Há
alguns anos acompanhei o drama vivido por um pai e uma mãe quando souberam que
o primeiro filho, que acabara de nascer, era portador de uma doença psíquica.
Quando se recebe uma notícia como essa, é como se faltasse o chão. Primeiro são
os sonhos de ter uma criança “normal” que de uma hora para outra se desvanecem.
Depois, a preocupação de quem cuidará dela quando os pais vierem a faltar. Além
disso, em meio aos altos e baixos que se experimenta quando se recebe uma
notícia dolorosa, por vezes ocorre pensar também nos constrangimentos que esse
filho ou essa filha poderá causar no convívio social. E, como se fosse pouco,
há também os inúmeros sacrifícios se exigirá da família. Nessa situação, talvez
nos ocorra perguntar: “Por que isso aconteceu comigo?”.
Todo
filho é um grande tesouro, uma oportunidade fantástica que os pais recebem de
manifestar o seu amor. É legítimo que tenham sonhos em relação a eles, que
desejem que sejam saudáveis, tanto física como mentalmente. Porém, os que se lançam
na magnífica aventura da paternidade e da maternidade têm de considerar que
nada em suas vidas acontece por acaso.
Muito
se diz, e com razão, que o homem e a mulher são um “animal social”, com isso
querendo dizer que necessitamos viver em sociedade. De fato, somos assim. No
entanto, frequentemente nos equivocamos sobre a natureza dessa dependência que
nos move a relacionar com os demais. É que costumamos pensar que precisamos dos
outros para que atendam as nossas carências materiais e afetivas. Com isso, nos
esquecemos de que o coração humano foi concebido para amar e manifestar esse
amor àqueles que nos cercam. Nesse sentido, essa necessidade que temos em
relação aos demais é uma necessidade de superabundância. Algo que nos move a
nos doarmos desinteressadamente.
Portanto,
ainda que custe aceitar, deveríamos considerar que quando se tem um filho
doente ou com alguma limitação de saúde é porque disso pode advir um grande bem
para ele próprio, para os pais e para a família como um todo.
Essa
atitude de aceitação de uma dura realidade não deve nunca ser confundida com
resignação. Há que se empregar todos os meios disponíveis, de acordo com as
condições de cada família, para curar ou diminuir os efeitos da doença. Aliás,
o próprio tratamento dispensado é uma forma bem concreta de se manifestar o
amor a esse filho ou a essa filha.
No
entanto, apesar dos enormes avanços da medicina, em alguns casos, teremos de
admitir que aquela deficiência perdurará por toda a vida. Nesse caso, a solução
é encarar essa realidade como um meio de crescimento pessoal e familiar. E
então o nosso anseio de doação encontrará nesse filho ou nessa filha uma
oportunidade imperdível de lançar abundantemente a semente de um amor gratuito
e desinteressado.
A
vida muitas vezes nos coloca diante de situações que nos movem a considerar as
razões mais profundas de nosso modo de pensar e agir. Por que queremos os
filhos? Buscamos neles apenas uma satisfação pessoal? Será que os temos porque
na ceia de Natal não pode faltar presentes, peru e... umas crianças
barulhentas?
Essas
indagações nos movem a questionar muitas técnicas de fecundação em que se busca
um prévio controle das condições de saúde da criança que irá nascer. É como se
de antemão disséssemos ao filho ou à filha que virão ao mundo: “estou disposto
a te receber e a cuidar de ti, conquanto que sejas perfeito e do jeito que eu
quero...”. Também é de se questionar o excesso de exames de pré-natal para
detectar isso ou aquilo. De fato, há doenças que, quando descobertas a tempo,
podem ser curadas com maior êxito. Outras, porém, não há nada o que fazer.
Nesse sentido, a minuciosa investigação que se faz é para quê?...
Se
soubermos olhar para os filhos, tanto aqueles que já temos como os que ainda
virão, como seres humanos a quem nos cabe cuidar e formar, notaremos que as
suas condições de saúde não são tão determinantes como pensávamos. É que quando
se ama, o que mais importa é... amar. E a única medida desse amor é não ter
medida. E o amor sempre se manifesta diante de alguém bem concreto. Com isso,
amamos esse filho ou essa filha tal como ele ou ela são e não como sonhávamos
ou gostaríamos que fossem.