Certa vez ouvi de um especialista em relacionamento
conjugal dizer que uma grande causa de desavenças no casamento decorre das
expectativa que o homem e a mulher trazem para a vida matrimonial. E dizia: “o
homem, quando se casa, acha que a mulher não vai mudar; e ela, ao contrário,
acredita que vai conseguir mudar o marido”. Ou seja, ele pensa que o corpo dela
vai permanecer sempre firme e com aquelas silhuetas tão atraentes; ela, espera
que com o tempo ele se torne mais afetuoso e atencioso, que saiba dar mais
importância para estar com ela que para o futebol com os amigos.
Temos então um ingrediente perfeito para uma crise
conjugal, exatamente como conseqüência da frustração dessas expectativas. Mas
essa situação pode ser evitada se cada um mudar o foco. Ou seja, olhar menos
para o que espera do outro e mais para o que se pode ser e fazer pelo outro. E
para isso é de extrema importância considerar os papéis que, por natureza, o
homem e a mulher são chamados a desempenhar.
O homem tem como que um instinto, se é que se pode
chamar assim, de proteção. Desde criança isso se pode notar nas brincadeiras
que mais lhe apetece como o guerreiro, o cavaleiro ou mocinho sempre pronto a
lutar contra alguém para proteger seja lá o que for, inclusive o planeta de um
possível ataque alienígena. É bem verdade que essa missão de lutador fica muito
patente nos esportes, onde no fundo quer vencer para que seja admirado e
querido, em especial por elas, quando já se atinge a adolescência. A mulher
sente prazer em cuidar. De certo modo as brincadeiras de boneca e de casinha
refletiam isso de forma palpável.
O homem gosta de ser cuidado e a mulher de ser
protegida. Mas então por que não dão certo muitos relacionamentos? Muitas vezes
porque se esquecem desse dado mais elementar. Talvez como uma espécie de
rebelião contra a situação de inferioridade e discriminação por que passou e
ainda passa mulher, vive-se a todo tempo tentando convencê-la de uma
auto-suficiência que é irreal, como tampouco ele é auto-suficiente, de modo que
se busca abafar qualquer adjetivo que a possa qualificar como frágil e, por
esse motivo, carente de proteção. Verdadeiramente de fraca ela não tem nada, ao
contrário, é muito mais forte em muitíssimos aspectos. Aliás, não há expressão
maior de fortaleza do que cuidar. E não há fraqueza em querer proteção. É fraco
o policial que usa o colete a prova de balas, ou o motociclista que usa
capacete?
Mas esses conceitos de cuidado e proteção devem ser
aprofundados com o passar do tempo. O homem se sente cuidado quando ela se
mantém bem arrumada, organiza com bom gosto as coisas da casa e, muito
especialmente, quando se mostra receptiva para uma relação íntima. E ela também
se sente protegida quando ele o abraça com freqüência, mostra-lhe carinho e
apreço, que a elogia especialmente diante dos filhos. Mas isso, embora muito
importante, é como que uma primeira camada do amor conjugal. No fundo, mas sem
deixar de desempenhar os papéis que lhes são próprios, está a benevolência, a
doação desinteressada pelo outro. Para se atingir esse nível de maturidade, que
trará a verdadeira felicidade, deve haver a disposição de se sacrificar pela
felicidade do outro. Paradoxalmente, é somente então que se encontra a própria
felicidade no casamento.
Um dia desses vi um casal de velhinhos passeando
juntos por uma praça. Repentinamente veio contra eles uma bola chutada por uns
garotos. Ele, instintivamente, adiantou-se para proteger a esposa de uma
possível bolada. Passado o perigo, ao retomarem a caminhada, ela se pôs a ajeitar-lhe
a gola da camisa, que para os exigentes olhos femininos não estaria bem
cuidada. Cuidar e proteger: eis diante de nossos olhos a receita comprovada de
um casamento duradouro e feliz.
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