segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dinheiro fácil

O triste episódio do goleiro de futebol tem despertado a atenção de todo o País. Confesso que não sinto nenhum atrativo por notícias policiais. Talvez porque, acostumado a ver os fatos do lado de dentro do Poder Judiciário, sempre tenho muitas dúvidas da veracidade das notícias trazidas pela imprensa no calor dos acontecimentos. Mas há um aspecto da questão que penso merecer nossa consideração. Refiro-me à degradação moral muito comum em atletas e outros profissionais (cantores, p.ex.) que se vêem em pouco tempo e sem muito esforço diante da fama e de muito dinheiro.
“O problema é que ganham muito dinheiro sem esforço”, ousam alguns a diagnosticar a causa de escândalos dessa natureza. Mas e o dinheiro “difícil”, suado, angariado em uma vida inteira de trabalho e esforço pode vir a ser, também, um problema?
Dinheiro não é problema, é a solução, dizem. Mas como e em que medida? O mundo está recheado de exemplos de pessoas que gastaram uma vida toda para construir uma empresa, uma grande corporação ou formar um patrimônio invejável e, ao cabo de muitos anos, transformaram-se em pessoas interiormente vazias, insatisfeitas. E, externamente, com famílias destruídas, relacionamentos conjugais desfeitos e, não raras vezes, despedem-se deste mundo com o desgosto de ver os filhos brigando pela herança que deixarão. Afinal, qual é a importância que deve ter em nossas vidas os bens materiais?
Para a imensa maioria das pessoas o dinheiro é algo imprescindível. Um bem a que é legítimo aspirar e buscar. Porém, é necessário que saibamos enxergá-lo como um meio e não como um fim. E um meio que se deteriora se o utilizamos para fins egoístas.
Penso que ninguém é capaz de fazer bom uso do dinheiro se dissociá-lo do sentido de missão que marca a vida de todos nós. Não estamos neste mundo por acaso. Não somos um acidente biológico, nem seres lançados numa existência sem sentido como uma pedra atirada ao mar. Todos temos responsabilidades perante nossa família e a sociedade e, em última análise, ante a humanidade toda.
Nesse sentido, os bens materiais são meios para desempenharmos essa missão. Algo que nos é confiado para que administremos. E, tendo muito ou pouco – na verdade a quantidade é o que menos importa – temos de utilizá-los para o bem daqueles que nos cercam.
Recentemente ouvi uma entrevista de uma pedagoga num programa de rádio em que ela, sabiamente, aconselhava aos alunos a administrar o dinheiro. Dizia ela que eles devem aprender a ganhar, poupar, gastar e DOAR! Sim, doar faz parte da administração das finanças pessoais.
É fundamental que os pais saibam dar esse sentido do dinheiro aos filhos desde muito cedo. A mesada que se dá a partir de certa idade deve ser “curta”, pois mais do que para atender necessidades, serve para ensinar a administrar o dinheiro, pois devem perceber que custa ganhá-lo. Porém, mais importante ainda, ensinemo-los a usá-lo pelo bem dos demais, com generosidade, nunca pensando apenas nos próprios interesses.
Façamo-los ver que não podemos ficar insensíveis à sorte de muitas crianças que buscam no semáforo o parco alimento de cada dia, nem à de inúmeras famílias que vivem em condições muito abaixo do mínimo necessário para uma existência digna. Mais ainda, façamo-los ver que esses desafortunados anseiam mais que uns centavos ou uma cesta básica, um pouco de atenção, do amor que transborda de um olhar atento.
A raiz do problema não é o dinheiro fácil ou difícil, mas a forma como o utilizamos. Pensemos no que gostaríamos de ter ao nos despedirmos deste mundo. Como seria ter uma família que em breve sofrerá muito, pois perderá algo muito precioso, mas que permanece unida pelo trabalho de alguém que se desgastou por ela? Como seria ter muitos amigos sentindo-se como se lhe arrancassem um pedaço, gratos pelo que se fez por eles? Como seria deixar o mundo um pouco melhor, pelo muito que trabalhamos por esse ideal? Mas isso, meu caro amigo e minha cara amiga, não há dinheiro que compre.

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