Nesses dias festivos, também encontramos muitas
pessoas melancólicas e chorosas com a recordação do esposo ou da esposa que já
partiram, ou dos filhos que deixaram a casa dos pais. Além disso, com o passar
dos anos, muitos dos nossos projetos ficam esquecidos e alguns dos nossos
sonhos, que tínhamos por fundamentais para a nossa felicidade, agora se mostram
inacessíveis.
Esses dias de final de ano são propícios para
fazermos um balanço de nossas vidas, ao mesmo tempo em que formulamos propósitos
para o próximo ano. Ao fazê-lo, porém, talvez sejamos surpreendidos por certa
dúvida, acompanhada de uma dose de desalento: “será possível sermos felizes até
o último dos nossos dias, apesar dos imensos dissabores e frustrações que a
vida nos tem reservado?”.
Penso que muito ajudaria as pessoas de nosso tempo a
dar um sentido às suas vidas se soubéssemos construir uma sociedade mais humana
e fraterna, em que os idosos fossem de verdade acolhidos e amparados e onde as
crianças recebessem o carinho e a atenção de seus pais.
No entanto, ainda que as condições externas
influenciem, elas nunca são determinantes. O segredo da felicidade e da
realização não está no modo de ser dos outros, nem nas condições do mundo que
nos cerca, mas em cada um de nós. Se nos indagamos sobre os motivos que nos
impedem de sermos felizes, talvez encontremos respostas do tipo: “se a minha
esposa fosse mais...”, “se o meu marido se preocupasse com...”, “se os meus
filhos...”, “se as pessoas em geral fossem mais...” etc.
Certa vez um amigo me relatou as adversidades por que
passou em um só dia. Programou uma pescaria com os filhos, mas amanheceu
chovendo. Mudou os planos e resolveram ir ao cinema, mas, no trajeto, o pneu
furou. Após muito custo e ensopado pela chuva chegou ao destino, quando não
mais havia ingressos disponíveis. E os contratempos não pararam por aí...
Quando estava a ponto de explodir de nervos, como que por inspiração, veio-lhe
a seguinte consideração: “quem é que deu às condições climáticas, ao pneu de um
carro ou a um cinema o poder de definir o meu estado de humor?”. De fato, não
está ao nosso alcance mudar o mundo ou as pessoas com quem convivemos, mas nos
é bem acessível mudarmos a nós mesmos, as nossas reações diante disso tudo.
Isso não quer dizer que devamos ser indiferente aos
demais. Bem ao contrário, muito podemos fazer para tornar-lhes mais amável a
vida. O erro em que muitas vezes incorremos é colocar nos outros, em seu modo
de ser e de agir, a responsabilidade por nossas próprias frustrações.
Mas essa luta constante por sermos pessoas melhores
não basta para encontrarmos a felicidade a que tanto aspiramos. Há ainda
algumas indagações existenciais que todo homem e toda mulher precisa responder
sob pena de serem absorvidas por um imenso vazio interior: De onde vim? Para
onde vou? O que estou fazendo aqui? Para que me foi dado esse dom maravilhoso
da vida?
Há uma razão mais profunda que dá sentido a cada
momento de nossas vidas. Trata-se da missão que recebemos para desempenhar
nesse mundo, ou, para aqueles que têm fé, estamos falando da nossa vocação, do
chamado que todos recebemos. Da fidelidade a essa missão ou do nosso sim a esse
chamado é que depende, fundamentalmente, a nossa felicidade.
Para um homem e uma mulher casados isso estará muito
relacionado com o cuidar do seu cônjuge. Para o pai e para mãe se traduzirá,
também, no cuidado com a educação dos filhos. Faz parte dessa missão o trabalho
profissional, as relações sociais etc. Mas, se analisarmos bem, de um modo ou
de outro tudo isso passa. Pode-se perder o companheiro ou a companheira, os
filhos saem de casa e tomam o seu rumo, um dia nos aposentamos de nosso
trabalho, mudamos de profissão etc. E então o que fica?
Fica o caminho a seguir e a companhia do Amigo que
nos chamou a caminhar. Ele mesmo caminha conosco, inundando-nos de alegria na
esperança. Orienta os nossos passos com a luz da fé. E quando nos vem o
desalento, faz-nos transbordar de júbilo ao considerar o Amor com que nos criou.
E no fim desse caminhar, aguarda-nos com um abraço de um Pai que nos ama
incondicionalmente e que precisamente por isso nos criou com um anseio de
felicidade eterna que somente Ele pode aplacar.