Ontem
foi dia dos pais. Num mundo em constante mudança talvez nos perguntemos o que é
ser pai hoje. Com efeito, numa sociedade globalizada, com a utilização cada vez
maior da informática na comunicação entre as pessoas, o que permite criar uma
gama de relacionamentos imensa, ainda que quase sempre superficiais, pode-se
dizer que a família e, em especial a paternidade, terá a sua importância
diminuída na formação dos seres humanos?
Enquanto
me faço essa indagação vêm-me à memória um acontecimento da minha infância. Às
vésperas do primeiro dia de aula, pedi ao meu pai que me comprasse uma mochila.
Ele saiu no início da tarde a um compromisso numa cidade vizinha. Ao final do
dia, quando retornou, fui correndo ansioso ao seu encontro e, sem rodeios, perguntei-lhe
sobre a minha encomenda. Ele fingiu por alguns minutos ter se esquecido, porém,
logo em seguida, deu-me um forte abraço com o embrulho nas mãos enquanto me
dizia: “claro que trouxe a sua mochila! Como poderia me esquecer desse dia tão
importante?!”.
Esse
acontecimento ficou gravado de forma indelével na memória porque o pequeno
gesto me fez sentir que sou verdadeiramente importante para ele. Há alguns anos
ganhou notoriedade uma série de comerciais de um medicamento veiculados na TV.
Todos terminavam com a mesma frase: “não basta ser pai, tem que participar”. E
depois seguia um simpático anúncio do produto. De fato, temos de demonstrar que
nos importamos com eles. Mais ainda, que enquanto vivermos não desistiremos
jamais do propósito de orientá-los nessa busca pela verdadeira felicidade a que
tanto anseiam, ainda que não digam.
Mas
um grande desafio que enfrentamos no mundo atual é continuar a exercer o
protagonismo na formação dos nossos filhos. É inegável que o mundo mudou muito.
Nossos filhos têm inúmeras e variadas oportunidades de se relacionarem com
outras pessoas. Com frequência buscarão nelas modelos que os inspiram,
diminuindo a influência do pai como exemplo a ser imitado. No entanto, essa
realidade não nos autoriza a “lavarmos as mãos” ou simplesmente nos curvarmos
diante de uma situação que aparentemente refoge ao nosso controle. É necessário
descobrirmos, com criatividade, espírito de observação e tenacidade o que é
importante para os nossos filhos, o que eles gostam e quais são os valores que
se cultivam no seu círculo de amizades.
Ser
pai, hoje, é saber espremer o tempo, ser generoso em sacrificar os gostos e
preferências pessoais para estar com os filhos neste mundo bem real, ainda que
por vezes também estreitamos os laços e dizemos que os amamos através de uma
webcam ou descontraidamente em um bate-papo virtual.
Uma
cena bem interessante do recente lançamento Smurfs – O Filme, reproduz o
diálogo entre Neil Patrick Harris, que interpreta o rapaz que hospeda os
bichinhos, e o Papai Smurf.
Preocupado com a vinda do primeiro filho e a possibilidade de perder o emprego,
Neil pergunta se o boneco animado não sente o peso da responsabilidade de ter
outras vidas que dependem dele. Então o Papai
Smurf aponta para o peito do ator e lhe diz que no momento certo, se ele
ouvir a voz do coração, saberá o que fazer.
A
cena é mesmo comovente. De fato, qual é o pai que nunca sentiu o peso da
responsabilidade? Mais ainda, quem nunca sentiu que a missão que nos está
confiada supera em muito às nossas forças, os nossos talentos? Mas apesar
disso, também podemos constatar que no momento certo sempre encontramos os
meios para enfrentar qualquer situação, por pior que pareça. É que a
paternidade traz consigo uma força que não sabemos de onde vem. Ou melhor, sabemos,
ainda que muitas vezes tardamos em reconhecer. Aquela
criaturinha que um dia tomamos no colo na maternidade anseia muito por ter um
pai de verdade nesta vida. Mas nós somente saberemos desempenhar tão sublime
missão se reconhecermos que todos nós temos também um Pai que sempre vela por
nós, com eterno e infinito amor.
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