segunda-feira, 29 de março de 2010

A autoridade dos pais

Recentemente, li um artigo sobre a importância dos limites na educação que merece ser reproduzido e meditado pelos pais e educadores. Transcrevo o texto:
Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros de nossos progenitores. E com o esforço de abolir os abusos do passado, somos os pais mais dedicados e compreensivos, mas,  por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história.
O grave é que estamos lidando com crianças mais "espertas", ousadas, agressivas e poderosas do que nunca.
Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ter, passamos de um extremo ao outro. Assim, somos a última geração de filhos que  obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos...
Os últimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos. Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos. E o que é pior, os últimos que respeitamos nossos pais e os primeiros que aceitamos (às vezes sem escolha...) que nossos filhos nos faltem com o respeito.
Na medida em que o permissível substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudaram de forma radical, para o bem e para o mal. Com efeito, antes se consideravam bons pais aqueles cujos filhos se comportavam bem, obedeciam a suas ordens e os tratavam com o devido respeito. E bons filhos, as crianças que eram formais e veneravam seus pais.
Mas, à medida que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram se desvanecendo, hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeitem. E são os filhos quem, agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem as suas idéias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver. E, além disso, os patrocinem no que necessitarem para tal fim.
Quer dizer; os papéis se inverteram, e agora são os pais quem tem que agradar a seus filhos para ganhá-los e não o inverso, como no passado. Isto explica o esforço que fazem hoje tantos pais e mães para serem os melhores amigos e "dar tudo" a seus filhos. Dizem que os extremos se atraem.
Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo ao nos ver tão  débeis e perdidos como eles.
Os filhos precisam perceber que, durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter, e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão. Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca.
Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente liderando-os e não atrás, carregando-os, e rendidos à sua vontade.
É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no descontrole e tédio no  qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino. Os limites abrigam o indivíduo. Com amor ilimitado e profundo respeito. (Monica Monastério, Publicado no Portal da Família em 28/01/2008 –http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo633.shtml).
É impressionante notar como os dois extremos, tão bem abordados pela autora, são ruins na educação. Nas gerações passadas e desde há muito se impunha a autoridade dos pais simplesmente por serem pais. No entanto, a autoridade nunca deve existir por si só, ao contrário, só se legitima se é exercida para o bem daqueles que lhe estão sujeitos.

Mas se o mau uso da autoridade com os filhos é ruim, tanto pior o é deixar de exercê-la. Nesse caso, os filhos ficam desorientados e sem um sentido para suas vidas. Certa vez uma moça de quinze anos, cujos pais não lhe impunham qualquer limite, foi indagada pela psicóloga que a atendia o motivo pelo qual mentia às amigas, dizendo que a mãe não havia permitido que fosse a uma festa. E ela respondeu simplesmente: “é que se eu não fizer isso, minhas amigas pensarão que meus pais não me amam”.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Deus e a tecnologia

Lembro-me de uma frase de um professor do então colegial que foi suficiente para abalar a fé, ao menos de um imaturo aluno do ensino médio. Dizia ele: “Deus é uma fuga. O cientista aprofunda na busca do conhecimento até que, quando chega ao seu limite e não consegue explicar algum fenômeno, diz simplesmente que isso ou aquilo é assim porque Deus quis”. Mas será mesmo que a fé e a ciência são coisas incompatíveis e inconciliáveis? Pior ainda, é a fé um entrave para a ciência e a ciência um obstáculo para a propagação da fé religiosa?
A frase, ao menos numa análise superficial, é sedutora. Com efeito, explicar que o mundo, as pessoas e o Universo são como são porque Deus quis pode justificar uma postura desleixada do cientista. Mas pode também, se encarada de outra forma, ser um estímulo para o próprio progresso da ciência. É que, quanto mais se descobrem as perfeições do universo e dos seres criados, tanto mais se ressalta a perfeição de quem os criou. E então o bom cientista busca cada vez mais aprimorar os conhecimentos para o bem da humanidade, sem perder a perspectiva de que, quanto mais avança, mais se desenha e se faz evidente a sabedoria do Criador.
Isso nos remete, porém, para outra indagação: haverá limites éticos nessa corrida pelo conhecimento? É evidente que sim. E o limite está, essencialmente, na dignidade da pessoa humana. Não contribuem para fazer uma humanidade melhor os inventores das bombas químicas e de outros equipamentos de destruição em massa, como igualmente não promove a dignidade humana as pesquisas e a manipulação das células embrionárias humanas. E a razão disso é muito simples. É que a vida humana é um valor absoluto, perene e universal, de modo que não é verdadeira ciência a que é feita para destruí-la, ainda que com o falso pretexto de salvar outras vidas.
A dicotomia entre a fé e a ciência talvez assuma modernamente uma tensão mais dramática na postura com que as pessoas em geral encaram as adversidades e a doença. Os avanços tecnológicos são sensíveis em toda parte. Maravilhamo-nos com eles no setor de transportes, nas telecomunicações e especialmente na medicina. Com isso, muitas pessoas passam a confiar na tecnologia como o único recurso para a sua cura e também para as livrarem de toda sorte de dor e sofrimento. Mas também aqui a contradição entre Deus e a ciência é apenas aparente, embora muito se insista, em minha opinião de má-fé, em sustentar o contrário.
É fantástico que a medicina tenha evoluído e a tecnologia muito contribua não apenas para salvar milhares de vida, mas também para permitir que se viva com dignidade por mais tempo. Contudo, a tecnologia não conseguirá jamais eliminar o sofrimento das pessoas nem impedir o que é absolutamente inevitável: a morte. Qual seria, então, o equilíbrio?

Penso que o vice-presidente da República, José de Alencar, nos deu uma lição fantástica que merece ser meditada. Evidentemente que ele foi tratado de sua doença com o que há de mais moderno na medicina, e ansiamos pelo momento em que isso esteja disponível a todo cidadão brasileiro. Mas depois de se valer de todos esses recursos tecnológicos, disse ele de si para si em voz alta, para que todos nós pudéssemos aprender do seu exemplo de fé bem vivida: “Se Deus quiser me levar, Ele não precisa de câncer. Se Ele não quiser que eu vá, não há câncer que me leve”. Alguém já imaginou alguma quimioterapia mais maravilhosa para curar as doenças da alma?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Cuidado e proteção

Certa vez ouvi de um especialista em relacionamento conjugal dizer que uma grande causa de desavenças no casamento decorre das expectativa que o homem e a mulher trazem para a vida matrimonial. E dizia: “o homem, quando se casa, acha que a mulher não vai mudar; e ela, ao contrário, acredita que vai conseguir mudar o marido”. Ou seja, ele pensa que o corpo dela vai permanecer sempre firme e com aquelas silhuetas tão atraentes; ela, espera que com o tempo ele se torne mais afetuoso e atencioso, que saiba dar mais importância para estar com ela que para o futebol com os amigos.
Temos então um ingrediente perfeito para uma crise conjugal, exatamente como conseqüência da frustração dessas expectativas. Mas essa situação pode ser evitada se cada um mudar o foco. Ou seja, olhar menos para o que espera do outro e mais para o que se pode ser e fazer pelo outro. E para isso é de extrema importância considerar os papéis que, por natureza, o homem e a mulher são chamados a desempenhar.
O homem tem como que um instinto, se é que se pode chamar assim, de proteção. Desde criança isso se pode notar nas brincadeiras que mais lhe apetece como o guerreiro, o cavaleiro ou mocinho sempre pronto a lutar contra alguém para proteger seja lá o que for, inclusive o planeta de um possível ataque alienígena. É bem verdade que essa missão de lutador fica muito patente nos esportes, onde no fundo quer vencer para que seja admirado e querido, em especial por elas, quando já se atinge a adolescência. A mulher sente prazer em cuidar. De certo modo as brincadeiras de boneca e de casinha refletiam isso de forma palpável.
O homem gosta de ser cuidado e a mulher de ser protegida. Mas então por que não dão certo muitos relacionamentos? Muitas vezes porque se esquecem desse dado mais elementar. Talvez como uma espécie de rebelião contra a situação de inferioridade e discriminação por que passou e ainda passa mulher, vive-se a todo tempo tentando convencê-la de uma auto-suficiência que é irreal, como tampouco ele é auto-suficiente, de modo que se busca abafar qualquer adjetivo que a possa qualificar como frágil e, por esse motivo, carente de proteção. Verdadeiramente de fraca ela não tem nada, ao contrário, é muito mais forte em muitíssimos aspectos. Aliás, não há expressão maior de fortaleza do que cuidar. E não há fraqueza em querer proteção. É fraco o policial que usa o colete a prova de balas, ou o motociclista que usa capacete?
Mas esses conceitos de cuidado e proteção devem ser aprofundados com o passar do tempo. O homem se sente cuidado quando ela se mantém bem arrumada, organiza com bom gosto as coisas da casa e, muito especialmente, quando se mostra receptiva para uma relação íntima. E ela também se sente protegida quando ele o abraça com freqüência, mostra-lhe carinho e apreço, que a elogia especialmente diante dos filhos. Mas isso, embora muito importante, é como que uma primeira camada do amor conjugal. No fundo, mas sem deixar de desempenhar os papéis que lhes são próprios, está a benevolência, a doação desinteressada pelo outro. Para se atingir esse nível de maturidade, que trará a verdadeira felicidade, deve haver a disposição de se sacrificar pela felicidade do outro. Paradoxalmente, é somente então que se encontra a própria felicidade no casamento.

Um dia desses vi um casal de velhinhos passeando juntos por uma praça. Repentinamente veio contra eles uma bola chutada por uns garotos. Ele, instintivamente, adiantou-se para proteger a esposa de uma possível bolada. Passado o perigo, ao retomarem a caminhada, ela se pôs a ajeitar-lhe a gola da camisa, que para os exigentes olhos femininos não estaria bem cuidada. Cuidar e proteger: eis diante de nossos olhos a receita comprovada de um casamento duradouro e feliz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Estado forte

O Presidente Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, têm defendido a consolidação de um Estado forte. Não pretendemos, neste espaço, manifestar opção por qualquer corrente político-ideológica, mas penso que essa questão necessita ser bem debatida pela sociedade. Com efeito, o que se entende por esse Estado forte? Qual será o seu perfil? E, mais ainda, qual é o nível de ingerência que esse modelo pretende ter nas entidades civis, nas famílias e nas consciências dos cidadãos?
Um Estado-forte será uma entidade assistencialista que tem de manter uma carga tributária sufocante para sustentar bolsa disso, bolsa daquilo, cestas básicas etc.? Com efeito, através de diversos programas, o Governo concede rendas extras que soam como presentes de uma espécie de paizão. No entanto, esse modelo assistencialista fomenta a ociosidade e a dependência de parcelas significativas da população, gerando um círculo vicioso difícil de ser rompido.
Lembro-me de que há anos atrás, quando eu ainda era um estudante de direito, ouvia com gosto o então candidato a Presidente, que naquela oportunidade saiu derrotado, pregar com a emotividade e força de convencimento que lhe é própria, que gostaria que todo trabalhador tivesse o direito de comer o seu bife acebolado. No entanto, pensei que ele estivesse a pregar que esse trabalhador pudesse comprar o bife com o fruto de seu trabalho, e não que esse lhe fosse doado pelo Governo. E a diferença é substancial. Quando o homem tem uma remuneração justa, promove-se a sua dignidade, pois o seu salário lhe é creditado a título de justiça. Quando, ao contrário, vive à base de cestas básicas, no fundo se mina a auto-estima e a própria dignidade do ser humano, ainda que ele próprio concorde com isso.
Em outro aspecto da questão, notamos hoje em dia um fervilhar de iniciativas de pessoas que se unem para promover o bem do próximo desinteressadamente. São comunidades espíritas que se dedicam a cuidar de crianças carentes, entidades evangélicas que mantêm escolas, creches, hospitais, ou ainda associações católicas que promovem a reinserção social de moradores de rua. Um Estado forte viria a promover essas entidades ou elas não seriam mais necessárias?
Penso que o Estado não deve se intrometer em todas as atividades em que há outros capazes de fazer, em todos e quaisquer campos. Mais ainda, é melhor que o Estado incentive e proteja tais iniciativas, fomentando o surgimento de novas, a partir da liberdade e responsabilidade das pessoas e da capacidade de associação e organização destas para promover o bem comum. E como a célula básica e fundamental da sociedade é a família, só tem legitimidade um Estado que proteja a família.
Até que ponto esse Estado forte se julgará no direito de ingerir nas associações e noutras instituições privadas, nas famílias e, em última análise, nas consciências das pessoas? Poderá exigir de uma entidade que cuida de pacientes portadores do vírus HIV que distribua preservativos, ainda que isso seja contrário à convicção de seus membros e àquilo que prega e ensina? Poderá exigir que um hospital privado, ainda que subvencionado por recursos públicos, faça o aborto naquelas situações em que a lei não considera crime? Poderá exigir de uma escola privada católica, evangélica ou islamita que distribua cartilhas editadas com verbas públicas e que, a pretexto prevenir doenças, façam verdadeira apologia ao sexo sem qualquer responsabilidade?

Penso que mais que debater sobre o tamanho do Estado, devemos nos ocupar sobre o que deverá ou não deverá fazer o Leviatã. E, de mais a mais, não há maior demonstração de força do que servir, com profundo respeito à dignidade da pessoa humana e à liberdade das consciências.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Um novo feminismo

Recentemente a mídia noticiou que a campanha da cerveja Devassa Bem Loura, do Grupo Schincariol, estrelada pela socialite Paris Hilton, acabou na mira do Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (Conar), depois de o órgão ter recebido denúncias. Um dos processos foi movido pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, que considerou o conteúdo do site “sexista” e desrespeitoso à mulher.
Quando analisamos a situação da mulher na sociedade, e que foi o fator desencadeante do movimento feminista, vemo-la num passado não muito longínquo na condição de inferioridade jurídica e de fato em relação ao homem. Até 1.932 elas não tinham direito ao voto. O Código Civil de 1.916 a tratava como relativamente incapaz, ou seja, dependente do marido para a prática de qualquer ato da vida civil.
Muito se evoluiu e a mulher desfruta hoje de uma verdadeira igualdade jurídica. Em nosso País elas ocupam cargos importantes tanto na iniciativa privada quanto na Administração Pública, e o fazem com muita competência.
Na prática, porém, a implementação dessa igualdade jurídica pode ensejar distorções que vêm em detrimento da própria mulher. É que muitas vezes se ignora que ela é essencialmente diferente do homem. Não é que seja superior nem inferior, mas diferente. E a verdadeira igualdade jurídica deve considerar essa natural diversidade.
São muitos os aspectos que marcam essa diversidade, mas podemos tomar um, apenas a título de ilustração. O homem tem uma tendência natural de proteção à mulher. Ela, ainda que não admita ou não se dê conta disso, gosta de ser protegida. Por sua vez, a mulher tem uma forte vocação de cuidar. Tanto que é ela, no mais das vezes, quem passa as noites ao lado do filho doente. Diante disso, ainda que em pleno século XXI, não há nada de machista em pensar que o marido deve proteger a esposa. Pouco importa que ela seja a presidente de uma importante instituição e ele um simples funcionário de uma repartição. Na relação conjugal, ela quer ser protegida e ele necessita de exercer o papel de protetor. Isso não é colocá-la em situação de inferioridade, nem de superioridade, mas de diferença e que exatamente por isso se complementam.
Outra diferença marcante está no próprio relacionamento sexual. Em regra o homem se prepara para o ato sem maiores rodeios, ao passo que a mulher, também salvo exceções, precisa de uma preparação maior, de se criar um clima propício etc. Nesse contexto, esses comerciais que colocam mulheres insinuantes e prontas para serem “consumidas” com a mesma facilidade e prontidão que o produto anunciado, no fundo, colocam-na na degradante condição de mero objeto de um prazer machista.
Também a moda, no mais das vezes criada por homens, forçam-na a exercer esse mesmo papel. Com efeito, as roupas provocantes e que estimulam a sensualidade nada mais são do que uma espécie de escravidão: “ou eu sou atraente – para os homens – ou não sou mulher de verdade”, dizem-na a todo tempo, ainda que subliminarmente.  Mas estará a mulher de nosso tempo verdadeiramente satisfeita com essa condição a que foi reduzida?

Temos de levantar a bandeira de um novo feminismo que promova a dignidade da mulher. Que reconheça que ocupa um papel importantíssimo na condução da sociedade, inclusive naquele em que será sempre insubstituível: a maternidade. Que não tenha receio de dizer que a mulher gosta de ser protegida, mas, sobretudo, que diga bem claramente que não é nem nunca foi um mero objeto de consumo. Ao contrário, na relação com o homem precisa ser amada de verdade. E o amor não se esvai ao sabor de uma cerveja, mas edifica-se tanto mais quanto mais a ele se entrega a cada dia incondicionalmente.