Há algumas semanas comentamos, nesta coluna, os
recentes resultados do censo divulgados pelo IBGE. E um dado que desperta a
atenção é a drástica redução na taxa de fecundidade no Brasil, que está abaixo
do índice de reposição populacional. A persistir essa tendência, a nossa
população começará a diminuir e, como uma das consequências desse fenômeno, já está
envelhecendo.
Cabe ao casal – e a mais ninguém – decidir sobre o
número de filhos que terão. O Estado não pode jamais interferir nesta decisão, obstar
ou dificultar seu exercício sem atentar contra esse direito inato dos pais e
das famílias.
Mas uma decisão tão importante como essa para a
família e para a sociedade deve estar embasada em critérios seguros, que
promovam a dignidade da pessoa humana.
Quando se fala em paternidade responsável, quase que
intuitivamente nos vem à mente o controle da natalidade, especialmente nas
famílias de baixa renda. De fato, pode haver uma atitude irresponsável dos pais
que têm filhos sem assegurar um mínimo de condições econômicas para lhes prover
o sustento. Independentemente da renda, a irresponsabilidade pode manifestar-se
numa falta de disposição efetiva de educá-los com esmero até atingirem a vida
adulta. Mas, não será também uma irresponsabilidade dos pais abastados que
optam por ter um único filho para entupi-los de presentes, eletrônicos e
viagens como paliativos para suprir a sua ausência, substituindo a educação que
deviam dar pelos cuidados de babás, berçários, colégios etc.?
São muitos os fatores que os pais têm de considerar
ao tomar essa decisão. Mas não deveriam ignorar o que os próprios filhos pensam
a respeito. Outro dia, organizando umas gavetas, encontrei uma antiga redação
de um dos meus filhos que vale a pena ser lida e meditada:
O que é um irmão mais novo?
Inimigo que não
consegue se separar de você e, ao mesmo tempo, amigo que não consegue ficar
junto, um irmão mais novo é uma chatice quando você está com raiva, um tesouro
quando você está solitário.
Ele pode até
servir de saco de pancadas às vezes, mas é a melhor coisa do mundo.
Você pode o
encontrar zombando de você, falando mal de você, de suas características...,
mas sempre está comentando sobre o irmão mais velho.
Ajudá-lo na
lição de casa, ensiná-lo truques para o jogo de futebol, são coisas típicas que
você vai ter que fazer para ele; às vezes irrita, mas depois você se sente
orgulhoso de ele tirar notas altas ou se dar bem no futebol, porque você o
auxilia, depois da mãe ou do pai.
O irmão é um
tesouro. Tem a disposição de brincar com você a hora que você quer (quando não
estão brigados). Quando ele vai bater papo, pode dormir que a conversa nuca
mais termina...
O irmão é a
beleza fazendo xixi na cama, a verdade toda vez indo à diretoria, a sabedoria
só te irritando. Mas quando termina a aula, você pensando que o vai matar, com
aquela dor de cabeça de semana de provas, quatro palavras dele levam você do
inferno ao céu: “E ai mano, beleza?”.
Ouvi certa vez umas simples e sábias palavras atribuídas
à Madre Tereza de Calcutá: “Paternidade responsável é ter filhos e educá-los”.
De fato, sem filhos, não há paternidade. E, se não são educados com esforço e
dedicação, não há responsabilidade da parte dos pais.
Depois dessas considerações talvez possamos ainda nos
questionar: mas qual é a medida para isso? Evidentemente não encontraremos a
resposta em meros números: um, dois, cinco, dez... Talvez a encontremos, porém,
em nossas convicções acerca da própria vida. Com efeito, se a encaramos como um
tempo de que dispomos para desfrutar, para extrair dela o máximo de proveito
que pudermos, os filhos serão, muitas vezes, obstáculos que nos impedem de
“curtir a vida”. No entanto, se essa nossa breve existência for considerada
como um imenso dom, a ser desfrutado sim, mas, sobretudo, a ser vivido em
benefício dos outros, encontrando precisamente nisso a felicidade, então é
natural que se queira compartilhar tão imensa alegria com outros seres, cuja
existência depende da nossa generosidade.
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