Uma
pesquisa nacional sobre bullying -
agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas -, realizada pelo Centro
de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA) para a
organização não-governamental (ONG) Plan Brasil, mostrou que a maior parte do
problema (21% dos casos) ocorre nas salas de aula, mesmo com os professores
presentes. O estudo aponta ainda o despreparo das instituições de ensino e dos
professores, segundo Gisella Lorenzi, coordenadora da pesquisa (Fonte: O Estado
de S. Paulo). Problemas dessa magnitude não comportam análises simplistas nem
tampouco possuem soluções mágicas. Feita essa ressalva, penso que há dois aspectos
relevantes a serem considerados pelos educadores.
O
primeiro aspecto toca nas raízes da violência que é a falta de amor ao próximo.
Curiosamente, essa carência decorre, muitas vezes, de uma baixa autoestima. É
que para querer o bem do outro é necessário aceitar-se e gostar de si mesmo. O
amor próprio bem ordenado não tem nada que ver com egoísmo ou narcisismo. Por
exemplo, um jovem que reconhece que é alguém que possui uma imensa dignidade,
que é verdadeiramente importante, conseguirá enxergar no colega uma pessoa
igualmente digna do mesmo amor e respeito.
A
baixa autoestima é muitas vezes causada, ou ao menos agravada, pelo
comportamento dos pais. É que no afã de que os filhos sejam melhores, muitas
vezes fazem-lhes constantes exigências sem se preocupar em elogiar. Além disso,
pai e mãe, vivendo várias horas do dia sob a tensão do trabalho, fazem um
esforço enorme para manterem o humor e a postura no ambiente profissional.
Quando chegam a casa, porém, julgam-se no direito de querer “relaxar” e não
hesitam nada em descarregar toda a raiva contida durante o dia no primeiro que
causar uma contrariedade, em especial nos filhos.
É,
portanto, fundamental que o educador saiba elevar a autoestima do aluno. Isso
não é uma tarefa fácil. Muitos desses estudantes vivem em condições de pobreza
material e afetiva, em lares desfeitos e trazem na alma a amargura da falta de
amor entre aqueles que o geraram. Além disso, o professor não conseguirá jamais
suprir a função dos pais. Mesmo assim, há muito que se possa fazer: saber ouvir
com os olhos; aproximar-se com atenção quando se mostrarem tristes ou deprimidos;
chamar para um passeio durante o intervalo e buscar compartilhar com atenção os
seus problemas. Enfim, em algum lugar esses jovens terão de perceber que há
quem se interessa de verdade por eles.
Mas
também o professor precisa de amparo. E não adianta esperar isso do Estado. As
próprias instituições de ensino devem se estruturar para dar esse apoio
psicológico e mesmo afetivo aos educadores. Eles necessitam de alguém com quem
possam compartilhar seus problemas e dificuldades, sejam aquelas trazidas pelos
alunos sejam as da própria vida pessoal.
Mas
essa atitude do educador não basta. Com ela ou sem ela haverá os que se
obstinam em agredir os demais. E então é imprescindível a justa punição. Esse é
o segundo aspecto da questão.
Ao
se falar em punição, porém, temos de considerar que o mau exemplo da impunidade
que reina em nosso País dificulta imensamente a tarefa do educador. Apesar
disso, é necessário que as escolas, e também muito especialmente os pais,
estejam bem estruturados para punir na medida certa os que se empenham em
faltar com o respeito ao próximo. E que fique bem claro que isso não tem nada
de incompatível com os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente, por
mais que se pense e se diga o contrário.
Essas
medidas propostas não precisam ser separadas ou isoladas. Ou seja, primeiro fomentar
um ambiente de acolhida e de buscar valorizar a autoestima para depois, acaso
nada disso funcione, aplicar uma punição exemplar. Ambas devem andar juntas. O
ponto de equilíbrio do bom educador é saber harmonizar a rudeza do braço do pai
com a delicadeza da mão da mãe.
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