O triste
episódio do goleiro de futebol tem despertado a atenção de todo o País.
Confesso que não sinto nenhum atrativo por notícias policiais. Talvez porque,
acostumado a ver os fatos do lado de dentro do Poder Judiciário, sempre tenho
muitas dúvidas da veracidade das notícias trazidas pela imprensa no calor dos
acontecimentos. Mas há um aspecto da questão que penso merecer nossa
consideração. Refiro-me à degradação moral muito comum em atletas e outros
profissionais (cantores, p.ex.) que se vêem em pouco tempo e sem muito esforço
diante da fama e de muito dinheiro.
“O problema é
que ganham muito dinheiro sem esforço”, ousam alguns a diagnosticar a causa de
escândalos dessa natureza. Mas e o dinheiro “difícil”, suado, angariado em uma
vida inteira de trabalho e esforço pode vir a ser, também, um problema?
Dinheiro não
é problema, é a solução, dizem. Mas como e em que medida? O mundo está recheado
de exemplos de pessoas que gastaram uma vida toda para construir uma empresa,
uma grande corporação ou formar um patrimônio invejável e, ao cabo de muitos
anos, transformaram-se em pessoas interiormente vazias, insatisfeitas. E,
externamente, com famílias destruídas, relacionamentos conjugais desfeitos e, não
raras vezes, despedem-se deste mundo com o desgosto de ver os filhos brigando
pela herança que deixarão. Afinal, qual é a importância que deve ter em nossas
vidas os bens materiais?
Para a imensa
maioria das pessoas o dinheiro é algo imprescindível. Um bem a que é legítimo
aspirar e buscar. Porém, é necessário que saibamos enxergá-lo como um meio e
não como um fim. E um meio que se deteriora se o utilizamos para fins egoístas.
Penso que
ninguém é capaz de fazer bom uso do dinheiro se dissociá-lo do sentido de
missão que marca a vida de todos nós. Não estamos neste mundo por acaso. Não
somos um acidente biológico, nem seres lançados numa existência sem sentido
como uma pedra atirada ao mar. Todos temos responsabilidades perante nossa
família e a sociedade e, em última análise, ante a humanidade toda.
Nesse
sentido, os bens materiais são meios para desempenharmos essa missão. Algo que
nos é confiado para que administremos. E, tendo muito ou pouco – na verdade a
quantidade é o que menos importa – temos de utilizá-los para o bem daqueles que
nos cercam.
Recentemente
ouvi uma entrevista de uma pedagoga num programa de rádio em que ela,
sabiamente, aconselhava aos alunos a administrar o dinheiro. Dizia ela que eles
devem aprender a ganhar, poupar, gastar e DOAR! Sim, doar faz parte da
administração das finanças pessoais.
É fundamental
que os pais saibam dar esse sentido do dinheiro aos filhos desde muito cedo. A
mesada que se dá a partir de certa idade deve ser “curta”, pois mais do que
para atender necessidades, serve para ensinar a administrar o dinheiro, pois
devem perceber que custa ganhá-lo. Porém, mais importante ainda, ensinemo-los a
usá-lo pelo bem dos demais, com generosidade, nunca pensando apenas nos
próprios interesses.
Façamo-los
ver que não podemos ficar insensíveis à sorte de muitas crianças que buscam no
semáforo o parco alimento de cada dia, nem à de inúmeras famílias que vivem em
condições muito abaixo do mínimo necessário para uma existência digna. Mais
ainda, façamo-los ver que esses desafortunados anseiam mais que uns centavos ou
uma cesta básica, um pouco de atenção, do amor que transborda de um olhar
atento.
A
raiz do problema não é o dinheiro fácil ou difícil, mas a forma como o
utilizamos. Pensemos no que gostaríamos de ter ao nos despedirmos deste mundo.
Como seria ter uma família que em breve sofrerá muito, pois perderá algo muito
precioso, mas que permanece unida pelo trabalho de alguém que se desgastou por
ela? Como seria ter muitos amigos sentindo-se como se lhe arrancassem um
pedaço, gratos pelo que se fez por eles? Como seria deixar o mundo um pouco
melhor, pelo muito que trabalhamos por esse ideal? Mas isso, meu caro amigo e
minha cara amiga, não há dinheiro que compre.
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