Na
semana passada falamos sobre como superar as crises conjugais. E o fizemos
propondo uma nova perspectiva para o relacionamento. Ou seja, é necessário
mudar o foco, deixar de ver apenas os defeitos e limitações do outro para
olharmos para nós mesmos e meditarmos em que medida temos de lutar para
mudarmos e, a partir dessas mudanças, edificarmos o casamento sobre bases mais
sólidas. E concluímos que o segredo da felicidade no matrimônio é buscar fazer
o outro feliz. Hoje, podemos acrescentar um ingrediente: como recuperar o
apreço pelo cônjuge?
É
certo que o compromisso assumido voluntariamente pelos cônjuges, no chamado
pacto conjugal, é o que dá sustentação ao matrimônio. Ao dizerem sim
reciprocamente um ao outro ambos assumiram o compromisso de querer quererem
cada vez mais o outro. Ou seja, não se comprometem a manter incólume o
sentimento, mas a buscar alimentar, dia após dia, o amor que os uniu.
No
entanto, esse compromisso assumido num determinado momento não terá a devida
força se não se traduzir em atos e decisões concretas em suas vidas, todos os
dias. Daí surge a importância das pequenas coisas na vida do casal. É uma
delicadeza que o marido faça ao chegar a casa, trazendo umas flores, por
exemplo, ainda que não haja um motivo especial para isso. É, também, o empenho
da mulher em estar atraente e bem-humorada para receber o marido. Assim, o que
verdadeiramente dá sustentação ao casamento é a qualidade dos momentos que o
marido e a mulher passaram juntos.
É
importante notar que a qualidade do tempo compartilhado não depende
essencialmente de serem eles em si tristes, alegres ou indiferentes, mas da
maneira edificante ou destrutiva com que foram vividos. Assim, por exemplo, uma
tragédia familiar em que o marido esteve do lado da esposa, apoiando-o,
compreendendo-a e amparando-a poderá vir a reforçar os laços entre eles. E, por
outro lado, uma viagem de férias em que cada qual esteja com o pensamento
centrado em si, nos próprios gostos e caprichos e se esqueça por completo do
outro, poderá vir a ser ocasião de afastar ainda mais o casal.
Numa
crise conjugal é provável que cada qual olhe para a vida passada e veja apenas
maus momentos, ou ao menos que os veja mais acentuadamente nos últimos anos,
talvez trazendo saudades de outros tempos em que se vivia em harmonia. Além
disso, com os anos vem o peso das expectativas frustradas: “Em pensava que, com
os anos, ele...”; ou: “eu não esperava que ela se tornasse uma...”. Nesse
contexto, é comum que se perca o apreço pelo outro, que vejamos nele apenas os
defeitos, ou, pior ainda, como o responsável pela própria infelicidade.
É
fundamental, portanto, que haja um esforço por recuperar o apreço pelo nosso
cônjuge. Não se trata de encobrir os defeitos, quiçá patentes e inegáveis dele
ou dela. Contudo, é muito comum que coloquemos uma lente potentíssima de
aumento os seus defeitos e, por outro lado, desenvolvamos uma terrível miopia
para enxergar as suas qualidades. E, nesses momentos, o nosso esforço deve ser
na direção contrária, ou seja, procurar ver e valorizar o que há de bom no
nosso marido ou na nossa esposa.
É bem
verdade que muito contribuirá para recuperarmos o apreço quando notarmos uma
sincera vontade de melhora no outro. Contudo, mesmo sem isso, toda pessoa
possui virtudes a serem admiradas e valorizadas. Basta que se tenha bons olhos
para enxergar.
Nesse
intento, convém travar uma verdadeira batalha contra os pensamentos
distorcidos, que muitas vezes aparecem numa espécie de murmuração interior que
nos leva a formar juízos críticos e negativos, no mais das vezes irreais e
injustos. Por exemplo, ao notar um objeto fora do lugar, talvez nos
surpreendamos em elucubrações mentais do tipo: “é um desordeiro mesmo, já
deixou isso jogado de novo”. E os exemplos disso são inúmeros.
É
conhecida a diferente forma de enxergar uma mesma realidade entre um pessimista
e um otimista. O primeiro, vendo um copo com água até a metade, dirá: “está
quase vazio”, ao passo que o otimista dirá que “está quase cheio”. Ao
analisarmos o nosso cônjuge é fundamental essa visão otimista, que saiba
colocar uma lente de aumento em suas virtudes, ao mesmo tempo em que lembra dos
defeitos apenas para ajuda-lo no momento oportuno e da maneira adequada, ou
seja, por amor.
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