segunda-feira, 30 de maio de 2011

Educar para a verdade

Vivemos num mundo em que palavras como sinceridade, veracidade e honradez não são propriamente os valores mais importantes. É espantoso notar como se quebram com inacreditável facilidade os compromissos assumidos na família, na empresa, na sociedade e entre os próprios Estados. Parece que o norte a guiar as ações das pessoas e instituições é sempre o interesse do momento. Verdade e bem são, para muitos, conceitos relativos. Nesse contexto, como poderemos formar nossos filhos a serem honestos consigo próprios, com as pessoas com quem convivem e com a própria sociedade em que estão inseridos?
Penso que esse ambiente de relativismo moral que se instaurou em nosso mundo gera, como consequência, uma terrível e cruel desconfiança de tudo e de todos. “O que será que leva essa pessoa a me dizer tal coisa? O que ela quer com isso?”, são raciocínios que fazemos a todo tempo, quase que imperceptivelmente. Assim, cria-se um círculo vicioso que tem a seguinte dinâmica: o pouco compromisso com a verdade leva à desconfiança, que por sua vez faz com que as pessoas procurem de forma insana os reais motivos do agir alheio sem que possam encontrá-lo.
Uma adorável senhora de 91 anos há poucos dias me fez o seguinte relato: “Em casa a mamãe sempre permitia que falássemos sobre o que quiséssemos. Ela nunca nos recriminou por nada. Mas, depois, com sabedoria, ia nos orientando e conduzindo...”. Penso que essa sábia mãe encontrou o segredo da educação, principalmente de jovens e adolescentes: soube criar um ambiente de receptividade para a verdade. Há pais que buscam que seus filhos lhes contem as coisas e, quando eles se abrem, assustam-se, ou, pior ainda, esbravejam, recriminam, ameaçam etc.
Os pais de jovens e adolescentes de nosso tempo não têm o direito de se assustar com nada. Lembro-me de um incidente que me relatou um colega de faculdade. Estava ele condoído de remorso porque em uma festa havia fumado maconha. E o que mais o corroía por dentro é que ele sempre fora muito franco com seu pai, mas esse fato ele não conseguiria contar-lhe. Mas aquilo lhe ficou tão pesado que resolveu narrar o fato ao pai. E a resposta daquele bom homem merece ser meditada: “Filho, agradeço muitíssimo a sua confiança. Você já sabe o que penso disso, até porque já conversamos bastante sobre o assunto. Mas há uma coisa mais que gostaria que soubesse: se tiver qualquer problema com drogas, pode contar comigo. Estarei do seu lado aconteça o que acontecer”. Não é nem preciso dizer que esse meu amigo jamais voltou a cometer tamanha bobagem.
A sinceridade é uma virtude. E, como tal, se adquire pela repetição de atos bons. Quando nos esforçamos por dizer a verdade uma vez e outra, com o tempo, essa reiteração irá forjando um hábito, a tal ponto que em determinado momento não conseguiremos mentir senão com muito esforço. Acontece, porém, que nossos filhos aprendem muito mais com os bons exemplos que com as palavras. É preciso que notem, portanto, que também nós lutamos por ser sinceros mesmo em detalhes pequenos e aparentemente sem importância. Isso implica, da nossa parte, um compromisso radical com a verdade que vai desde não contar uma “mentirinha” ao telefone para se livrar de um incômodo até honrar o compromisso de fidelidade que fizemos com nossa esposa ou com o nosso marido, por exemplo.

Educar é um desafio que não tem fim. “Até quando devemos insistir com nossos filhos se buscamos colocá-los no bom caminho e eles se recusam?”, talvez nos questionemos. Penso que até o nosso último suspiro, deve ser a resposta. É certo que chega uma idade em que a atuação dos pais passa a ser muito limitada. Nossos filhos são livres e os criamos para o mundo. Mas até o último de nossos dias devemos manter preparados o ombro amigo, o braço forte, as mãos benfazejas e um abraço acolhedor para que eles, ou melhor, todos nós, nos sintamos estimulados a recomeçar uma vez e sempre. Assim mostramos que sinceridade, veracidade e honradez são valores importantes para construir o mundo que queremos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A autoridade na medida certa

“Pai, eu poderei participar da viagem de formatura?”, indaga a filha. “Pergunta à sua mãe”, responde o pai. A filha se dirige então à mãe, que simplesmente responde: “decida isso com seu pai...”. “Puxa! Será que dá para vocês se entenderem!...”, desabafa afinal a adolescente. Esses pais estão exercendo bem a autoridade? Afinal, como tomar as decisões referentes à educação dos nossos filhos?
Em educação é preciso ressaltar um postulado fundamental: ninguém dá o que não tem. Assim, para exercer a autoridade, os pais têm de adquiri-la antes.
A autoridade não será verdadeiramente exercida se faltar o prestígio dos pais. E esse se obtém, dentre outros modos, na luta por adquirir virtudes. Por exemplo, os pais que se esforçam por ser leais aos compromissos assumidos, por agir com serenidade, por estar bem humorado, sobretudo ao final do dia em casa, vão adquirindo, pouco a pouco, prestígio diante dos filhos. E é fácil e agradável obedecer àquelas pessoas a quem estimamos.
Outro fator fundamental é a sintonia entre o pai e a mãe. Nada enfraquece mais a autoridade do que discutirem na frente dos filhos. É natural que haja divergências. Porém, o casal dever tomar a decisão a sós. E tomada a decisão, seja ela qual for, diante do filho ou da filha o resultado deve ser apresentado como um consenso. Certa ou errada, ambos assumem a responsabilidade. Nesse sentido, é muito ruim que se diga algo do tipo: “por mim tudo bem que você vá ao passeio, mas seu pai não quer...”. Ou ainda aquela postura do que saiu vencido que fica apenas esperando que algo dê errado para acusar: “não te falei?!”.
O mau exercício da autoridade traz graves consequências para os filhos. Um desses desvios de autoridade é o paternalismo, que consiste na figura do “super-pai” ou da “super-mãe”, que fazem tudo para os filhos. Se não se corrige a tempo, é possível que na fase adulta se apresente como uma pessoa indecisa ou insegura.
Outro desvio é o autoritarismo. É o caso do pai e da mãe extremamente severos, que incutem no filho forte temor, de modo que se obedece exclusivamente por medo. Com isso, pode ocorrer de se formar filhos hipócritas. Ou seja, como estão acostumados a obedecer apenas por medo, pensam que podem fazer qualquer coisa errada, conquanto que não sejam “apanhados em flagrante”.
Um terceiro mau uso da autoridade é o permissivismo, que consiste em permitir tudo. Nesse caso, os filhos não se sentem amados. A consequência dessa educação desleixada é que os filhos cresçam sem valores perenes, com sérias dificuldades de assumirem compromissos duradouros, tanto na vida familiar, como na profissional.
Soube da história de uma adolescente que, durante uma viagem com as colegas de escola para um acampamento, queixava-se com a monitora de que seus pais não lhe davam liberdade, que dependia da autorização deles para quase tudo. Essa boa companheira deu uma brilhante lição, que merece ser contada:
“Seus pais não permitem que você faça o que bem entende porque a amam. Veja esse pequeno riacho: em sua nascente, uma margem é bem próxima da outra. É o que ocorre com uma criança pequena, de tudo dependem dos pais. O riacho, conforme vai avançando, as suas margens vão ficando cada vez mais distantes, até que deságue no mar, onde não há mais margens. Assim deveriam os pais fazer com os filhos. A autoridade dos pais é a margem dos rios que permite que cheguem ao destino. Quanto maior o rio, mais distantes as margens. Quanto maior e mais responsável o filho, maior pode ser a sua autonomia. E veja, que bom que é a margem, imagine o que seria do rio sem ela? Veja aquela parte do rio em que a margem é menos resistente, parte da água caiu para fora e apodrece à beira do rio, não chegará no mar. Assim acontece com os filhos que possuem pais fracos, que não desempenham a obrigação de exercer a autoridade: deixam seus filhos perdidos nas ribanceiras do mundo, não chegam ao mar".

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sonhos de um nascituro

Recentemente o Supremo Tribunal Federal estendeu aos casais homossexuais o direito à união estável e, portanto, de formarem entre si uma entidade familiar. A reação das pessoas tem sido muito variada, desde a euforia, de um lado, até a perplexidade ou a indignação, de outro. Nesse cenário, penso que poderíamos nos indagar: afinal, o que é uma família? Será essa instituição completamente mutável a tal ponto de que cada sociedade e cada momento histórico podem ditar-lhe o perfil? Ou, ao contrário, há algo de essencial e perene nela, ainda que adaptável a cada contexto histórico?
A questão é demasiado ampla e complexa para ser enfrentada então curso espaço. Apesar disso, talvez possamos abordá-la em algum de seus aspectos, com a pretensão de tocar em sua essência, ainda que não com a profundidade desejada. E o faremos sob a perspectiva de um novo ser humano que é chamado à existência.
Imaginemos um minúsculo embrião, pouco tempo após a fecundação. Se ele pudesse escolher o contexto em que se desenvolveria a sua vida a partir daquele momento, como ele o faria?
Primeiro, é óbvio, gostaria de ter uma oportunidade de vir a esse mundo que segue sendo maravilhoso, apesar do muito empenho que fazem alguns homens e mulheres em enfeia-lo. De passagem, desejaria que sua mãe cuidasse dele e o amasse muitíssimo já no seu ventre. Que seu pai não se limitasse a ser aquele que forneceu o gameta do qual deriva seu código genético, mas que se interessasse por ele, que o acariciasse por sobre a pele de sua mãe, e então pudesse contemplar a maravilha que é um só gesto que simultaneamente afaga mãe e filho. Que dissesse que o ama e que aguarda ansioso a sua vinda ao mundo.
Ao nascer, que a sua mãe seja verdadeiramente mãe. Não dá para explicar, mas apenas sentir e desfrutar do cálido aconchego que brota de seu colo. E que tenha um pai que também é pai. Quando vierem os perigos da vida, saberá buscar em seu braço forte a segurança nas aflições: “Que perigos haverei de temer se o meu pai estiver comigo?”.
Ele quererá que esse pai e essa mãe, mais do que amá-lo, se amem entre si. Ainda não sabe o que é a morte, mas saberá um dia... E então estremecerá de medo ao pensar na possibilidade de perder esse pai e essa mãe. Mas deseja profundamente que esse pai e essa mãe se empenhem por toda a vida em manter vivo esse amor do qual ele é fruto.
Desejará ardentemente encontrar esperando por ele um lar em que cada um de seus membros é amado incondicionalmente. Terá um nome e por ele será chamado. Será conhecido como filho de seu pai e da sua mãe. Com o tempo, perceberá que erra. Mas mesmo assim segue sendo amado e querido pois o amor que lhe nutre não comporta condições. Por ser verdadeiro, perdoa, desculpa e corrige quando necessário.
Que veja que em sua família todos estão unidos por fortes laços de afeto. Mas descobrirá, com o tempo, que o que os une e faz verdadeiramente família não é apenas um sentimento passageiro. Encontrará laços fortes porque seu pai e sua mãe assumiram um compromisso de amor e nele empenharam por inteiro as suas vidas. E verá que se esforçam por cumpri-lo. Apesar disso, não se sentem aprisionados nem infelizes, ao contrário, esbanjam paz, alegria e serenidade que parecem encobrir todas as contrariedades que a vida lhes reserva.
Quererá, em suma, seguir o seu caminho, seja ele qual for. Talvez encontrar uma esposa, selar com ela uma aliança de amor que seja o berço de novas vidas...
Talvez não faltem vozes a dizer que coloco nessa criança ainda por nascer uma visão por demais conservadora (tradicionalista?) de família. E talvez seja justa essa crítica... Mas, pensemos mais a fundo: um simples pássaro, a fêmea da sua espécie, prepara com muito esmero o ninho onde virá a sua prole. Não seria o caso de nós, animais racionais, ao dispormos os ramos com os quais construiremos nos nossos lares, nos atentarmos um pouco mais para os anseios naturais desses seres que virão ao mundo? E se formos sinceros conosco mesmos veremos que o que eles querem, no fundo, é que sejamos o que somos na essência: homens e mulheres gerados por amor e para o amor.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O essencial no relacionamento conjugal


Certa vez ouvi uma crítica feita por um colega à Lei que então fixava um tempo mínimo de casamento para que pudesse ocorrer o divórcio ou a separação. Dizia ele: “trinta dias de convivência com uma pessoa são suficientes para saber se dá ou não para levar o relacionamento adiante”. Em outra oportunidade, uma pessoa afirmava que o seu casamento havia naufragado, dizia: “não dá para explicar, a minha química não bate com a dela, entende?”. Mas qual será o conceito que se tem do amor conjugal ao se fazer tais afirmações?
Penso que o amor matrimonial possui algumas fases ou etapas que necessitam ser percorridas até que se atinja a sua essência.
A primeira consiste na atração física. Ocorre quando contemplamos alguém que simplesmente nos é atraente. Não se trata propriamente de um sentimento, que é um pouco mais profundo, mas de uma mera sensação. Tanto é assim que podemos ter essa atração por uma pessoa cuja imagem vimos numa revista ou por uma atriz (ou ator) a quem somente conhecemos através dos papéis desempenhados num filme ou numa telenovela.
Talvez seja a essa sensação que se referia como “química” do relacionamento. E muitos relacionamentos limitam-se a isso. Assim, mantém-se a disposição de estar com ela apenas enquanto for capaz de despertar a mesma atração que a Julia Roberts, ou até que ele não seja menos charmoso que o Bruce Willis. Com isso, não será muito duro de matar esse “amor”.
O relacionamento conjugal que leva duas pessoas a se unirem não se pode limitar a essa mera sensação. Num segundo momento surge o enamoramento. Nessa fase se poder exclamar: “Que bom é estar com ela (ele)!”. Trata-se de uma fase mais afetiva e elevada que a anterior. Nela se vai descobrindo a pessoa do outro, a sua verdade, a sua personalidade, seus gostos etc. É essa etapa infinitamente mais rica e prazerosa, pois a satisfação que proporciona é também afetiva e não apenas física. E isso porque toca numa dimensão superior do ser humano que é a do sentimento.
No entanto, essa dimensão também não atinge a essência do amor conjugal. Aliás, penso que o insucesso de muitos relacionamentos se deve ao fato de buscarem apoio exclusivamente no seu aspecto sensível. Chamam de amor a esse sentimento de modo que, quando acaba, no mais das vezes porque não foi alimentado, diz-se que acabou o amor.
A atração física é importante, como também é fundamental que se saiba fazer crescer cada vez mais o enamoramento entre o casal. No entanto, nem um nem outro se mantêm se o homem e a mulher não souberem aprofundar ainda mais. A terceira dimensão é precisamente a vontade que os move não apenas a se quererem mutuamente, mas principalmente a querer querer-se cada vez mais.
Não se trata, porém, de uma vontade fria, calculista, como algo que possa ser programado. Mas porque é bom sentir atração e estar enamorado por alguém é que se deve buscar cada vez mais alimentar essa relação com pequenos gestos concretos. Trata-se, por exemplo, de o marido procurar ser atencioso e delicado quando ela o chamar ao telefone ou ao chegar a casa no final do dia. Ela, por seu turno, pode-se esforçar para pôr-se bem arrumada em casa (e não apenas quando vão sair), para dizer coisas amáveis, para manter o local onde vivem com cor e sabor de lar, onde seja agradável estar.
Esses pequenos gestos exigem um esforço perseverante, fruto de uma vontade decidida de querer amar cada vez mais, a tal ponto que não se possa mais dizer você e eu, mas simplesmente nós.

Ao mencionarmos essas três etapas ou fases do amor conjugal, corre-se o risco de pensar que se sucedem, uma após outra. De fato, primeiro vem a atração, depois o sentimento e por fim a vontade decidida de manter o relacionamento. Mas essa não suprime nem anula aquelas. Ao contrário, precisamente quando se quer amar cada vez mais é que o sentimento e atração vão assumindo contornos também mais elevados, mais nobres. Mas isso não é só química, nem se constrói apenas em trinta dias...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um homem para a eternidade

Ontem, domingo, dia 1º de maio, o Papa Bento XVI presidiu a solenidade de beatificação de seu predecessor, o Papa João Paulo II. Penso ser um dever de justiça render homenagem a esse grande homem pelo imenso bem que fez não apenas aos católicos e aos cristãos em geral, mas a toda a humanidade.
Mas como prestar uma justa homenagem em tão curso espaço sem que ela soe como algo redutivo, que ressalta apenas um detalhe, talvez até acidental, num homem cuja grandiosidade a história se encarregará de enaltecer cada vez mais?
Ouso correr esse risco, quando menos para afirmar que um dos maiores prodígios de João Paulo II foi saber mostrar ao homem e à mulher do final do século passado e início deste conturbado terceiro milênio a sua verdadeira identidade.
Em entrevista concedida ao escritor e jornalista Vittorio Messori, reproduzida no livro Cruzando o Limiar da Esperança, respondendo a uma indagação de seu interlocutor que questionava sobre o avanço de outras religiões e o declínio do número de cristãos no mundo, João Paulo II começa por afirmar que não há como medir em estatísticas a fé das pessoas. Em seguida, aborda uma questão de maior profundidade e que toca na essência do cristianismo:
 “Sempre e em toda parte o Evangelho será um desafio para a fraqueza humana. Mas precisamente neste desafio está toda a sua força. O homem, talvez, no seu inconsciente espera por esse desafio, pois nele há de fato a necessidade de superar-se a si mesmo. Apenas superando a si mesmo o homem é plenamente homem.
“Esta é a verdade mais profunda sobre o homem. Cristo é o primeiro que a conhece. Ele sabe verdadeiramente ‘o que há no homem’ (cf Jo 2,25). Com o Seu Evangelho ele atingiu a íntima verdade do homem”.
Fiel ao mandato que recebeu, o Papa João Paulo II pregou incansavelmente a mesma verdade de sempre sobre o homem e a mulher, mas com os matizes que os problemas do mundo moderno exigem. No afã de transmitir a toda a humanidade a mesma verdade que liberta e abre os caminhos da felicidade, escreveu inúmeras encíclicas, pregou incansavelmente, empreendeu muitíssimas viagens, promoveu o diálogo com outras religiões. E em tudo isso soube esbanjar alegria e bom humor.
João Paulo II soube promover a paz no mundo muito mais e melhor do que qualquer outro líder do seu tempo. É que a sua atuação se deu, primordialmente, onde a paz há de reinar de verdade: no coração do ser humano. É bem verdade que ele também promoveu o diálogo entre as religiões e entre os povos em conflito, empreendendo imensos esforços em busca da concórdia. No entanto, conhecedor profundo da natureza humana, ele sabia perfeitamente quão frágeis são os acordos de paz entre as nações se a semente do amor e da fraternidade não é plantada nas pessoas, que são a razão de ser dos Estados e da sociedade.,.
Há dois milênios, o Cristo pendido na Cruz bradava: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Há cerca de três décadas, aquele a quem Ele confiou o seu rebanho foi alvo de vários tiros na Praça de São Pedro. Mas também manifestou o seu perdão, exatamente o mesmo que aprendeu do Mestre. E quando perguntam ao Papa o que ele falou ao seu agressor ao visitá-lo na prisão, respondeu: “Falei-lhe como se fala a um irmão que goza da minha confiança e a quem perdoei”. Com a sua terna bondade, abria as portas de uma nova superação e ascensão àquele infeliz criminoso que tanto havia se rebaixado.

Um dos grandes méritos de João Paulo II, se é que podemos dizer assim, foi o de manter incólume esse valiosíssimo tesouro que nos foi legado: a verdade sobre o homem e a mulher. Assim como as águas de um rio banham inúmeros locais por onde passam, a todos trazendo vida e em todas as paisagens segue sendo o mesmo rio, assim também é a verdade sobre o ser humano, que perpassa os séculos e os povos que fazem a história da humanidade sendo em todo tempo e lugar a mesma verdade, ainda que com contornos peculiares. E essa mesma verdade segue o seu curso vital, trazendo paz e alegria a todos os que desejam nela saciar a sua sede de felicidade e de eternidade.