Certa vez ouvi de uma pessoa casada há poucos anos o
seguinte desabafo:
“Durante o período de namoro, eu estava convencido de
que ela não tinha defeitos. E isso nem tanto porque minha então namorada
fizesse um esforço grande por ocultá-los ou dissimulá-los, mas porque os tempos
que passávamos juntos eram os melhores do dia. Depois do casamento, porém, os
defeitos dela começaram a se apresentar com uma insuportável clareza. E, como
não havia reparado neles antes, fico desconcertado, pois desfiguram a imagem
que havia feito dela. Pior, como os defeitos dela não são os mesmos que os
meus, parecem tão fáceis de serem superados que chego a pensar que ela faz tais
coisas de propósito, só para me irritar”.
Todo ser humano tem defeitos. Isso é óbvio. Por que
será, então, que se atribuiu a algo que é evidente a causa do insucesso de
muitos casamentos? E qual seria a solução? Buscar que os jovens que se preparam
para a vida matrimonial estejam mais atentos na fase de namoro? Ou tentar dar
menos importância a eles quando afloram já na vida conjugal?
O primeiro aspecto é importante. Os pais deveriam acompanhar
de perto os filhos quando começam a manter algum relacionamento, estimulando-os
a conhecer melhor o outro e não simplesmente curtir a emoção de estar juntos.
Apesar disso, será sempre limitado o poder de influência dos pais nessa
situação. Quem nunca ouviu uma frase do tipo: “Ela está cega! Será que não vê
que esse rapaz não serve para ela?”. E se fica cego mesmo. Mas apesar disso,
podemos ajudar, com carinho e compreensão, a tentar colocar um pouquinho de
racionalidade e senso de observação numa relação que parece ser apenas emoção.
Aliás, se quisermos dar um bom conselho para quem
caminha para um relacionamento conjugal, podemos dizer que só há um defeito
incurável: pensar que não tem defeitos. É que a pessoa que não reconhece que os
tem e que precisa continuamente melhorar não pode ajudada, precisamente porque
ela se fechou na sua auto-suficiência.
E o que dizer àqueles que já estão casados e que
convivem diariamente com os defeitos do outro? Nesse caso, a primeira atitude é
fomentar a compreensão. Costumamos ser implacáveis com os defeitos dos outros e
extremamente complacentes com os nossos. Além disso, é frequente medirmos os
outros com as nossas próprias medidas. Por exemplo, o marido que é
habitualmente pontual, costuma lançar contra a esposa essa acusação: “Não me
conformo como você possa se atrasar sempre! É tão simples, basta que comece a
se arrumar com mais antecedência!”. E ela, por sua vez, poderá dizer algo
semelhante: “Você deixou a sua carteira jogada na mesa da sala de novo! É tão
difícil colocar isso no lugar?”
Não é tão simples, ao contrário do que pode parecer. Soube
de um marido que colou um adesivo brilhante na carteira para se lembrar de a
guardar no lugar certo quando chegasse a casa. E de uma esposa que, com a ajuda
do filho, editou algumas planilhas do Excel
onde elencava o tempo de cada ação e, no final, a soma. Com isso, sabia que
para um casamento a primeira ação começava duas horas antes, para buscar os
filhos na escola, trinta minutos... Esse marido se encheu de compaixão e
ternura ao ver as planilhas afixadas no quadro de avisos da casa. E também ela,
por vezes, não escondia o sorriso carinhoso ao guardar a carteira dele no
lugar, apesar do enorme aviso luminoso...
O grande desafio que os esposos encontram quando se
deparam com os defeitos do outro é aprender a amá-lo(a) apesar desses defeitos,
ou melhor, a amar com esses defeitos. É claro que se poderá ajudar a melhorar,
mas sempre com carinho, compreensão e sabendo agir na hora certa. Mas o mais
importante é reconhecer que também não somos perfeitos. E é somente quando
travamos uma batalha séria contra os nossos próprios defeitos é que saberemos
de verdade a ter compaixão com os demais, sobretudo com aquela pessoa com quem
nos comprometemos a formar uma comunhão plena de vida.
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