segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Educação personalizada

“Eu sempre eduquei todos os meus filhos de forma igual, por que motivo com esse deu certo e aquele?...”. Alguém já ouviu um pai ou uma mãe fazer esse desabafo? Ou mesmo na escola, sempre se observam diferenças de aproveitamento nos alunos. Alguns aprendem com maior facilidade, outros com menos, outros ainda, apresentam níveis de rendimento escolar baixíssimos. Os pais, os professores e os educadores em geral costumam colocar a culpa exclusivamente nos filhos, ou nos alunos. Com efeito – pensam – se a educação é proporcionada de maneira igual para todos, quando uns aprendem e outros não a culpa somente pode estar em quem não aprende. Mas estará correto esse raciocínio?
Esteve recentemente em Campinas o Dr. Jose Maria Barnils, Presidente da Associação Europeia de Educação Diferenciada (European Association for Single Sex Education EASSE) que veio ao Brasil para dar uma palestra no Seminário de Educação Personalizada e Diferenciada que aconteceu no dia 23 de outubro, no Rio de Janeiro. Trata-se de uma pessoa serena, com visão ampla e profunda do ser humano.
Com uma voz tranquila e demonstrando muita competência no que faz, o Dr. Barnils esclareceu a importância da educação personalizada. Para ele, a educação tem como premissa fundamental manter o foco na unidade da pessoa, consciente de que cada ser humano é único e irrepetível. Nesse sentido, personalizar a educação significa tratar de forma distinta cada filho, cada aluno, exatamente porque eles são diferentes entre si.
Quando o pai ou a mãe se questionam onde estaria o erro, pois educaram do mesmo modo todos os filhos, é de se considerar que talvez o equívoco esteja exatamente aí, ou seja, em tratarem da mesma forma pessoas que são diferentes. É necessário que conheçam os filhos de verdade. Cada um nasce com determinadas características e, a partir delas, vão interagindo com o mundo, nisso formando a sua personalidade. São, portanto, inúmeros os fatores que determinam o nosso modo de ser, inclusive a nossa própria vontade, quando atingimos a idade da razão. E os pais devem buscar compreender, tanto quanto lhes for possível, como é cada filho. Esse conhecimento se obtém estudando os fatores que intervêm na formação da personalidade, mas sobretudo, observando-os atentamente durante o seu desenvolvimento.
Com esse estudo e essa observação é que a mãe conseguirá descobrir, por exemplo, que a melhor oportunidade de dar um conselho para uma filha pode surgir enquanto lavam a louça juntas e, para o filho adolescente, por outro lado, será uma conversa, olho no olho, com o pai em uma lanchonete.
Algo de semelhante deve ocorrer na escola. Diz-se que no novo milênio o que há de maior valor é o conhecimento. Nesse contexto, o professor não pode se limitar a preparar brilhantes apresentações de powerpoint e exibi-las magnificamente diante dos alunos. É muito bom que as aulas sejam bem preparadas e que seja dinâmica a exposição. Muito mais que isso, porém, deve se esperar deles. Há de conhecer cada aluno, suas peculiaridades, personalidade, contexto familiar etc.
É bem verdade que, dependendo do número de alunos, em especial a partir do chamado ensino fundamental II, o professor de cada disciplina não conseguirá desenvolver, durante um ano letivo, esse nível de afinidade com todos os alunos. Exatamente por isso é chegado o momento de as escolas desenvolverem um trabalho de tutoria. Cada tutor, que não é necessariamente professor de turma, tem a missão de acompanhar a formação integral de determinado número de alunos. Para tanto, realiza um elo de ligação entre família e colégio. Isso é especialmente importante nos dias de hoje, em que a influência dos pais na formação dos filhos tem sido cada vez menor.

Nossos filhos e nossos alunos têm o direito de serem tratados como pessoas únicas, e não como um simples tijolos a mais no muro da sociedade. Do contrário, poderiam com toda razão se levantarem e fazerem eco contra nós ao som do Pink Floyd: We don't need no education...

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