Um professor do ensino médio me relatou um fato que lhe
ocorreu. Dois de seus alunos assistiam a um vídeo no Youtube. A imagem e a voz
eram de um adolescente, que falava com um forte tom afeminado. Os rapazes davam
gargalhadas, de modo que o professor se aproximou para ouvir. Porém, não havia nada
de divertido na fala, riam simplesmente dos trejeitos de quem falava. Disse-lhes,
então: “isso que vocês estão fazendo é um desrespeito com essa pessoa.
Desculpem-me, mas não acho a menor graça”. Um deles tentou consertar: “eu não
tenho preconceito. Acho que se a pessoa quer ser homossexual é um problema
dela, e não há nada de errado nisso”. E, sem pensar no que dizia, depois
completou: “Mas acho muito engraçado o jeito que eles falam”.
O que disse esse jovem deve ser meditado um pouco mais a
fundo. Será que o simples fato de se divertir do jeito diferente do outro não é
uma forma cruel de preconceito? Por outro lado, ter um conceito negativo ou
positivo sobre algo implica necessariamente ter preconceito com quem é ou pensa
de forma diversa? Mais explicitamente, ter a convicção de que o homossexualismo
não é algo intrinsecamente bom significa, inexoravelmente, ter preconceito
contra o homossexual?
O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, de Francisco da
Silveira Bueno (Rio de Janeiro: FENAME, 1982), dá uma definição interessante de
preconceito: “conceito antecipado e sem fundamento razoável; opinião formada
sem reflexão (...)”.
Taxar de engraçado o jeito de falar, ou mesmo debochar da
pessoa pelas costas denotam uma falta de consideração, uma opinião pejorativa
sem qualquer fundamento. É, portanto, um preconceito.
Por outro lado, é possível que se tenha uma convicção muito
bem ponderada e refletida sobre o homossexualismo, sem que isso possa ser tido
como preconceito. Pode ocorrer, por exemplo, que alguém tenha ponderado a fundo
sobre o tema e, após uma criteriosa análise, concluiu que é da essência da
união conjugal a diversidade dos sexos. Pode-se estar convicto de que é
necessária a diferença para que homem e mulher se complementem exatamente naquilo que o outro não possui e,
a partir disso, conclua que o homossexualismo é algo intrinsecamente contrário
à natureza humana.
Nesse caso, ao manifestar sua opinião não se pode dizer que
tenha um preconceito contra o homossexual. Ao contrário, tem um conceito sobre
o homossexualismo, com um fundamento razoável, fruto de criteriosa reflexão. E
essa opinião é digna de respeito, como também o é a opinião contrária.
Ao se formar esse conceito, porém, não se autoriza qualquer
atitude discriminatória, e tanto menos faltar com o respeito com quem faz tal
opção ou simplesmente tenha opinião contrária. Tanto menos se justifica
qualquer atitude discriminatória em relação ao homossexual.
Certa vez, um palestrante, que possuía essa mesma opinião
sobre o homossexualismo, foi interpelado por um ouvinte que disse: “eu penso
mais ou menos como o senhor, mas tenho uma filha que é homossexual e vive com
outra mulher. O que devo fazer?”. O palestrante fitou-lhe nos olhos e disse
simplesmente: “Já disse tudo o que penso sobre o homossexualismo. E agora te
digo que, se isso acontecesse comigo, essa filha seria a que mais teria o meu
carinho. Por certo ela já sofre muito, principalmente pela discriminação. Não
diria jamais a ela que a opção que fez é boa. Também não acredito que ela
encontrará, por esse caminho, a sua plena realização enquanto pessoa. Mas a respeito
e, como pai, a amaria sempre e incondicionalmente”.
E depois concluiu: “não ter preconceito não significa chamar
o erro de acerto ou o preto de branco. Nem muito menos transigir com a verdade
em que se acredita. Significa tratar a todos com imenso respeito, fruto de um
amor desinteressado, que não vê nos outros brancos, negros, pobres, ricos ou
seja o lá o que for, mas simplesmente pessoas e, como tais, dignas de serem
amadas e respeitadas sem qualquer condição, e sem esperar nada em troca”.
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