Um estudo realizado pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia
(Decomtec) da Fiesp revelou os prejuízos econômicos e sociais que a corrupção
causa ao País. Segundo dados de 2008, a pesquisa aponta que o custo médio anual
da corrupção no Brasil representa de 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto
(PIB), ou seja, gira em torno de R$ R$ 41,5 bilhões a R$ 69,1 bilhões. Ao nos
depararmos com esses dados, talvez fique no cidadão comum uma sensação de
impotência. Com efeito, o que poderemos fazer para reverter essa situação?
Há várias formas e meios para se combater a corrupção, que vão desde o
combate à impunidade até mudanças estruturais nas instituições. Mas penso que a
ação mais eficaz e, além disso, ao alcance de todos, é a formação das virtudes,
especialmente nos nossos filhos e alunos.
Uma delas, que podemos forjar nas crianças desde muito cedo é a justiça.
Podemos fazê-los ver que antes de ser algo a ser implementado no seio da
sociedade, a justiça é algo que deve brotar no interior de cada ser humano.
Pode ser definida, nesse sentido, como uma vontade firme e constante de dar a
cada um o que lhe é devido.
Quando o funcionário de um departamento de compras de uma empresa exige
uma “gorjetazinha” para adquirir os produtos desse ou daquele fornecedor – e é
necessário ressaltar que a corrupção não é um fenômeno exclusivo do setor
público – está, acima de tudo, faltando com a fidelidade a um compromisso
assumido. E isso, além de prejudicar a instituição para a qual trabalha, causa
um mal a si próprio, na medida em que viola a lei ética que todos temos gravada
em nossos corações, ainda que muitas pessoas se empenhem em apagá-la de suas
mentes.
Para viver a justiça nas inúmeras incidências de nossa vida cotidiana
exige-se uma fortaleza que, por vezes,
aproxima-se do heroísmo. Com efeito, não é muito difícil dar a cada um o que é
seu nas situações corriqueiras, como avisar uma pessoa que nos devolve um troco
maior do que teríamos direito, ou mesmo quando simplesmente pagamos as nossas
contas em dia. Mas é questão de justiça, também, honrar até o fim os
compromissos que livremente escolhemos, como, por exemplo, aquele juramento de
fidelidade e doação que fizemos por toda a vida para a nossa esposa ou marido.
Esse empenho por renovar a sociedade, renovando primeiro as pessoas por
dentro, implica também saber ir contra a corrente de consumismo e busca do
prazer desenfreado e a qualquer custo. Isso é uma causa direta de corrupção,
começando pelos valores. Com efeito, se o modelo de felicidade que estamos
construindo exige uma casa luxuosa, carro do ano e viagens caríssimas, em breve
se concluirá que isso tem um custo econômico, cuja fonte deve ser suprida por
meios lícitos ou... ilícitos. Cabe-nos, portanto, saber ensinar os nossos
filhos a viver com sobriedade. Ainda que possuam brinquedos e muitos bens,
precisamos fazê-los ver que a sua realização não está só nisso.
É um grande desafio fazer com que nossos filhos saibam encontrar em todas
as circunstâncias o seu verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o
atingir. Que aprendam, desde muito cedo, que os fins não justificam os meios,
de modo que para fins bons, devem escolher meios justos, corretos, pautados
pela ética.
A corrupção é um tema complexo e não comporta análise simplista. Mas antes
de se tornar um fenômeno social, está ela nas ações humanas livremente tomadas
diante de situações concretas. Por isso, a nossa maior missão é formar homens e
mulheres de verdade, fortes o bastante para refutarem quaisquer propostas de
obterem, por meios ilícitos, o dinheiro fácil, e também ser suficientemente valentes
para, em cada situação, dar a cada um o que lhe é devido. Mais ainda, que deem
não apenas o que por obrigação legal devem fazer, mas que saibam se exceder na
justiça a ponto de se doarem aos demais. É bem verdade que essa opção generosa
não seria detectável numa pesquisa de campo. Mas isso não importa. Afinal,
tampouco cabem nos gráficos a alegria de servir ou a paz que repousa sobre o
sono dos justos.
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