“Eu sempre eduquei todos os meus filhos de forma
igual, por que motivo com esse deu certo e aquele?...”. Alguém já ouviu um pai
ou uma mãe fazer esse desabafo? Ou mesmo na escola, sempre se observam
diferenças de aproveitamento nos alunos. Alguns aprendem com maior facilidade,
outros com menos, outros ainda, apresentam níveis de rendimento escolar
baixíssimos. Os pais, os professores e os educadores em geral costumam colocar
a culpa exclusivamente nos filhos, ou nos alunos. Com efeito – pensam – se a
educação é proporcionada de maneira igual para todos, quando uns aprendem e
outros não a culpa somente pode estar em quem não aprende. Mas estará correto
esse raciocínio?
Esteve recentemente em Campinas o Dr. Jose Maria
Barnils, Presidente da Associação Europeia de Educação Diferenciada (European Association for Single Sex
Education EASSE) que veio ao Brasil para dar uma palestra no Seminário de
Educação Personalizada e Diferenciada que aconteceu no dia 23 de outubro, no
Rio de Janeiro. Trata-se de uma pessoa serena, com visão ampla e profunda do
ser humano.
Com uma voz tranquila e demonstrando muita competência
no que faz, o Dr. Barnils esclareceu a importância da educação personalizada.
Para ele, a educação tem como premissa fundamental manter o foco na unidade da
pessoa, consciente de que cada ser humano é único e irrepetível. Nesse sentido,
personalizar a educação significa tratar de forma distinta cada filho, cada aluno,
exatamente porque eles são diferentes entre si.
Quando o pai ou a mãe se questionam onde estaria o
erro, pois educaram do mesmo modo todos os filhos, é de se considerar que
talvez o equívoco esteja exatamente aí, ou seja, em tratarem da mesma forma
pessoas que são diferentes. É necessário que conheçam os filhos de verdade.
Cada um nasce com determinadas características e, a partir delas, vão
interagindo com o mundo, nisso formando a sua personalidade. São, portanto,
inúmeros os fatores que determinam o nosso modo de ser, inclusive a nossa
própria vontade, quando atingimos a idade da razão. E os pais devem buscar
compreender, tanto quanto lhes for possível, como é cada filho. Esse
conhecimento se obtém estudando os fatores que intervêm na formação da
personalidade, mas sobretudo, observando-os atentamente durante o seu desenvolvimento.
Com esse estudo e essa observação é que a mãe
conseguirá descobrir, por exemplo, que a melhor oportunidade de dar um conselho
para uma filha pode surgir enquanto lavam a louça juntas e, para o filho
adolescente, por outro lado, será uma conversa, olho no olho, com o pai em uma
lanchonete.
Algo de semelhante deve ocorrer na escola. Diz-se que
no novo milênio o que há de maior valor é o conhecimento. Nesse contexto, o
professor não pode se limitar a preparar brilhantes apresentações de powerpoint e exibi-las magnificamente
diante dos alunos. É muito bom que as aulas sejam bem preparadas e que seja
dinâmica a exposição. Muito mais que isso, porém, deve se esperar deles. Há de conhecer
cada aluno, suas peculiaridades, personalidade, contexto familiar etc.
É bem verdade que, dependendo do número de alunos, em
especial a partir do chamado ensino fundamental II, o professor de cada
disciplina não conseguirá desenvolver, durante um ano letivo, esse nível de
afinidade com todos os alunos. Exatamente por isso é chegado o momento de as
escolas desenvolverem um trabalho de tutoria. Cada tutor, que não é
necessariamente professor de turma, tem a missão de acompanhar a formação
integral de determinado número de alunos. Para tanto, realiza um elo de ligação
entre família e colégio. Isso é especialmente importante nos dias de hoje, em
que a influência dos pais na formação dos filhos tem sido cada vez menor.
Nossos filhos e nossos alunos têm o direito de serem
tratados como pessoas únicas, e não como um simples tijolos a mais no muro da
sociedade. Do contrário, poderiam com toda razão se levantarem e fazerem eco
contra nós ao som do Pink Floyd: We don't need no education...
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