Nesta noite serão homenageadas as iniciativas que foram destaques deste
ano na área de inclusão social com o Prêmio Cidadão RAC-CPFL. Como jurado, tive
a grata satisfação de analisar cada um dos projetos. As ações são muito diversas
e variadas, mas em todas elas se pode vislumbrar uma motivação e um objetivo de
certa forma comum. Mas qual seria essa força motriz? E o que buscam esses
abnegados idealistas que despendem trabalho, esforço, tempo e dedicação em
favor do próximo?
Todas as maravilhosas iniciativas de inclusão social que afloram em nossa
sociedade têm, em sua origem, um olhar delicadamente atento às necessidades dos
outros.
Esse olhar atento, no mais das vezes fruto de um amor exigente, pode se
manifestar “desorganizadamente” de muitas formas. Uma das recordações mais gratas
que tenho de um colega de faculdade foi quando atravessávamos uma rua do centro
de São Paulo. Apesar do intenso movimento, ele soube ver no meio daquela
multidão apressada uma velhinha que mal conseguia caminhar sozinha. O meu amigo
voltou, deu a mão a ela, que então prosseguiu segura e contente, após esse gesto
de inolvidável cortesia.
Muitas vezes, porém, esse olhar atento, movido pela inteligência, pode
levar a se fazer o bem organizadamente, reunindo esforços, pois unidos podemos
fazer mais e melhor. E então é que surgem essas iniciativas. Com elas se busca,
por exemplo, fortalecer a família das pessoas em recuperação da dependência das
drogas, amparar as pessoas que viveram nas ruas, trabalhar para fortalecer as
demais entidades, formar lideranças juvenis, promover a integração dos
portadores de deficiências, doar bens materiais para pessoas carentes ou ainda
reunir jovens para visitar as crianças da favela. Enfim, onde há necessidades
humanas, há um campo fértil de trabalho.
Esse trabalho, em que pese ser voluntário e não remunerado, não deve ser
menos sério nem contar com menos comprometimento que o que temos com o trabalho
profissional remunerado. Há que ser feito com competência, eficiência, planejamento,
estabelecer metas e agir com profissionalismo. Também há que se cuidar para que
as instalações sejam muito dignas e acolhedoras.
Mas tudo isso não basta. Certa vez, visitei uma entidade que cuida de
enfermos. O trabalho é muito sério e eles são muito bem atendidos. Um dos
dirigentes me mostrava orgulhoso a beleza das instalações e o magnífico
trabalho que realizavam. Apesar disso, enquanto passeávamos, um senhor se
aproximou de nós com gesto de que queria conversar um pouco. Porém, imediatamente
o grupo se afastou, como que fugindo, de modo que o pobre homem ficou só. Que
não seja assim! É muito importante que haja cobertor, sala de estar, cadeira
confortável e camas novas e bem arrumadas. Mas muito mais importante é que se
sintam acolhidos e amados por quem os atende.
Quando nos lançamos em promover instituições que se dedicam ao bem do
próximo, não podemos nos esquecer que as pessoas anseiam a cura de um vício, a
recolocação no mercado de trabalho ou melhorar as condições materiais de vida.
Mas muito mais buscam um sentido para as suas vidas. E isso somente se lhes é
transmitido quando percebem em gestos pequenos, mas bem concretos que o que nos
move é o amor por eles. E esse amor se manifesta não apenas no que lhes damos,
mas, sobretudo, que lhes damos nós próprios, com o nosso sorriso, com a nossa
acolhida, com o nosso sincero afeto.
A essas instituições que hoje recebem o merecido prêmio, àquelas que não
foram contempladas, mas nem por isso põem menos amor no que fazem, e também
àquelas que ainda trabalham no silencioso anonimato de quem não tem outras
miras que o bem do próximo, o nosso mais sincero parabéns e muito obrigado!