Nestes últimos dias do ano, a palavra que mais aparece nas mensagens de
Natal é a paz: “Feliz Natal e um Ano Novo repleto de paz e realizações”, “que a
paz do Natal inunde cada um de seus dias no próximo ano” etc. Mas para que esse
anseio se concretize em nossas vidas, o que é necessário? Como encontrar a tão
sonhada paz?
Antes de buscarmos a paz, temos de encontrar o seu verdadeiro sentido. A
paz não é a ausência de guerra, nem tampouco depende ela de não se ter
problemas. Costuma-se dizer que as nações estão em paz quando uma não está em
atacando a outra e respeitando a sua soberania. No entanto, muitas vezes essa
aparência de paz está construída sobre a desconfiança e sobre o temor. Cada um
se abstém de agredir o outro não em respeito à dignidade dos semelhantes, mas
receoso dos danos que possam advir do conflito.
E nós, muitas vezes, construímos a paz no trabalho, na família e em
nossas relações sociais sobre bases semelhantes. Por exemplo, quando se está
diante do chefe, simula-se um respeito e uma lealdade a ele, mas se faz de
forma interesseira, de modo obter uma promoção. Entre os colegas, mantém-se um
tratamento externamente respeitoso com o objetivo de ser bem visto pelos demais
e manter a posição. Com isso, pode-se até construir um ambiente de aparente
paz, por não haver conflitos entre as pessoas. Contudo, basta que haja um
interesse econômico em jogo para se jogue tudo isso fora, e então surgem as
famosas “puxadas de tapete” que corroem as instituições.
Na família também pode ocorrer algo de semelhante. Coloca-se uma TV
exclusiva para cada um, pois assim se evitam os conflitos na escolha dos
programas. Cada um com o seu celular, seu computador, sua internet etc. Com
isso, evitam-se muitas brigas, é certo. Porém, não chamem a isso de família. São
pessoas que convivem juntas por mera conveniência, mas cada uma isolada em seu
reduto, imersas no mais cego egoísmo. E não há verdadeira paz nessa casa. Há,
quando muito, mera acomodação de interesses.
A paz exige que busquemos a reconciliação com aqueles com quem, por um
motivo ou por outro, com ou sem razão, tenhamos nos indisposto. E o tempo de
Natal é propício para isso. A proximidade das festas aguça em nossos corações
sentimentos de solidariedade que nos movem a querer reatar as relações rompidas.
E é muito bom que aproveitemos essa oportunidade. Uma vez perguntei a um amigo
como ele se sentia após ter restabelecido a amizade com um irmão com quem há
anos não conversava. A resposta foi simples e sincera: “parece que tirei uma
tonelada das costas. Caminho agora com a serenidade de quem aliviou um peso
imenso que me esmagava”.
Para que reine a paz na sociedade, ela deve reinar antes em nossos corações. E
ela somente terá nele a sua morada se encontrar um ambiente propício. É
fundamental, nesse intuito, que nos demos razões suficientemente fortes para
viver. E não há sentido maior para nossa vida do que doá-la por amor aos que
nos cercam, em especial os nossos familiares e amigos.
E quando vivemos assim, a nossa marca será a alegria. E essa, como ensina
São Tomás de Aquino, nasce do amor. E o amor tem tanta força “que esquecemos a
nossa alegria para alegrar aqueles que amamos”.
Outro dia eu conversava descontraidamente com a minha filha de três anos,
quando resolvi aprofundar um pouquinho num assunto. Fiz-lhe, então, uma
pergunta: “Filha, você é feliz?”. “Sou”, respondeu ela imediatamente. “Por que
você é feliz?”, insisti. “Porque eu te amo muito”, respondeu-me ela. E depois
de alguns segundos, ela continuou, como que descobrindo um motivo ainda mais
forte para a sua felicidade: “E porque a mamãe gosta muito de mim”. Talvez
tenhamos aqui uma possibilidade enorme de buscarmos a paz tão sonhada: imitar a
simplicidade de uma criança bem pequena.
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