Vivemos num mundo em que palavras como sinceridade,
veracidade e honradez não são propriamente os valores mais importantes. É
espantoso notar como se quebram com inacreditável facilidade os compromissos
assumidos na família, na empresa, na sociedade e entre os próprios Estados.
Parece que o norte a guiar as ações das pessoas e instituições é sempre o
interesse do momento. Verdade e bem são, para muitos, conceitos relativos.
Nesse contexto, como poderemos formar nossos filhos a serem honestos consigo
próprios, com as pessoas com quem convivem e com a própria sociedade em que
estão inseridos?
Penso que esse ambiente de relativismo moral que se
instaurou em nosso mundo gera, como consequência, uma terrível e cruel
desconfiança de tudo e de todos. “O que será que leva essa pessoa a me dizer
tal coisa? O que ela quer com isso?”, são raciocínios que fazemos a todo tempo,
quase que imperceptivelmente. Assim, cria-se um círculo vicioso que tem a
seguinte dinâmica: o pouco compromisso com a verdade leva à desconfiança, que
por sua vez faz com que as pessoas procurem de forma insana os reais motivos do
agir alheio sem que possam encontrá-lo.
Uma adorável senhora de 91 anos há poucos dias me fez
o seguinte relato: “Em casa a mamãe sempre permitia que falássemos sobre o que
quiséssemos. Ela nunca nos recriminou por nada. Mas, depois, com sabedoria, ia
nos orientando e conduzindo...”. Penso que essa sábia mãe encontrou o segredo
da educação, principalmente de jovens e adolescentes: soube criar um ambiente
de receptividade para a verdade. Há pais que buscam que seus filhos lhes contem
as coisas e, quando eles se abrem, assustam-se, ou, pior ainda, esbravejam,
recriminam, ameaçam etc.
Os pais de jovens e adolescentes de nosso tempo não
têm o direito de se assustar com nada. Lembro-me de um incidente que me relatou
um colega de faculdade. Estava ele condoído de remorso porque em uma festa
havia fumado maconha. E o que mais o corroía por dentro é que ele sempre fora
muito franco com seu pai, mas esse fato ele não conseguiria contar-lhe. Mas
aquilo lhe ficou tão pesado que resolveu narrar o fato ao pai. E a resposta
daquele bom homem merece ser meditada: “Filho, agradeço muitíssimo a sua
confiança. Você já sabe o que penso disso, até porque já conversamos bastante
sobre o assunto. Mas há uma coisa mais que gostaria que soubesse: se tiver
qualquer problema com drogas, pode contar comigo. Estarei do seu lado aconteça
o que acontecer”. Não é nem preciso dizer que esse meu amigo jamais voltou a
cometer tamanha bobagem.
A sinceridade é uma virtude. E, como tal, se adquire
pela repetição de atos bons. Quando nos esforçamos por dizer a verdade uma vez
e outra, com o tempo, essa reiteração irá forjando um hábito, a tal ponto que
em determinado momento não conseguiremos mentir senão com muito esforço.
Acontece, porém, que nossos filhos aprendem muito mais com os bons exemplos que
com as palavras. É preciso que notem, portanto, que também nós lutamos por ser
sinceros mesmo em detalhes pequenos e aparentemente sem importância. Isso
implica, da nossa parte, um compromisso radical com a verdade que vai desde não
contar uma “mentirinha” ao telefone para se livrar de um incômodo até honrar o
compromisso de fidelidade que fizemos com nossa esposa ou com o nosso marido,
por exemplo.
Educar é um desafio que não tem fim. “Até quando
devemos insistir com nossos filhos se buscamos colocá-los no bom caminho e eles
se recusam?”, talvez nos questionemos. Penso que até o nosso último suspiro,
deve ser a resposta. É certo que chega uma idade em que a atuação dos pais
passa a ser muito limitada. Nossos filhos são livres e os criamos para o mundo.
Mas até o último de nossos dias devemos manter preparados o ombro amigo, o
braço forte, as mãos benfazejas e um abraço acolhedor para que eles, ou melhor,
todos nós, nos sintamos estimulados a recomeçar uma vez e sempre. Assim
mostramos que sinceridade, veracidade e honradez são valores importantes para
construir o mundo que queremos.