Certa vez ouvi uma crítica feita por um colega à Lei
que então fixava um tempo mínimo de casamento para que pudesse ocorrer o
divórcio ou a separação. Dizia ele: “trinta dias de convivência com uma pessoa são
suficientes para saber se dá ou não para levar o relacionamento adiante”. Em
outra oportunidade, uma pessoa afirmava que o seu casamento havia naufragado,
dizia: “não dá para explicar, a minha química não bate com a dela, entende?”. Mas
qual será o conceito que se tem do amor conjugal ao se fazer tais afirmações?
Penso que o amor matrimonial possui algumas fases ou
etapas que necessitam ser percorridas até que se atinja a sua essência.
A primeira consiste na atração física. Ocorre quando
contemplamos alguém que simplesmente nos é atraente. Não se trata propriamente
de um sentimento, que é um pouco mais profundo, mas de uma mera sensação. Tanto
é assim que podemos ter essa atração por uma pessoa cuja imagem vimos numa
revista ou por uma atriz (ou ator) a quem somente conhecemos através dos papéis
desempenhados num filme ou numa telenovela.
Talvez seja a essa sensação que se referia como
“química” do relacionamento. E muitos relacionamentos limitam-se a isso. Assim,
mantém-se a disposição de estar com ela apenas enquanto for capaz de despertar
a mesma atração que a Julia Roberts, ou até que ele não seja menos charmoso que
o Bruce Willis. Com isso, não será muito duro de matar esse “amor”.
O relacionamento conjugal que leva duas pessoas a se unirem
não se pode limitar a essa mera sensação. Num segundo momento surge o
enamoramento. Nessa fase se poder exclamar: “Que bom é estar com ela (ele)!”.
Trata-se de uma fase mais afetiva e elevada que a anterior. Nela se vai
descobrindo a pessoa do outro, a sua verdade, a sua personalidade, seus gostos
etc. É essa etapa infinitamente mais rica e prazerosa, pois a satisfação que
proporciona é também afetiva e não apenas física. E isso porque toca numa
dimensão superior do ser humano que é a do sentimento.
No entanto, essa dimensão também não atinge a essência
do amor conjugal. Aliás, penso que o insucesso de muitos relacionamentos se
deve ao fato de buscarem apoio exclusivamente no seu aspecto sensível. Chamam
de amor a esse sentimento de modo que, quando acaba, no mais das vezes porque
não foi alimentado, diz-se que acabou o amor.
A atração física é importante, como também é
fundamental que se saiba fazer crescer cada vez mais o enamoramento entre o
casal. No entanto, nem um nem outro se mantêm se o homem e a mulher não
souberem aprofundar ainda mais. A terceira dimensão é precisamente a vontade
que os move não apenas a se quererem mutuamente, mas principalmente a querer
querer-se cada vez mais.
Não se trata, porém, de uma vontade fria, calculista,
como algo que possa ser programado. Mas porque é bom sentir atração e estar
enamorado por alguém é que se deve buscar cada vez mais alimentar essa relação
com pequenos gestos concretos. Trata-se, por exemplo, de o marido procurar ser
atencioso e delicado quando ela o chamar ao telefone ou ao chegar a casa no
final do dia. Ela, por seu turno, pode-se esforçar para pôr-se bem arrumada em
casa (e não apenas quando vão sair), para dizer coisas amáveis, para manter o
local onde vivem com cor e sabor de lar, onde seja agradável estar.
Esses pequenos gestos exigem um esforço perseverante,
fruto de uma vontade decidida de querer amar cada vez mais, a tal ponto que não
se possa mais dizer você e eu, mas simplesmente nós.
Ao mencionarmos essas três etapas ou fases do amor
conjugal, corre-se o risco de pensar que se sucedem, uma após outra. De fato,
primeiro vem a atração, depois o sentimento e por fim a vontade decidida de
manter o relacionamento. Mas essa não suprime nem anula aquelas. Ao contrário,
precisamente quando se quer amar cada vez mais é que o sentimento e atração vão
assumindo contornos também mais elevados, mais nobres. Mas isso não é só
química, nem se constrói apenas em trinta dias...
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