segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Jornada Mundial da Juventude 2

Encerrou-se ontem a XXVI Jornada Mundial da Juventude. Durante uma semana, milhões de jovens do mundo todo encheram as ruas e praças de Madri com a sua alegria, com o seu amor e com a sua fé. Agora que a festa chegou ao fim, quando todos arrumam suas mochilas para retornarem às suas casas, convém que nos lancemos uma indagação fundamental: o que essa jornada representou e representará para a humanidade?
Esses jovens, durante esses dias, exerceram um direito inalienável de todo ser humano: o de manifestar publicamente a sua fé. Estado laico não é sinônimo de ateísmo oficial. Tampouco a laicidade do Estado impõe que a fé seja relegada a um âmbito estritamente privado. Com efeito, se todos podem reunir-se para fins pacíficos em locais abertos ao público, independentemente de autorização, por certo que o podem fazer para celebrar a manifestar a fé.
Vivemos num mundo conturbado. Ao mesmo tempo que de Madri nos sopram ares de uma juventude alegre e pacífica, da Inglaterra nos chegam imagens de baderna e destruição. É inegável que vemos hoje uma Europa depauperada e decadente, mas é preciso reconhecer que a crise maior por que passa não é econômica, mas de valores. Presas do hedonismo, do consumismo, do materialismo e do relativismo, vemos pessoas que correm de um lado a outro sem um sentido profundo para as suas vidas. E o vazio interior decorre precisamente de se esquecerem do caráter transcendente que marca a natureza humana e que nos move a abrirmo-nos aos demais, projetando as nossas vidas para muito além dessa fugaz e passageira realidade.
Muito se fala e se prega sobre a paz e nosso tempo. No entanto, temos de reconhecer que somente haverá paz no mundo se soubermos fazer com que ela reine primeiro nos corações de cada homem e de cada mulher. Com efeito, a paz dos tratados e acordos internacionais, no mais das vezes construída sobre ajustes de interesses em conflito, ainda que importante, é frágil e não dura muito se não for acompanhada de uma mudança interior das pessoas que hão de zelar por ela.
A Jornada Mundial da Juventude se realizou sob duras críticas: “Onde já se viu gastar milhões de euros num evento desses, em meio a uma dura crise econômica que assola a Espanha e a Europa!”, questionam seus opositores. Tais críticos não enxergam, ou não querem enxergar, que os recursos vieram em grande parte dos próprios participantes, que muitas vezes com sacrifício pessoal deixaram de gastar em roupas, festas etc. para estar ali. Além disso, num país em que o turismo representa parte considerável da receita, tal evento implica uma importante fonte de recursos a mitigar os efeitos da recessão econômica.
Aliás, quanto a essa crítica, permita-me o leitor abrir um parêntesis para deixar uma mensagem aos cristãos: esse argumento é velho. Lembram-se de quando uma mulher quebrou um vaso de nardo puro e de grande preço e ungiu os pés do Mestre? O traidor, cheio de inveja, disse: “Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?”. Mas ele não dizia isso porque se preocupava com os pobres, mas “porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela se lançavam”. Caros jovens, não se preocupem, fiquem tranquilos e em paz, pois fizeram uma grande coisa por Ele.

Em Madri reluziu ontem uma chama. Esses milhões de jovens que abarrotavam o aeródromo Quatro Ventos retornarão aos quatro cantos do mundo e ali em seus colégios, em suas Universidades e em suas famílias serão sal e luz, iluminando com a sua fé os caminhos de muitos que perambulam numa existência vazia e sem sentido. E darão sabor às realidades terrenas onde intervirão. Nelas ressurgirá a esperança de um mundo melhor. Brilharão como um sinal de que Deus existe e está em nosso meio. E então com a força do amor saberão reconstruir o que estava perdido, a começar pela alegria em nossos corações.

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