Há
alguns dias minha esposa e um de meus filhos se dedicaram a arrecadar e
embrulhar alguns brinquedos que seriam entregues a crianças carentes. A Ana
Cecília, nossa filha de 4 anos, observou aquilo e perguntou à mãe: “para quem
são esses presentes?”. “É que seu irmão e alguns amigos dele levarão para dar
de presente de Natal a algumas crianças pobres”, respondeu a mãe sem
interromper a atenção aos brinquedos.
No
dia seguinte, ambas, mãe e filha, foram passear no Shopping. Ao avistar o Papai Noel que distribuía balas e pousava
para as fotografias com as crianças, a Ana Cecília partiu decidida em direção a
ele, dando mostras de que tinha um assunto muito importante a tratar. Após os
cumprimentos, com direito a sentar no colo do velhinho, a menina lhe perguntou:
“Papai Noel, por que você não leva brinquedos para as crianças pobres?”.
Acostumada
a ganhar o presente do “Papai Noel” todos os anos, o senso de justiça da
criança lhe trouxe profunda indignação ao notar que as crianças pobres não têm
a mesma sorte. Nesses dias de final de ano, em que fazemos um balanço de nossas
vidas e propósitos para o ano vindouro, é de grande utilidade nos espelharmos
no exemplo de simplicidade, pureza, justiça e amor das crianças.
Também
nós, adultos, nesses tempos natalinos, somos invadidos por sentimentos mais
fortes de solidariedade. Com efeito, são muitas as iniciativas a que nos
lançamos ou com as quais contribuímos e que têm como finalidade proporcionar
bens materiais (presentes, roupa, comida) para as pessoas que vivem em situação
de pobreza.
Talvez
devêssemos aprender com as crianças a ser mais ousados em nossas iniciativas
por amor ao próximo. Uma ousadia que nos movesse a trabalhar para remediar as
misérias alheias não apenas no dia do Natal, mas durante o ano todo. Nesse
intento, convém considerar que melhor que dar presentes, roupas ou cestas básicas,
seria promover iniciativas que proporcionem oportunidades para as pessoas
conquistarem condições de vida digna: escolas de qualidade, cursos
profissionalizantes etc.
Mas
mais que atenuar as carências materiais de muitas pessoas, o que não é pouco,
podemos e muito contribuir para remediar uma enorme doença da alma que assola o
homem e a mulher do nosso tempo: a solidão. Vivemos num mundo em que muito se
corre, trabalha e, aparentemente, se diverte. Porém, no mais íntimo do ser
humano desse início de milênio, há um enorme vazio existencial. Nesse momento
em que fazemos os nossos projetos para o próximo ano, convém que nos indaguemos
sobre o que faremos para tornar mais serena e feliz a vida daqueles com quem
convivemos na família, no trabalho e em todos os ambientes em que se desenvolve
nossas vidas.
Essa
carência afetiva e espiritual não tem endereço, nem sexo, nem idade. Atinge
pessoas abastadas e também aqueles que possuem menos recursos, jovens e velhos,
homens e mulheres. Porém, de certo modo é mais fácil e acessível a todos
remediar esse mal. Muitas vezes bastará dizer um bom-dia afetuoso àquele que
parece triste no elevador, parar o que está fazendo para ouvir com atenção um
desabafo da esposa, aprontar-se para esperar com alegria e bom humor o marido,
saber ser compreensivo com os colegas e amigos, mesmo quando eles se mostrem
irritados ou maçantes.
Há
uma frase lapidar que resume todas essas ações que podemos empreender todos os
dias: afogar o mal em abundância de bem. Que a felicidade e a paz no Ano Novo,
que tanto desejamos para nós e para aqueles com quem convivemos, sejam
construídas, dia a dia, em pequenos gestos de amor, que se traduzam em ações
para remediar as carências materiais dos menos favorecidos, mas também e
principalmente em proporcionar a todos um sentido mais profundo e verdadeiro
para suas vidas. Enfim, que se possa dizer dela enquanto se vive: “é bonita, é
bonita e é bonita!”.