Há poucos meses uma reportagem divulgada no Folhateen relata que é cada vez mais freqüente pais e filhos fumarem
maconha juntos. Afora a aberração que é o uso de entorpecente em si, isso
revela uma tendência dos pais e das mães de nosso tempo de se colocarem no nível
dos filhos, portando-se como verdadeiros adolescentes, pensando que com isso
conquistarão a confiança e a amizade deles. Mas será que os filhos esperam isso
dos pais?
Talvez nos ajude a responder a essa indagação se considerarmos como são
nossas expectativas em relação a um profissional que nos presta um serviço.
Quando procuramos um médico, por exemplo, almejamos dele algo que não temos,
que é o conhecimento técnico necessário para a cura de uma doença. E a relação que
se estabelece entre médico e paciente não é de absoluta igualdade. Ao
contrário, o médico possui autoridade para propor o tratamento adequado a que o
paciente deve se submeter, ou procurar outro profissional, acaso não atinja um
grau suficiente de confiança.
E algo de semelhante ocorre em outras profissões: advogado, engenheiro
etc. Espera-se que tenha um conhecimento de seu ofício capaz de desempenhá-lo
com eficiência e competência. E imagino que um cliente não teria suficiente
confiança num advogado que o atendesse em seu escritório com uma camiseta
surrada, jeans rasgado, tênis sujo, mascando chiclete e se expressando por meio
de gírias vulgares.
Ser pai e ser mãe é muito mais que uma profissão, mas os filhos têm direito
a que essa missão seja exercida com muito mais profissionalismo, eficiência e
competência que qualquer ofício.
Nossos filhos têm direito de ter um pai e uma mãe de verdade, que se
ocupem da educação deles. Não precisam de mais um amiguinho ou uma amiguinha. Pais
que saibam exercer a autoridade no momento e na medida certa. Que respeitem a
liberdade e a intimidade dos filhos. Que não sejam autoritários nem que vivam
impondo restrições aos filhos apenas na medida em que violem a comodidade e o
sossego dos pais. Mas que, sobretudo, sejam fortes o suficiente para dizer não,
quando o bem deles o exigir e, mais ainda, que sejam valentes para sustentar
suas decisões bem pensadas até o final.
Isso não quer dizer que os pais não possam ser amigos dos filhos, no
sentido de que eles se sintam à vontade para lhes abrir a intimidade, revelando
seus sonhos e frustrações. Seria muito bom que o pai e a mãe conseguissem
contar com a total confiança dos filhos. No entanto, essa amizade há de se
estabelecer sem que o pai deixe de ser pai, nem o filho de ser genuinamente
filho.
Não se trata, também, de restabelecer uma relação autoritária entre pais
e filhos. O pai e a mãe sábios percebem que a melhor ordem é um simples “por
favor”, dito com tal delicadeza e com elegante firmeza que se fazem obedecer. E
conseguem esse resultado porque o fazem por amor, não por vaidade, comodismo ou
qualquer outro motivo que não o verdadeiro bem dos filhos.
Penso que o melhor exemplo de como deve ser a relação entre pais e filhos
seja a de um guia que nos conduz numa escalada por caminhos tortuosos e
desconhecidos. O guia será aquele que já percorreu o caminho muitas vezes.
Portanto, sabe quais são os perigos, o momento de avançar e de retroceder, o de
ousar e o de se precaver. E se for um bom guia, estará sempre atento aos passos
de quem conduz. Essa é a missão dos pais. Sabem respeitar a liberdade dos
filhos e, por conseqüência, deixar que caminhem com os próprios pés. Porém,
sabem também que têm a missão de os guiar nos caminhos dessa vida até que sejam
suficientemente maduros e, portanto, que saibam guiarem a si próprios. Mais
ainda, que um dia sejam eles também pais e mães a guiarem eficazmente seus filhos,
nesse ininterrupto e maravilhoso ciclo da vida.