segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bullying: o outro lado do problema

Há aproximadamente dois anos manifestamos, nesta coluna, a preocupação com o aumento das agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas. Naquela oportunidade abordamos o problema do bullying sob a ótica do agressor. E sustentamos que a sua agressividade e reiterada falta de respeito com pode ter como causa uma baixa autoestima, ou mesmo um contexto familiar e social hostil, que os leva a descarregar nos mais fracos as próprias desventuras e frustrações.
Também apontamos, como possíveis soluções, que se fomente a autoestima e, a partir daí, o respeito pelo semelhante. No entanto, pode ocorrer que apesar de se criar um ambiente acolhedor e respeitoso, ainda assim alguns s insistam nessa prática perniciosa ao convívio social. Nesse caso, se haverá de ministrar um remédio amargo, mas muitas vezes eficaz, que é a punição.
No entanto, hoje gostaria de analisar o problema sob o enfoque da vítima do bullying. Não há como traçar um perfil completo dessa. Mas há alguns fatores que deixam os garotos ou as meninas mais vulneráveis. E um deles é a debilidade – não propriamente física – que os impedem de se impor e exigir o respeito que devido em cada situação. E talvez as características e os hábitos da família moderna fomentem isso. Vejamos.
Nas famílias numerosas de outrora os filhos eram como que treinados naturalmente a se fortalecerem no convívio social. Com efeito, desde cedo tinham de aprender a disputar um brinquedo, um lugar na mesa ou na sala. Sofriam pressão dos irmãos, ao mesmo tempo em que a faziam. Com isso, o próprio lar era um aprendizado constante de como se impor perante os demais e exigir o respeito que lhe é devido.
Atualmente, são muito frequentes as famílias de filhos únicos. E, como não tem com quem brincar, o computador passa a ser o “irmãozinho”. No entanto, o computador é extremamente dócil, não contraria os gostos pessoais, está sempre disponível para que se faça dele o que quiser, não faz pressão, não disputa, enfim, não impõe resistência alguma. Acontece que a criança assim formada estará muito pouco preparada para o convívio social.
E se, além disso, essa criança ou esse adolescente tiver a desgraça de ter pais superprotetores, então a situação será ainda mais grave. Isso porque essa atitude do pai ou da mãe anula os mecanismos de defesa, de modo que o único recurso passa a ser gritar por um deles diante da menor ameaça. No entanto, isso nem sempre será possível em suas vidas.
A propósito, permita-me o leitor fazer um parêntesis para dizer que um dia gostaria de ver uma tese científica que analise o aumento das demandas judiciais na proporção da educação ministrada. É que pouco se estimula os jovens e as crianças, seja no ambiente familiar seja no escolar, a resolverem por si sós os atritos. Fomenta-se que diante do menor desentendimento a questão seja levada ao professor, à direção ou aos pais.
Com isso, promove-se apenas a heterocomposição, que consiste em recorrer a um terceiro para solucionar um problema, em detrimento da autocomposição, que é aquela que os próprios interessados buscam uma solução. Deixo, então, a pergunta: essas pessoas assim educadas, quando atingirem a fase adulta e não tiverem mais os pais e professores para solucionar os seus conflitos, como os resolverão? Buscarão a solução por meio de demandas judiciais?

O bullying é um problema complexo, que não comporta análise simplista, nem há soluções mágicas. Mas um meio bem eficiente para combatê-lo é formar filhos e alunos suficientemente fortes para enfrentar esse e outros desafios que o mundo lhes trará. Não nos referimos, evidentemente, a uma força física capaz de “dar o troco” às agressões. A violência nunca é o melhor caminho. Trata-se de transmitir aos nossos filhos e alunos um sentido profundo e verdadeiro para as suas vidas. Isso lhes dará a segurança e a fortaleza para se portarem em cada ambiente com o destemor de quem sabe de onde vem e para onde vai. E esse senhorio de si é precisamente o que mais afugenta a atitude covarde e insana dos agressores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário