segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ser pai

Ontem foi dia dos pais. Num mundo em constante mudança talvez nos perguntemos o que é ser pai hoje. Com efeito, numa sociedade globalizada, com a utilização cada vez maior da informática na comunicação entre as pessoas, o que permite criar uma gama de relacionamentos imensa, ainda que quase sempre superficiais, pode-se dizer que a família e, em especial a paternidade, terá a sua importância diminuída na formação dos seres humanos?
Enquanto me faço essa indagação vêm-me à memória um acontecimento da minha infância. Às vésperas do primeiro dia de aula, pedi ao meu pai que me comprasse uma mochila. Ele saiu no início da tarde a um compromisso numa cidade vizinha. Ao final do dia, quando retornou, fui correndo ansioso ao seu encontro e, sem rodeios, perguntei-lhe sobre a minha encomenda. Ele fingiu por alguns minutos ter se esquecido, porém, logo em seguida, deu-me um forte abraço com o embrulho nas mãos enquanto me dizia: “claro que trouxe a sua mochila! Como poderia me esquecer desse dia tão importante?!”.
Esse acontecimento ficou gravado de forma indelével na memória porque o pequeno gesto me fez sentir que sou verdadeiramente importante para ele. Há alguns anos ganhou notoriedade uma série de comerciais de um medicamento veiculados na TV. Todos terminavam com a mesma frase: “não basta ser pai, tem que participar”. E depois seguia um simpático anúncio do produto. De fato, temos de demonstrar que nos importamos com eles. Mais ainda, que enquanto vivermos não desistiremos jamais do propósito de orientá-los nessa busca pela verdadeira felicidade a que tanto anseiam, ainda que não digam.
Mas um grande desafio que enfrentamos no mundo atual é continuar a exercer o protagonismo na formação dos nossos filhos. É inegável que o mundo mudou muito. Nossos filhos têm inúmeras e variadas oportunidades de se relacionarem com outras pessoas. Com frequência buscarão nelas modelos que os inspiram, diminuindo a influência do pai como exemplo a ser imitado. No entanto, essa realidade não nos autoriza a “lavarmos as mãos” ou simplesmente nos curvarmos diante de uma situação que aparentemente refoge ao nosso controle. É necessário descobrirmos, com criatividade, espírito de observação e tenacidade o que é importante para os nossos filhos, o que eles gostam e quais são os valores que se cultivam no seu círculo de amizades.
Ser pai, hoje, é saber espremer o tempo, ser generoso em sacrificar os gostos e preferências pessoais para estar com os filhos neste mundo bem real, ainda que por vezes também estreitamos os laços e dizemos que os amamos através de uma webcam ou descontraidamente em um bate-papo virtual.
Uma cena bem interessante do recente lançamento Smurfs – O Filme, reproduz o diálogo entre Neil Patrick Harris, que interpreta o rapaz que hospeda os bichinhos, e o Papai Smurf. Preocupado com a vinda do primeiro filho e a possibilidade de perder o emprego, Neil pergunta se o boneco animado não sente o peso da responsabilidade de ter outras vidas que dependem dele. Então o Papai Smurf aponta para o peito do ator e lhe diz que no momento certo, se ele ouvir a voz do coração, saberá o que fazer.

A cena é mesmo comovente. De fato, qual é o pai que nunca sentiu o peso da responsabilidade? Mais ainda, quem nunca sentiu que a missão que nos está confiada supera em muito às nossas forças, os nossos talentos? Mas apesar disso, também podemos constatar que no momento certo sempre encontramos os meios para enfrentar qualquer situação, por pior que pareça. É que a paternidade traz consigo uma força que não sabemos de onde vem. Ou melhor, sabemos, ainda que muitas vezes tardamos em reconhecer. Aquela criaturinha que um dia tomamos no colo na maternidade anseia muito por ter um pai de verdade nesta vida. Mas nós somente saberemos desempenhar tão sublime missão se reconhecermos que todos nós temos também um Pai que sempre vela por nós, com eterno e infinito amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário