqui que o outro é, para cada um de nós, uma oportunidade imperdível de exteriorizar aquilo que é mais marcante em cada ser humano: o amor.
É certo que esse amor não é só sentimento. Ainda que esse seja, muitas vezes, um importante meio para torna-lo conhecido, o amor deve assumir contornos mais racionais. E então gera compromissos sólidos e duradouros, que nos move a buscar o bem do outro.

Uma grande lição que talvez pudéssemos extrair é que o amor e a alegria somente são verdadeiros quando são comunicados àqueles que nos estão próximos: esposa, marido, filhos, pais, amigos, colegas de trabalho e todos com quem convivemos. Isso se traduzirá, muitas vezes, em pequenos gestos que demonstram nosso apreço. E, para fazê-lo, não é necessário esperarmos por grandes emoções. Tampouco se há de aguardar 102 anos... Podermos fazer com que seja algo constante e perene em nossas vidas, como o bater de um coração eternamente enamorado.

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