segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ser pai hoje

Ontem foi dia dos pais. Boa oportunidade para meditarmos no que é ser pai em nosso tempo. Nossos filhos dominam o mundo da informática com uma facilidade impressionante. Ficamos atônitos com a rapidez com que aprendem a lidar com um novo celular, iPod Touch, iPad etc. E, se os deixarmos, passam horas se relacionando com várias pessoas ao mesmo tempo na internet. Tudo é novidade para nós, de tal modo que ficamos com a impressão de não conseguir acompanhar tão intensas e bruscas mudanças.
Mas o mais impressionante nisso tudo talvez sejam os novos valores que se cultuam no mundo virtual. Num chat de relacionamento vale mudar o nome, o sexo, a idade e até a própria identidade para fingir ser o que não é. Será que a revolução da informática está a exigir uma nova ética a orientar o comportamento humano totalmente diferente do que conhecíamos até então?
Ser pai, hoje como sempre, implica muitos desafios. A nossa dificuldade, porém, está no ritmo frenético que as coisas mudam e acontecem. É que, ao vermo-nos incapazes de acompanhar tais transformações corremos o risco de ficar alheios às vidas dos nossos filhos, sentindo-nos impotentes para lhes transmitir os valores que aprendemos. Pior ainda, duvidando mesmo que tais valores resistirão a tudo isso.
Penso que agora, mais que nunca, nós, pais, devemos aprender e ensinar o que é essencial e o que é acidental no ser humano. Ao vermos como mudam a forma de comunicação, os meios de transporte, os recursos da medicina, dentre outros, corremos o risco de pensar que tudo é mutável, num mundo em constante evolução, mas esquecermos que há algo de imutável no homem, na mulher, na família e na sociedade.
Aquele bebê que um dia contemplamos emocionados na maternidade não é uma espécie de computador totalmente desprovido de sistema operacional a ser “autoformatado”. Traz gravado na alma um forte anseio de amor, de justiça, de vida. Quer viver num lar. Nasce com o direito de ter um pai e uma mãe que o amem e que se amem, com isso demonstrando que foi concebido e veio ao mundo como fruto desse amor puro e nobre, terno e sincero de um homem por uma mulher que se doaram um ao outro incondicionalmente.
Não temos o direito de chegar a casa, ao final de um dia, por mais estressante que tenha sido, e nos esparramarmos no sofá, totalmente alheios ao que se passa com nossos filhos. Também não podemos carregar o ambiente com uma nuvem cinzenta de mau humor e cara amarrada. Nem muito menos distribuir frases azedas que no fundo são consequência do próprio egoísmo que nos leva a pensar somente em nós mesmos, em nossos problemas, esquecendo que não há alegria verdadeira sem sacrifício pelos demais, especialmente por nossos filhos.
Conheço um pai que, preocupado em dar uma boa formação aos filhos, percebeu que somente conseguiria isso se estivesse alegre e de bom humor. Fez, então, o propósito de depositar, simbolicamente, todos os problemas numa pequena árvore que tinha na porta de entrada da casa, para somente pegá-los no dia seguinte e, assim, estar todo atento à esposa e aos filhos. Além disso, antes de entrar, esboçava um sorriso diante do retrovisor do carro. Após isso se sentia preparado para aquele que seria o trabalho mais importante do seu dia. Acredito que em propósitos bem simples e concretos como esse se encerra o segredo do sucesso na paternidade em nosso tempo.

Ser pai hoje é estar “estar por dentro do que rola no mundo da informática”. “Tipo assim, sabe?” é entender de Twitter, msn, blog, YouTube, mas ver em tudo isso mecanismos a serviço do ser humano. É saber que hoje, como há dois mil anos atrás, o homem e a mulher são essencialmente seres que buscam a felicidade e que essa brota num coração de carne. Não é vendida em pen-drive nem se pode fazer um download dela. Ao contrário, conquistam-na numa vida bem vivida por amor ao próximo. E isso, hoje como sempre, nossos filhos têm direito a aprender de nós, pais.

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