segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor conjugal: uma visão feminina

Há pouco, num curso de orientação familiar, ouvi o relato do drama vivido pela mulher, que não se refere a uma pessoa em concreto, mas é como que a síntese do que sentem muitas esposas de nosso tempo. Vale a pena transcrevê-lo:
“É curioso como a vida vai situando cada qual em diferentes lugares. Às vezes, penso que se eu pudesse voltar aos meus 25 anos, com a experiência que tenho agora, como faria as coisas de modo diferente! Vejo o que aconteceu, eu que comecei como esposa e dona de casa ‘certinha’, sou agora uma executiva de um banco.
“No entanto, tenho a impressão de não estar controlando a minha própria vida. Os sentimentos parecem que vão num sentido e a cabeça noutro... Trata-se de uma sensação estranha. Até a minha consciência está perturbada. Às vezes nem sei o que é bom..., é tudo tão relativo...
“A verdade é que o meu trabalho me apaixona. O ambiente é mais jovial e meus colegas de trabalho são encantadores. Em especial, o Artur me faz sentir diferente. Outro dia, almoçamos os dois sozinhos, voltei a experimentar sentimentos que pensava ter esquecido. É uma pessoa ótima e creio que me compreende; ele também passou por crises matrimoniais antes de se separar. Além disso, creio que lhe agrado... pelo menos me diz sempre coisas agradáveis”.
É o relato de como se sente uma mulher cujo casamento está verdadeiramente em perigo. Nessa situação, provavelmente não faltariam hoje em dia maus conselhos que a empurrassem para uma aventura extraconjugal, como se o Artur não fosse se transformar, em bem pouco tempo, mais indiferente que o esposo dela. Mas não é essa abordagem que pretendemos fazer. O desilusão na vida conjugal nunca é obra do acaso ou da má sorte, mas fruto das opções que fizeram o marido e a mulher nas mais diversas situações de suas vidas. Mas hoje queremos nos ocupar do que cabe ao homem fazer para manter um relacionamento cada vez mais feliz.
A mulher tem necessidade de nos contar as coisas e precisa que as escutemos com atenção. Mais que isso, que nos interessemos por aquilo lhe preocupa. Acontece que a cabeça de nós, homens, funciona como uma espécie de máquina de solucionar problemas. Assim, se nos conta algum incidente que ocorreu com ela no supermercado, no trabalho ou no trânsito, imediatamente começamos a processar aquelas informações para lhe dar alguma solução. No entanto, a mulher não quer soluções nem conselhos dados com ares de superioridade, até porque no mais das vezes ela já tem a solução. O que quer é simplesmente que a ouçamos com atenção, que saibamos olhar nos olhos e procurar saber como se sente.
A mulher gosta e lhe faz bem ter relação íntima com o esposo. No entanto, para ela o ato sexual é o ponto culminante de todo um contexto de cuidado, atenção e delicadeza. Por isso, ela se irrita muito, e com razão, que nos mostremos carinhosos apenas minutos antes e, pior ainda, com o afã de partir o quanto antes para “o finalmente”. O sexo há de ser, nesse sentido, como que o cume de uma doação integral e não pura satisfação de uma necessidade fisiológica.
Lembro-me das palavras de um treinador de futebol, muito simples, mas muito apaixonado pelo esporte. Quando a situação do time era crítica, ou era necessário avançar com valentia para vencer o adversário, após dar as mesmas instruções de sempre, dizia: “agora é cada um colocar o coração na ponta da chuteira e partir para o ataque”. E depois disso não se via no campo alguns pés com um coração “adocicado”, mas valentes guerreiros determinados a vencer, custe o que custasse.

Penso que é assim que elas esperam que nos portemos. Não querem apenas um órgão e em poucos momentos, mas que nos doemos a elas de corpo e alma, virilmente determinados a conquistá-las a cada dia, a cada minuto, por toda uma vida. Não sejamos tolos. No fim desse “jogo”, e enquanto jogamos também, teremos uma alegria imensa e uma paz verdadeira, muito mais intensas e fortes que um efêmero grito de gol. 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bullying

Uma pesquisa nacional sobre bullying - agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas -, realizada pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA) para a organização não-governamental (ONG) Plan Brasil, mostrou que a maior parte do problema (21% dos casos) ocorre nas salas de aula, mesmo com os professores presentes. O estudo aponta ainda o despreparo das instituições de ensino e dos professores, segundo Gisella Lorenzi, coordenadora da pesquisa (Fonte: O Estado de S. Paulo). Problemas dessa magnitude não comportam análises simplistas nem tampouco possuem soluções mágicas. Feita essa ressalva, penso que há dois aspectos relevantes a serem considerados pelos educadores.
O primeiro aspecto toca nas raízes da violência que é a falta de amor ao próximo. Curiosamente, essa carência decorre, muitas vezes, de uma baixa autoestima. É que para querer o bem do outro é necessário aceitar-se e gostar de si mesmo. O amor próprio bem ordenado não tem nada que ver com egoísmo ou narcisismo. Por exemplo, um jovem que reconhece que é alguém que possui uma imensa dignidade, que é verdadeiramente importante, conseguirá enxergar no colega uma pessoa igualmente digna do mesmo amor e respeito.
A baixa autoestima é muitas vezes causada, ou ao menos agravada, pelo comportamento dos pais. É que no afã de que os filhos sejam melhores, muitas vezes fazem-lhes constantes exigências sem se preocupar em elogiar. Além disso, pai e mãe, vivendo várias horas do dia sob a tensão do trabalho, fazem um esforço enorme para manterem o humor e a postura no ambiente profissional. Quando chegam a casa, porém, julgam-se no direito de querer “relaxar” e não hesitam nada em descarregar toda a raiva contida durante o dia no primeiro que causar uma contrariedade, em especial nos filhos.
É, portanto, fundamental que o educador saiba elevar a autoestima do aluno. Isso não é uma tarefa fácil. Muitos desses estudantes vivem em condições de pobreza material e afetiva, em lares desfeitos e trazem na alma a amargura da falta de amor entre aqueles que o geraram. Além disso, o professor não conseguirá jamais suprir a função dos pais. Mesmo assim, há muito que se possa fazer: saber ouvir com os olhos; aproximar-se com atenção quando se mostrarem tristes ou deprimidos; chamar para um passeio durante o intervalo e buscar compartilhar com atenção os seus problemas. Enfim, em algum lugar esses jovens terão de perceber que há quem se interessa de verdade por eles.
Mas também o professor precisa de amparo. E não adianta esperar isso do Estado. As próprias instituições de ensino devem se estruturar para dar esse apoio psicológico e mesmo afetivo aos educadores. Eles necessitam de alguém com quem possam compartilhar seus problemas e dificuldades, sejam aquelas trazidas pelos alunos sejam as da própria vida pessoal.
Mas essa atitude do educador não basta. Com ela ou sem ela haverá os que se obstinam em agredir os demais. E então é imprescindível a justa punição. Esse é o segundo aspecto da questão.
Ao se falar em punição, porém, temos de considerar que o mau exemplo da impunidade que reina em nosso País dificulta imensamente a tarefa do educador. Apesar disso, é necessário que as escolas, e também muito especialmente os pais, estejam bem estruturados para punir na medida certa os que se empenham em faltar com o respeito ao próximo. E que fique bem claro que isso não tem nada de incompatível com os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente, por mais que se pense e se diga o contrário.

Essas medidas propostas não precisam ser separadas ou isoladas. Ou seja, primeiro fomentar um ambiente de acolhida e de buscar valorizar a autoestima para depois, acaso nada disso funcione, aplicar uma punição exemplar. Ambas devem andar juntas. O ponto de equilíbrio do bom educador é saber harmonizar a rudeza do braço do pai com a delicadeza da mão da mãe.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sexting, Big Brother e,... intimidade

Na edição da última quarta-feira, dia 7, o Correio Popular trouxe uma interessante matéria sobre a exposição sexual de jovens na internet. Nela foi divulgado o resultado de uma pesquisa que aponta que 11% dos estudantes entrevistados, entre 5 e 18 anos, já fez o chamado sexting. Qual seria o motivo desse fenômeno? O que os pais e os professores podem fazer para evitar as amargas consequências que essa prática lhes pode causar?
Penso que devemos entender o que está por trás, ou melhor, no âmago do problema. E para isso, há dois aspectos da questão que precisam ser analisados: a intimidade e a sexualidade na vida do ser humano.
A intimidade é um direito natural, mas, também, uma necessidade humana. Analisemos, apenas por alguns instantes, por onde anda o nosso pensamento quando o deixamos correr solto. E depois imagine o que aconteceria se os falássemos em voz alta, ou se os escrevêssemos para divulgar o seu conteúdo. Alguns deles seriam perfeitamente “publicáveis”, a divulgação de outros tantos, porém, seria uma catástrofe.
Mas a intimidade não se limita à nossa imaginação, memória e pensamentos, mas se estende também a algumas de nossas ações. Muito do que acontece em nosso lar, no convívio entre marido e mulher e também com os filhos, temos o direito que não sejam conhecidos fora do ambiente familiar.
No entanto, apesar de o direito à intimidade ser radicalmente importante para o ser humano, a curiosidade desordenada muitas vezes age como uma traça, ávida por violar esse direito. A curiosidade em si não é ruim. Sinal claro disso é que o progresso da ciência, em geral, é movido pela saudável curiosidade de se desbravar o desconhecido.
Há, porém, uma curiosidade ruim, que almeja conhecer aquilo a que não temos o direito de conhecer. Nisso se insere muito especialmente a consciência das pessoas. É certo que muitas vezes se faz necessário adentrar nesse sacrário que é a intimidade de cada ser humano para ajudar, como o faz, por exemplo, o psicólogo. Mas há uma curiosidade nefasta que busca violar a intimidade apenas para se divertir com as misérias alheias e, pior ainda, para ter matéria interessante para a fofoca e para a maledicência.
E o pior é que a mídia tem dado força a esse vício que trazemos dentro de nós. O que é o Big Brother se não uma forma de dar asas a essa curiosidade perniciosa que nos move a querer adentrar na intimidade alheia? E o fato de ter o consentimento dos brothers não muda muito as coisas. Afinal, quando mantemos solta essa curiosidade diante da telinha, ela fica muito bem treinada para querer bisbilhotar a vida dos que não são famosos e nem querem ter suas vidas escancaradas de boca em boca.
O outro aspecto a considerar é o da sexualidade. O homem e a mulher não se resumem à dimensão física. Muito mais que isso, possuem também as dimensões racional, emocional, social e transcendente. E quando se busca no sexo apenas a satisfação de uma necessidade fisiológica, tende-se a, de certa forma, desumanizar a pessoa, frustrando-a.
Cada ser humano é alguém que sente prazer, sem dúvida, mas, também, que pensa, que ama, que se relaciona com os demais, em suma, que tem sentimentos. É, portanto, extremamente frustrante para qualquer homem ou mulher expor-se como um produto de supermercado virtual. E a razão é óbvia, pois se expõe apenas a dimensão física, quando na verdade somos muito mais que isso. E esse muito mais, que completa e faz plena a nossa dignidade, não é possível de exposição em portal algum.

Portanto, não basta dizer a nossos filhos e alunos que não exponham sua intimidade a quem não merece, ou que se decidam manter relações sexuais somente dentro de um contexto que lhes promova a dignidade. Muito mais importante é lhes dar razões suficientemente fortes. Mas para isso, caros pais e nobres professores, temos de dar bons exemplos. Sendo assim, como valorizamos a nossa própria intimidade? E, mais ainda, em que contexto se insere em nossas vidas a sexualidade?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pedofilia na Igreja

Há poucos dias uma leitora me solicitou que escrevesse algo sobre a “pedofilia dentro da Igreja Católica”. Confesso que pedido me causou perplexidade e, num primeiro momento, não me senti em condições de enfrentar o assunto. Porém, na manhã da última sexta-feira, ocorreu-me algo sobre o tema que penso valer a pena compartilhar com o leitor.
Estava de viagem em minha cidade natal, a querida Tabapuã, por ocasião do feriado da Semana Santa. Trata-se de um pequeno município situado próximo a São José do Rio Preto. Enquanto fazia um descontraído passeio, notei que na Igreja Matriz havia um movimento anormal e invadiu-me um forte desejo de entrar e reviver os doces acontecimentos da minha infância.
Os devotos entoavam cantos, súplicas e orações. Enquanto os observava, desenhava-se diante de mim o presente e o passado numa sensação agradável e melancólica, feliz e saudosa. E eis que o pedido daquela leitora veio como que a interromper tudo isso e o pensamento tomou outro rumo: “pedofilia dentro da Igreja? Que tem isso que ver com esse momento que agora vivo?”, indaguei-me intrigado.
O primeiro sacerdote a que me remeteu esse pensamento foi o Padre Antolin. Era um homem que de fala afável, com seu forte sotaque espanhol, estava sempre sorridente e era muito amigo das famílias. “Decididamente, esse santo homem nem de longe se sujou nesses pecados que agora atribuem a alguns de seus colegas”, pensei comigo mesmo.
Depois me lembrei do Padre Ladislau. Um polonês extremamente enérgico com os adultos e muito amigo das crianças. Sua casa vivia repleta de meninos e meninas que viam nela um lar acolhedor. Quantas horas passamos jogando futebol em seu quintal! E como eram enriquecedoras as suas aulas de teatro e belos os quadros que pintava! E que puro era aquele homem! Ninguém, nem de longe, por mais turvos e podres que fossem os olhos, poderia fazer contra ele a menor acusação das imundícies que hoje a imprensa se delicia em atribuir a alguns sacerdotes.
E depois desse vôo da memória, volto-me ao presente. Ao lado esquerdo da igreja, elevavam-se os cantos dos fiéis. À direita, uma fila enorme aguardava o momento da confissão. Num canto bem discreto o sacerdote os atendia, um a um. Por certo ele ficaria ali por horas e horas até atender a todos. O mais interessante é que as pessoas se dirigiam até o padre abatidas e curvadas e de lá saiam renovadas e radiantes, como crianças que haviam ganho um brinquedo, ou como adultos que haviam achado um grande tesouro!
Mas que tem isso que ver com pedofilia? E então passam e se desenhar diante de mim muitos, muitos sacerdotes que conheço. As horas que eles passam no confessionário, os conselhos cheios de sabedoria que me deram, a pureza e austeridade que guardam e vivem...
Nós, cristãos, não vivemos de estatísticas. Afinal, Aquele que nos guia já nos prometeu um dia que seremos como as areias do mar ou como as estrelas do céu. Não dá, portanto, para contar quantos são os fiéis e quantos os infiéis, quantos são os Pedro, João, Tiago, Filipe, Mateus... e quantos são os Judas. Seria 0,1% os pedófilos? Um em cada doze? Duvido. Mas, como disse, não somos nós que nos perdemos em estatísticas, até porque o Espírito Santo age muito rápido e eficaz nas almas e não dá para colocá-las num gráfico. Então, os caluniadores e aqueles que gostam de se deliciar com as más notícias que façam as estatísticas. Mas sejam sinceros, ao menos uma vez em suas vidas, e nos digam quantos são os sacerdotes que se mantêm fiéis e quantos são os que se pervertem nessa lama e nela se obstinam em ficar.
Nós, cristãos, não nos importunaremos nada com isso. Volto-me agora para o que dizem os fiéis da e neles encontro uma magnífica atitude a ser seguida: “Oremos pelos sacerdotes. Dai-lhes uma fé firme e inabalável como rocha que os leve a viver com fidelidade seus compromissos com Deus e com a Igreja. Dai-lhes uma caridade ardente, que os faça realmente doar a vida pelos irmãos”.

A todos uma Feliz Páscoa!