segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Feliz 2.011!

Há alguns dias minha esposa e um de meus filhos se dedicaram a arrecadar e embrulhar alguns brinquedos que seriam entregues a crianças carentes. A Ana Cecília, nossa filha de 4 anos, observou aquilo e perguntou à mãe: “para quem são esses presentes?”. “É que seu irmão e alguns amigos dele levarão para dar de presente de Natal a algumas crianças pobres”, respondeu a mãe sem interromper a atenção aos brinquedos.
No dia seguinte, ambas, mãe e filha, foram passear no Shopping. Ao avistar o Papai Noel que distribuía balas e pousava para as fotografias com as crianças, a Ana Cecília partiu decidida em direção a ele, dando mostras de que tinha um assunto muito importante a tratar. Após os cumprimentos, com direito a sentar no colo do velhinho, a menina lhe perguntou: “Papai Noel, por que você não leva brinquedos para as crianças pobres?”.
Acostumada a ganhar o presente do “Papai Noel” todos os anos, o senso de justiça da criança lhe trouxe profunda indignação ao notar que as crianças pobres não têm a mesma sorte. Nesses dias de final de ano, em que fazemos um balanço de nossas vidas e propósitos para o ano vindouro, é de grande utilidade nos espelharmos no exemplo de simplicidade, pureza, justiça e amor das crianças.
Também nós, adultos, nesses tempos natalinos, somos invadidos por sentimentos mais fortes de solidariedade. Com efeito, são muitas as iniciativas a que nos lançamos ou com as quais contribuímos e que têm como finalidade proporcionar bens materiais (presentes, roupa, comida) para as pessoas que vivem em situação de pobreza.
Talvez devêssemos aprender com as crianças a ser mais ousados em nossas iniciativas por amor ao próximo. Uma ousadia que nos movesse a trabalhar para remediar as misérias alheias não apenas no dia do Natal, mas durante o ano todo. Nesse intento, convém considerar que melhor que dar presentes, roupas ou cestas básicas, seria promover iniciativas que proporcionem oportunidades para as pessoas conquistarem condições de vida digna: escolas de qualidade, cursos profissionalizantes etc.
Mas mais que atenuar as carências materiais de muitas pessoas, o que não é pouco, podemos e muito contribuir para remediar uma enorme doença da alma que assola o homem e a mulher do nosso tempo: a solidão. Vivemos num mundo em que muito se corre, trabalha e, aparentemente, se diverte. Porém, no mais íntimo do ser humano desse início de milênio, há um enorme vazio existencial. Nesse momento em que fazemos os nossos projetos para o próximo ano, convém que nos indaguemos sobre o que faremos para tornar mais serena e feliz a vida daqueles com quem convivemos na família, no trabalho e em todos os ambientes em que se desenvolve nossas vidas.
Essa carência afetiva e espiritual não tem endereço, nem sexo, nem idade. Atinge pessoas abastadas e também aqueles que possuem menos recursos, jovens e velhos, homens e mulheres. Porém, de certo modo é mais fácil e acessível a todos remediar esse mal. Muitas vezes bastará dizer um bom-dia afetuoso àquele que parece triste no elevador, parar o que está fazendo para ouvir com atenção um desabafo da esposa, aprontar-se para esperar com alegria e bom humor o marido, saber ser compreensivo com os colegas e amigos, mesmo quando eles se mostrem irritados ou maçantes.

Há uma frase lapidar que resume todas essas ações que podemos empreender todos os dias: afogar o mal em abundância de bem. Que a felicidade e a paz no Ano Novo, que tanto desejamos para nós e para aqueles com quem convivemos, sejam construídas, dia a dia, em pequenos gestos de amor, que se traduzam em ações para remediar as carências materiais dos menos favorecidos, mas também e principalmente em proporcionar a todos um sentido mais profundo e verdadeiro para suas vidas. Enfim, que se possa dizer dela enquanto se vive: “é bonita, é bonita e é bonita!”.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Natal é das crianças

Ouvi certa vez que o Natal é um acontecimento alegre para as crianças. Para os adultos, porém, somente aumenta a tristeza por fazê-los lembrar dos tempos felizes da infância.
Indagando o motivo disso, vem-me à memória a célebre frase de Caetano Veloso, em sua composição Sampa: “É que Narciso acha feio o que não é espelho”. Talvez seja isso o que acontece. As crianças observam o presépio e vêem ali refletido claramente o que se passa em seu interior. Os adultos, porém, não mais se espelham naquele acontecimento que, com o passar dos anos, a eles se tornou incompreensível. Com efeito, a cena reflete simplicidade, solidariedade, paz, anseio de vida, tudo facilmente encontradiço nas crianças. Quase tudo, ao contrário, acaba ofuscado nos homens e mulheres que deixaram de ser como as crianças.
Simplicidade. Aquela gruta é magnificamente simples. Falta-lhe tudo, mas, se considerarmos bem, há uma alegria tão intensa que se pode pensar que não falta nada.
Soube de uma criança de família rica que ganhou um presente sofisticado e caro. Dias após, brincando sem muito interesse numa praça, travou logo amizade com outro garotinho, que trazia um caixote de madeira. Com pouco tempo de convívio e sem muita negociação, não hesitaram em trocar em definitivo os presentes. O “negócio desvantajoso” causou verdadeira comoção familiar: “que absurdo, trocar o brinquedo importado por um caixote de madeira!”.  Mas as crianças não pensam assim. São simples e exatamente por isso a simplicidade eloqüente do presépio não lhes choca, ao contrário, alegram-se com isso.
Solidariedade. Os personagens que contemplamos são solícitos uns com os outros. O esposo ocupa-se da esposa e ela, dele e do menino que nasceu em um estábulo, junto com os animais. E desse desvelo de uns para com os outros brota um ambiente de terna serenidade.
Conta-se que a madre Tereza de Calcutá, uma eterna criança, uma vez foi observada por uma pessoa (um adulto, por certo), que contemplou o beijo e afago que fazia em um doente de aspecto repugnante. Diante disso, esse homem comentou que “nem por todo dinheiro do mundo faria isso”. E a bondosa religiosa respondeu: “nem eu”. Por dinheiro, tampouco ela o faria.
As crianças vêem no presépio três personagens extremamente solidários uns com os outros, e se alegram porque isso reflete o que elas são. Os que deixaram de ser crianças, porém, imersos em seu egoísmo, em um afã desordenado de riqueza, de “status”, de fama, de poder, não conseguem enxergar isso.
Paz. As crianças não se preocupam se haverá peru, se o vinho será suficiente, se a cunhada chegará direto para a ceia e não ajudará na preparação... Nada disso lhes preocupa. Ao contrário, é Natal. Talvez se preocupem um pouco em como quebrar as castanhas, mas não hesitarão em deixar as cascas atrás da porta, agora usada como quebra-nozes.
Anseio de vida. O Menino que se contempla no presépio nasceu para viver. Elas, as crianças, também. Não se sabe se por uns instantes, ou por cem anos. Não importa, todos vêm com uma missão e querem alcançá-la.
Há pessoas que avançam nos anos e continuam sendo crianças. Há outras, porém, que com muitos ou poucos anos de vida estão velhos, carcomidos pela cultura da morte. Essas, se olhassem para Maria ainda grávida e soubessem que o menino viveria apenas 33 anos e que morreria de forma brutal, talvez a ela sugerissem: “não valerá a pena viver apenas esse tempo para depois ainda morrer numa cruz, vamos interromper de forma humanitária a gravidez e poupar a ambos de todo esse sofrimento”. São os mesmos velhos que agora sustentam que, por estar uma criança destinada a viver alguns minutos ou dias, a gravidez é inviável.
As crianças não pensam assim. Muito mais sábias, elas dão aos minutos sabor de eternidade. Sabem que o que vale é o minuto presente, sem se importarem com o anterior, que já passou, nem com o seguinte, que não sabemos se chegará para qualquer um de nós.
A todos aqueles que descobriram a maravilha de ser uma eterna criança, um Feliz Natal!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Alegria do Natal

Dentro de poucos dias celebraremos mais um Natal. Para mantermos o verdadeiro espírito dessa festa, penso que seria interessante nos determos em quatro passagens que circundam esse grande acontecimento.
A Viagem a Belém.
Como se sabe, o nascimento ocorreu em Belém, apesar de não ser ali a residência de José e de Maria porque, naquele tempo, o imperador Augusto ordenou que se fizesse um censo de todo o Império. O recenseamento deveria ser feito na região dos antepassados e em Belém havia nascido o rei David, de quem José era descendente.
Reparemos no exemplo magnífico de José. Ele leva Maria com o menino no seu ventre, protegendo-os. Segue atento, fiel, nobre e generoso. Sua missão é cuidar da esposa e do menino por nascer. Que formosa passagem! Esse é verdadeiro espírito do Natal. Iluminados pelo exemplo de José podemos nos indagar: Com que solicitude e carinho tratamos nossas esposas? Interessamos por seus problemas, anseios e aspirações? Participamos ativamente da educação dos filhos? Assumimos o nosso papel também nos trabalhos da casa? Ou nos limitamos a nos derramar na poltrona, como o copo de cerveja ao lado, enquanto ela, aflita, cuida dos trabalhos domésticos? Dispensamos atenção aos filhos, incutindo neles o mesmo espírito, ou cuidamos que brinquem com os presentes e não nos incomodem?
O Nascimento.
Essa passagem é de todos conhecida, embora nem tanto imitada. “E aconteceu completarem-se os dias em que deveria dar à luz, e deu à luz o seu filho primogênito, e O enfaixou, e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 6-7).
Reparemos na delicadeza da Mãe. Faltava-lhes tudo. O menino nasceu num curral, com o cheiro característico desse local. Mas, ao mesmo tempo, podemos vislumbrar a criatividade com que se converteu o lugar inóspito em algo acolhedor, com sabor e calor de lar. Maria é um convite perene às mulheres de todos os tempos para que reconheçam o seu papel de primazia na condução dos rumos da sociedade. É que lhes cabe a função de criar nos lares um ambiente de paz, serenidade e alegria que tanto contribui para que os filhos desenvolvam as suas personalidades e, portanto, assim formados, construam um mundo melhor.
Em nosso tempo, observamos um incrível crescimento da participação da mulher nos mais diversos setores da sociedade: são políticas, magistradas, altas executivas, operárias. Desempenham, enfim, papel de relevo também fora de casa. E isso é muito bom. Porém, mesmo desempenhando trabalho externo, a mulher não pode nunca se esquecer que somente ela pode dar à casa o doce sabor de lar, cuidando dos pequenos detalhes que tornam agradável o convívio familiar.
A Adoração dos Magos.
Esses sábios viajaram muitos dias para contemplar esse fato extraordinário. E levaram presentes muito caros para a época. Mas o maior presente que deram foi a si próprios. Sim, dar-se ao Menino e, por Ele, aos demais. Natal é tempo de reflexão e, por consequência, de propósitos. Qual foi nossa disposição e ação em benefício do próximo neste ano que se finda? Que faremos concretamente no vindouro? Que o afã das muitas ocupações diárias não ofusquem o brilho da estrela que guiou esses sábios. E se ela por momentos se apagar, tal como o fez a eles, tenhamos persistência, vale a pena essa busca.
A Fuga ao Egito.
Mas a cena de paz e serenidade será interrompida pelo prenúncio indesejável: querem matar o Menino. Tal sucede também com nossos planos. Nos inflamamos de desejos nobres para o próximo ano, tais como o de nos dedicarmos mais aos filhos, ao esposo, à esposa e eis que... vêm as dificuldades. Desesperemo-nos? Não, jamais. Que nos importam as dificuldades, se elas se esvanecem, uma a uma, se, no fim e ao cabo, não é a nós que procuramos, mas o bem dos outros? E ademais, se pensarmos bem, as nossas dificuldades, comparadas as desses adoráveis personagens, que tiveram de viajar centenas de quilômetros, a pé, pelo deserto, muito pouco temos de padecer. A felicidade que nos aguarda, porém, já no tempo presente, é a mesma. É a paz e a serenidade de quem caminha para a vida, com a perene alegria do Natal.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Brigas: como ficam os filhos?

Um amigo me contou que enquanto conversava descontraidamente com sua filha de 4 anos, ela lhe disse em tom divertido: “Pai, já pensou um pai brigando com a mãe?”. “Como assim, filha?”, perguntou ele. “Ora, pai, já imaginou um pai brigando, discutindo com a mãe!”, retrucou ela. “Por que, pai e mãe não brigam?”, insistiu ele. “É claro que não”, respondeu ela, e depois conclui: “pai e mãe não brigam”. Aquele bom homem se sentia orgulhoso do que disse a filha. Com efeito, após muito esforço dele e da esposa, conseguiram que as discussões, que inevitavelmente aconteciam, ocorressem em momentos que não tinham os filhos por perto. Mas depois me fez um desabafo: “com os meus filhos mais velhos não consegui essa proeza, de modo que presenciaram grandes discussões nossas. Porém, após anos de convivência, os cursos que fizemos e o empenho que colocamos, por amor a nossos filhos, resolvemos nossos desentendimentos a sós. E que diferença isso faz na educação deles!”. Será essa vitória alcançada por esse casal algo irrealizável em nossos dias?
Evitar a todo custo as brigas e discussões diante dos filhos é algo difícil de se conseguir. Porém, os benefícios que isso traz para os filhos, para a família e para o próprio relacionamento do casal são imensos, de modo que vale a pena o esforço.
Quando pai e mãe brigam diante dos filhos, é comum que eles tomem partido de um ou de outro. No mais das vezes, porém, eles não têm critérios suficientes para saber qual dos dois tem razão, de modo que optam por ficar do lado daquele com quem tem maior empatia, ou simplesmente porque a postura de um foi menos destemperada que a do outro durante o entrevero. Aliás, numa discussão é muito raro que alguém esteja cem por cento certo e o outro totalmente errado. Assim, quando as crianças se põem do lado da mãe contra o pai ou vice-versa, a briga somente contribuiu para a desunião familiar.
Outra grave consequência é o enfraquecimento dos valores, contribuindo para arraigar cada vez mais o relativismo na consciência dos filhos. Eles buscam no pai e na mãe modelos de valores a serem seguidos para guiar as suas vidas. Contudo, se falta coerência entre os dois, dá-se lugar a uma terrível confusão. Imaginemos como nos sentiríamos se, em meio a um longo voo, quando a aeronave sobrevoa um imenso oceano, piloto e copiloto se pusessem a discutir acaloradamente sobre que rota seguir e como conduzir o avião. Por certo que os passageiros ficariam desnorteados, perdidos e extremamente amedrontados. “Que será de nós se essas pessoas que devem conduzir nossas vidas nesse momento não se entendem?”, poderiam pensar. Ora, é assim que se sentem os filhos cujos pais vivem às turras diante deles.
Mas talvez o maior mal que os desentendimentos dos pais causam nos filhos é a sensação de que não os amam de verdade. Atribui-se a São Bernardo a frase: “quem me ama, ama também o meu cão”. Em suma, mostramos o nosso apreço por alguém, no mínimo respeitando aqueles a quem eles amam. Pai e mãe são as pessoas mais importantes da vida das crianças. Porém, se o pai falta ao respeito com a mãe, ou a mãe com o pai, no fundo não demonstram um amor sincero pelo filho. Afinal, agridem aquele ou com aquela que eles muito amam neste mundo.

É inevitável que haja desentendimento entre o casal. Aliás, ouso dizer que é bom que aconteçam as brigas, até para que se saboreie o gosto da reconciliação. Porém, há que se evitar que ocorra diante dos filhos. Mas, se acontecer, devemos procurar compensar o mal causado com um exceder-se no carinho e nas demonstrações de afeto. Muitas vezes os filhos presenciam o desentendimento, mas não que fizeram as pazes. Para isso, um buquê de rosas de surpresa num dia em que não haja nada de especial pode apagar muitas mágoas. Igualmente, aquele jantar bem preparado, com amor e atenção nos detalhes é capaz de afogar, em abundância de bem, muitos males do passado. Vale a pena, vale a pena!