segunda-feira, 18 de abril de 2011

A indiferença

Causou comoção no Brasil e no mundo o assassinato brutal de jovens numa escola do Rio de Janeiro. Ao nos depararmos com tamanha brutalidade, que ceifa a vida de pessoas inocentes, fica em todos nós uma grande indagação: por quê?
Comportamentos patológicos como esse não permitem explicações simplistas. Há muitas causas que podem desencadear doenças psíquicas e mesmo aos especialistas é difícil dar uma explicação exata.
Mas o fato nos chama a atenção para um dado que merece ser ponderado: vivemos num mundo de pessoas cada vez mais solitárias e infelizes. Ainda que cercadas por uma multidão, trazem no peito o insuportável peso de um vazio na alma. São homens e mulheres que perambulam de um lado a outro num ritmo frenético e sem sentido. E se alguém lhes indagar sobre a razão de suas vidas, muitos não terão a resposta.
O que mais profundamente caracteriza o homem e a mulher é a vocação para o amor. Todos trazemos um enorme anseio de sermos amados. Esse anseio natural já se manifesta desde o nascimento, quando a criança depende não apenas do alimento da mãe, mas, sobretudo, do seu carinho e afeto para desenvolver a sua personalidade. Nas outras fases da vida essa necessidade assume matizes diferentes, sem deixar de ser a mesma. Por exemplo, o adolescente desenvolve uma linguagem própria e se sujeita a se vestir de determinado modo e a praticar determinadas atividades apenas para ser aceito no seu círculo de amigos. E isso nada mais é que uma forma de manifestar aquele mesmo desejo de ser aceito e estimado (no fundo o que se quer é ser amado). E o mesmo ocorre nas outras fases da vida.
E desse anseio por ser amado se segue uma consequência de igual força e importância, que é ser no mundo e entre aqueles com quem convivemos um polo irradiador desse mesmo amor que desejamos receber. É precisamente por isso que o egoísmo gera apenas tristeza e frustração. Podemos nos comparar, apesar da imperfeição de toda comparação, a uma fonte. Do mesmo modo que se capta a água nas profundezas da terra, essa deve ser jorrada para fora, pois, do contrário, seca e se mantém estéril. Igualmente, temos a necessidade de sermos e nos sentirmos amados, porém, a isso se há de seguir de nossa parte os atos concretos com os quais manifestamos aos outros esse mesmo amor.
Por isso, é inaceitável que numa família haja alguém triste, isolado ou acanhado sem que a isso se siga um movimento intenso dos pais, irmãos ou filhos por acolher a essa pessoa e, no que estiver ao nosso alcance, tirá-la daquela situação que a aflige. Ninguém pode nos ser indiferentes, tanto menos em nosso lar. E para isso não é necessário fazermos coisas estranhas ou extraordinárias. Muitas vezes bastará um sorriso, um gesto, a disposição de ouvir um desabafo ou simplesmente dar um passeio juntos.
E algo semelhante deve ocorrer no ambiente escolar. O aluno acanhado, o tímido, o que apresenta maus resultados, o bagunceiro, todos, de uma forma ou de outra, estão gritando: “eu existo e quero ser amado”. Ao mesmo tempo, ainda que não saibam, trazem um grande anseio de servir e de serem úteis aos demais. Por isso, quando são estimulados a desenvolver suas habilidades para fazer algo de bom para o próximo vemo-los imensamente motivados e felizes. É claro, pois com isso se desvenda diante deles a chave de funcionamento de seus corações.

Que ninguém nos seja indiferente. Se soubermos desenvolver esse modo de olhar a todos que nos circundam veremos que não há pessoas essencialmente más. Há, isso sim, aqueles que por um motivo ou outro não foram ou não quiseram ser amados, e outros tantos que fizeram morrer esse amor por não querer manifestá-lo aos outros. Mas ninguém está irremediavelmente perdido. Enquanto viver sempre será possível tocar em seus corações para que passem a ser uma fonte de água viva. Que sejam então pessoas que se sabem amadas por Alguém e que, precisamente por isso, podem dar esse mesmo amor que recebem sem medida.

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