Os dados do último censo do IBGE revelam que a taxa
de fecundidade no Brasil desabou de 2,38 filhos por mulher, em 2.000, para 1,86
em 2.010, ficando abaixo do índice de reposição populacional, que é de 2,1 filhos
por mulher. Os nossos números são inferiores aos de países como EUA e França!
Outro dado digno de nota é a taxa geral de divórcio, que atingiu em 2010 o seu
maior valor desde o início da série histórica das Estatísticas do Registro
Civil, em 1984, o que representa um acréscimo de 36,8% no número de divórcios
em relação a 2009.
Confesso que não gosto de analisar o ser humano pelo
estreito ângulo de uma pesquisa estatística. É que cada homem e cada mulher são
tão incrivelmente únicos e irrepetíveis que é impossível colocá-los em gráficos
ou reduzi-los a números. Feita essa ressalva, porém, os resultados apontam para
problemas evidentes que nossa sociedade enfrentará em breve.
Com a queda na taxa de fertilidade da mulher é
evidente que teremos um enorme contingente de filhos únicos. Não pretendemos
tecer críticas aos casais que fazem livremente essa opção. No entanto, sabemos que
a ausência de irmãos impõe para os pais um trabalho muito maior de socialização
dos filhos, na medida em que essa situação propicia o surgimento de pessoas
mais egocêntricas, pois não tiveram em suas famílias outras pessoas com quem
compartilhar o tempo, os bens, a atenção dos pais etc. Assim, um primeiro
questionamento que devemos nos fazer é: estamos preparados para formarmos essas
crianças para o convívio social? Como poderemos incutir nelas noções de
generosidade e abertura aos outros?
Por outro lado, os economistas já preveem um
verdadeiro colapso na previdência pública. Trata-se de um conceito elementar de
qualquer regime previdenciário que as contribuições da população economicamente
ativa sustentam as aposentadorias, auxílio-doença, auxílio-acidente etc. Num
cenário em que a expectativa de vida aumenta e a natalidade diminui, qual será
o valor que cada cidadão deverá contribuir para manter um sistema equilibrado?
Além disso, se juntarmos os dois ingredientes, quais
sejam, redução da natalidade e formação de pessoas mais centradas em si, como
serão atendidos os nossos idosos? É intuitivo que muitos não poderão ser
cuidados pelos filhos, que terão as suas muitas ocupações e, muitas vezes,
nenhum irmão com quem compartilhar essa tarefa. Para os que veem nos números
oportunidades de negócio talvez já estejam prevendo que as “casas de repouso”
serão um rentável empreendimento.
E nesse quadro já sombrio temos de carregar ainda
mais com o crescente número de lares desfeitos. Não se trata de um dado
irrelevante, uma simples característica do mundo moderno. O divórcio está para
a família como a falência está para a empresa. Quando um empreendimento vem a
quebrar, busca-se então a melhor forma de vender o acervo patrimonial que era
empregado a alguma atividade produtiva para, com isso, pagar as dívidas
contraídas, muitas vezes decorrentes de uma má gestão do empreendimento.
Acontece que na família o “capital” investido somos nós mesmos, as nossas
próprias vidas, do qual muitas vezes nos renderam “dividendos” de valor
inestimável, que são os filhos. Não se trata, portanto, de simplesmente
liquidar um patrimônio para saldar os débitos, mas de destruir um
empreendimento no qual investimos a nós próprios e no qual os nossos filhos
vieram ao mundo.
Ainda que alarmantes, que não devemos nos preocupar excessivamente
com os números, mas com o que estamos construindo em nossa volta, em especial
na nossa família. Há pouco tempo tive a satisfação de estar com um casal que
ficou famoso na Espanha e na Europa por terem dezesseis filhos. Na verdade
tiveram dezoito e perderam dois. Numa entrevista, alguém perguntou à esposa e
mãe o motivo por terem uma família tão numerosa. Ela simplesmente deu um
afetuoso beijo no rosto do marido e respondeu: “Porque eu amo esse homem. É uma
alegria imensa trazer filhos ao mundo e educa-los com responsabilidade, pois
sabemos que eles serão frutos desse amor que temos um pelo outro”. Assim,
fiquemos tranquilos e serenos. Afinal, nem tudo se mede com os números.
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