Para
que a educação seja eficaz é necessário que os pais sejam amigos dos filhos.
Mais que isso, convém que sejam os seus melhores amigos. Mas será possível
estabelecer essa relação de autêntica amizade com tanta diferença de idade?
Há
muitos séculos atrás, Aristóteles já enfrentou essa questão, no Livro VIII de
sua Obra Ética a Nicômaco, quando afirmou que poderia haver amizade entre
pessoas que se encontram em planos diferentes, por razões de idade, posição
econômica ou de cultura. É que a amizade consiste mais em querer do que em ser querido. Assim ,
é possível que os desiguais se igualem ao ser amigos.
A
amizade entre pais e filhos, como entre as pessoas em geral, não é algo que
sempre nasce e se desenvolve espontaneamente. É necessário plantá-la e
cultivá-la. Para que sejam amigos há que se estabelecer uma comunicação franca
e aberta. E isso nem sempre é fácil de conseguir, especialmente com os
adolescentes. Muitos pais ficam perplexos ao vê-los tão descontraídos e
comunicativos com os colegas e, ao contrário, com o pai e com a mãe, suas
conversas se resumem a verdadeiros monólogos: “sim”, “não”, “hã rã”...
O
problema, muitas vezes, é que procuramos nossos filhos para arrancar deles a à
fórceps as informações que desejamos, ou que julgamos importantes. Nesse
intento, nos apresentamos com um verdadeiro questionário. Com isso, porém, eles
se sentem constrangidos e inibidos, de modo que quanto mais perguntamos, mais
se evadem nas respostas. Precisamos entender que eles têm a sua intimidade e
que podem guardá-la para mostrar a quem disso se fizer merecedor. É claro que o
pai e a mãe são, em geral, dignos dessa confiança. Porém, ela precisa ser
conquistada.
Um
conselho que nos pode ser útil é considerar que o diálogo com os filhos consiste
em: primeiro, escutar; segundo, escutar; terceiro, perguntar; quarto, respondem
ou falar serenamente. E escutar que eles falem do que quiserem e aceitar que se
calem sobre os assuntos que não queiram falar no momento.
A
amizade necessita, portanto, do diálogo e da confiança. Mas somente
conseguiremos isso se soubermos educar com sentido positivo. Imaginemos uma
camisa com uma minúscula mancha de tomate. Depois tomemos essa camisa e
coloquemos a mancha no microscópio. Quem a observar assim terá uma noção correta
do que é a camisa? Por certo que não, pois exagera no defeito e fecha os olhos
a tudo o resto. Acontece que por vezes fazemos assim com os nossos filhos:
colocamos uma enorme lente de aumento nos seus defeitos e não valorizamos as suas
muitas qualidades. Ora, não é possível ser amigo de uma pessoa que somente
enxerga defeitos e a todo tempo fica apontando-os com tom azedo e lamuriento.
Também
é necessário cuidar das nossas atitudes em relação aos filhos. Há os pais
tiranos, que pensam que os filhos estão bem quando não os estão nos incomodando.
Outros são indiferentes, pensam que os filhos seguirão seu caminho naturalmente,
sem nenhuma intervenção educativa. Outros ainda, perfeccionistas, almejam a que os filhos sejam exatamente como
sempre sonharam, muitas vezes projetando neles as próprias frustrações. Há
ainda os paternalistas ou narcisistas, que desejam colocar os filhos sobre um
pedestal, para que o sucesso deles alimente a própria vaidade.
Quando
olhamos para aquela criaturinha que acaba de nascer e repousa serenamente no
berço da maternidade, ou aquele rapaz desengonçado que se arrasta pela casa, ou
ainda aquela moça cujo mundo parece estar limitado a conversar com as amigas
pela internet, temos de enxergar mais além do que aparentemente vemos. São
seres humanos que trazem em si um anseio enorme de serem felizes e de
comunicarem aos demais, ao mundo inteiro, essa chama de amor que lhes abrasa a
alma. Só que muitas vezes eles não conseguem ver isso por si sós, não se
conhecem profundamente. Exatamente por isso é que precisam de bons amigos que
lhes saibam comunicar com coragem, carinho e amor o verdadeiro sentido da vida.
E quem melhor do que o pai ou a mãe para ser esse amigo bom e fiel, companheiro
de toda jornada?
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