segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O alerta do IBGE

Os dados do último censo do IBGE revelam que a taxa de fecundidade no Brasil desabou de 2,38 filhos por mulher, em 2.000, para 1,86 em 2.010, ficando abaixo do índice de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. Os nossos números são inferiores aos de países como EUA e França! Outro dado digno de nota é a taxa geral de divórcio, que atingiu em 2010 o seu maior valor desde o início da série histórica das Estatísticas do Registro Civil, em 1984, o que representa um acréscimo de 36,8% no número de divórcios em relação a 2009.
Confesso que não gosto de analisar o ser humano pelo estreito ângulo de uma pesquisa estatística. É que cada homem e cada mulher são tão incrivelmente únicos e irrepetíveis que é impossível colocá-los em gráficos ou reduzi-los a números. Feita essa ressalva, porém, os resultados apontam para problemas evidentes que nossa sociedade enfrentará em breve.
Com a queda na taxa de fertilidade da mulher é evidente que teremos um enorme contingente de filhos únicos. Não pretendemos tecer críticas aos casais que fazem livremente essa opção. No entanto, sabemos que a ausência de irmãos impõe para os pais um trabalho muito maior de socialização dos filhos, na medida em que essa situação propicia o surgimento de pessoas mais egocêntricas, pois não tiveram em suas famílias outras pessoas com quem compartilhar o tempo, os bens, a atenção dos pais etc. Assim, um primeiro questionamento que devemos nos fazer é: estamos preparados para formarmos essas crianças para o convívio social? Como poderemos incutir nelas noções de generosidade e abertura aos outros?
Por outro lado, os economistas já preveem um verdadeiro colapso na previdência pública. Trata-se de um conceito elementar de qualquer regime previdenciário que as contribuições da população economicamente ativa sustentam as aposentadorias, auxílio-doença, auxílio-acidente etc. Num cenário em que a expectativa de vida aumenta e a natalidade diminui, qual será o valor que cada cidadão deverá contribuir para manter um sistema equilibrado?
Além disso, se juntarmos os dois ingredientes, quais sejam, redução da natalidade e formação de pessoas mais centradas em si, como serão atendidos os nossos idosos? É intuitivo que muitos não poderão ser cuidados pelos filhos, que terão as suas muitas ocupações e, muitas vezes, nenhum irmão com quem compartilhar essa tarefa. Para os que veem nos números oportunidades de negócio talvez já estejam prevendo que as “casas de repouso” serão um rentável empreendimento.
E nesse quadro já sombrio temos de carregar ainda mais com o crescente número de lares desfeitos. Não se trata de um dado irrelevante, uma simples característica do mundo moderno. O divórcio está para a família como a falência está para a empresa. Quando um empreendimento vem a quebrar, busca-se então a melhor forma de vender o acervo patrimonial que era empregado a alguma atividade produtiva para, com isso, pagar as dívidas contraídas, muitas vezes decorrentes de uma má gestão do empreendimento. Acontece que na família o “capital” investido somos nós mesmos, as nossas próprias vidas, do qual muitas vezes nos renderam “dividendos” de valor inestimável, que são os filhos. Não se trata, portanto, de simplesmente liquidar um patrimônio para saldar os débitos, mas de destruir um empreendimento no qual investimos a nós próprios e no qual os nossos filhos vieram ao mundo.
Ainda que alarmantes, que não devemos nos preocupar excessivamente com os números, mas com o que estamos construindo em nossa volta, em especial na nossa família. Há pouco tempo tive a satisfação de estar com um casal que ficou famoso na Espanha e na Europa por terem dezesseis filhos. Na verdade tiveram dezoito e perderam dois. Numa entrevista, alguém perguntou à esposa e mãe o motivo por terem uma família tão numerosa. Ela simplesmente deu um afetuoso beijo no rosto do marido e respondeu: “Porque eu amo esse homem. É uma alegria imensa trazer filhos ao mundo e educa-los com responsabilidade, pois sabemos que eles serão frutos desse amor que temos um pelo outro”. Assim, fiquemos tranquilos e serenos. Afinal, nem tudo se mede com os números.


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